Passei a manhã toda procurando emprego na cidade. Não buscava nada específico, não tinham vontade de seguir carreira com nada – por isso ia estudar filosofia -, mas achava que tinha capacidade de trabalhar em uma livraria ou loja de música, não de instrumentos, mas de CDs. Um sebo também seria bom.
Ernesto também estava fazendo um levantamento dos escritórios de da cidade, além de também estar interessado em um emprego em livrarias e lojas do gênero – não achava que conseguiria um estágio logo no primeiro, principalmente por não conhecer ninguém na cidade que pudesse indicá-lo. Foi o que fizemos no fim-de-semana, um dia depois da mudança.
Recolhemos os nomes que seriam nossos alvos no sábado; domingo preparamos um breve currículo. Sem experiência profissional nenhuma, nosso currículo foi mesmo breve. Eu, para não deixar só uma folha de papel com o nome da escola em que cursei o ensino médio, além das informações pessoais básicas, decidi preparar três currículos diferentes. Para as livrarias, escrevi um parágrafo sobre minha experiência com livros e leitura. Para lojas de CDs, escrevi sobre meu conhecimento musical, CDs e discos. Para os sebos, deixei os dois.
De início, Ernesto não quis procurar esses trabalhos, queria tentar um estágio primeiro. Isso impedia que ele elaborasse algo para enrolar, como eu fiz. Realmente seria difícil. Por isso, antes do primeiro dia de aula, ele fez o que todo o bom aluno deveria fazer, foi à biblioteca e deu uma olhada nos corredores com os livros de .
Adaptei-me facilmente à cidade. Era pequena, mas tinha de tudo e tudo era acessível. As lojas ou ficavam no shopping ou no centro da cidade, que parecia dedicado ao comércio. Lá existiam duas livrarias, três lojas de CDs e três sebos. Não eram lojas gigantes, mas eram satisfatórias. Como a internet ainda não havia se desenvolvido a ponto de destruir esses mercados, na época, embora já estivesse sendo previsto algo assim em um futuro próximo, elas ainda eram muito frequentadas e seus tamanhos variavam de acordo com a clientela, logicamente. Fui a cada uma delas pedir emprego, com nada além de meu currículo em mãos. Fiquei o cominho todo planejando um discurso convincente, caso eles estivessem contratando, mas desconfiassem da minha competência, por seja lá qual fosse o motivo.
A primeira livraria – a maior – e as duas lojas de CD, não estavam contratando. A primeira disse que costumava anunciar novas vagas no jornal da cidade, quando necessário. Já as outras diziam que, quando precisavam de mão-de-obra nova, colavam um cartaz – uma folha de papel sulfite, às vezes impressa, às vezes escrita à caneta -, dizendo, “procura-se vendedor” – ou qualquer outro cargo; meu objetivo era ser vendedor. Tentei deixar um currículo nesses lugares, mas todos me respondiam a mesma coisa. Podiam até receber meu papel, se assim eu quisesse e insistisse, mas não significava coisa alguma. Não tinham um arquivo para currículos, só se preocupavam com isso na hora das entrevistas, em época de contratação.
Depois de visitar essas lojas, pensei que seria uma boa ideia ir a um dos sebos. Mas antes parei para almoçar em um restaurante por quilo qualquer. Saí de casa, naquele dia, quase dez da manhã e já passava do meio dia. Os locais que visitei não ficavam tão próximos assim um do outro, estava suando como nunca. Era fim de fevereiro e o dia estava ensolarado e quente. Muito quente. Nem tinha tanta fome assim para precisar de uma pausa para almoço, só queria passar uma hora em um ambiente com ar condicionado.
Havia todo tipo de pessoa naquele restaurante. Grupos de estudantes da universidade, funcionários de banco, empregados das empresas locais, vi um cara na fila com o uniforme da livraria que havia visitado, casais de todas as idades, famílias inteiras, adolescentes saindo do colégio. Aquele restaurante era um breve resumo da vida naquela cidade que, quanto mais eu conhecia, mais eu via que não era tão pequena assim. Não era uma metrópole, mas estava longe de ser uma cidadezinha de interior, dessas com uma população de cães maior que a de pessoas. Era mediana, tinha de tudo, só que em menor quantidade e tamanho. Estava começando a gostar do lugar, mais até que da minha cidade natal, que era consideravelmente menor.
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Inocência
Ficción GeneralEssa história trata justamente sobre seu título. Inocência em seus mais diferentes significados, e as mais diferentes formas de perdê-la ao longo de uma vida. *Isso é um projeto de romance ainda não terminado ou revisado. Qualquer tipo de comentário...