Capítulo Um

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Alicia

"A profecia será lançada. No ano gêmeos, surgirá uma híbrida que confrontará uma praga vinda dos seres sombrios da noite. Na terra que não pode ser vista por olhos humanos, transformando o pó ao seres indefesos para culminar na sombra da ruína."

     Os mutantes como eram conhecidos entre eles e os outros, viviam escondidos dentro de uma escola modernizada, possuindo a mais alta tecnologia de todos os tempos de existência da vida. Eles eram treinados a todo momento para matar, sempre protegendo uns aos outros com lealdade.
     Alicia Guettmann completou seus dezoito anos recentemente, vive sozinha em um pequeno prédio antigo da senhora Lucy e tem seu emprego diário como vendedora numa loja de brinquedos para seu sustento financeiro. Para ela, sua mãe Diana Guettmann morreu de forma misteriosa pois até os dias atuais a jovem garota ainda não sabe o que realmente aconteceu naquela noite. Seu maior desejo era iniciar novas jornadas em lugares distantes em busca de respostas, mas algo a prendia nesta cidade obscura e misteriosa.
Desde pequena Alicia sofria com fortes alucinações raríssimas, algo sobrenatural que nenhum médico, psicólogos e outros profissionais souberam explicar. Quando as mesmas a atacam, sua visão é completamente tampada por uma forte luz, mensagens subliminares entram dentro de seus ouvidos constantemente tentando avisá-la de algo, que ao seu ver, era incompreensivo.

(...)

Narração por Alicia Guettmann:

Desperto com a melhor luz do dia adentrando a cortina e iluminando todo o quarto em que eu dormia. Hoje era o meu dia de folga e descanso do trabalho, não conseguia distinguir se gostava ou detestava já que não havia tanto o que fazer e nem mesmo para onde ir.
     Logo após tomar o café da manhã, me aproximei da enorme janela que na sala e observo que o dia estava fresco e tranquilo para passear na praça.

— Alicia, não irá ao trabalho hoje? O seu aluguel está dois meses atrasado! – Disse a senhora Lucy nada contente. Além de ser dona do prédio, dona Lucy também trabalhava na recepção atendendo os seus hóspedes.

— Hoje estou de folga, senhora Lucy. Mas prometo que logo irei pagar! – Respondo num tom calmo e sereno.

— Eu apenas te perdoo porque gostava muito da sua mãe e, também, você recebe uma merreca para se sustentar. – Rebateu sem papas na língua e concordei.

     Sem dizer mais nada, caminhei em passos lentos até a porta que dava acesso a rua. O dia estava belo e calmo, eu adorava andar por ali e apreciar a beleza desta pequena cidade. Mas, por um momento, sinto uma sensação estranha, um arrepio e fraqueza percorria tomando conta de todo o meu corpo. Eu sabia que eram "elas" dando o sinal que estavam se aproximando. Então, corro depressa e me sento em um banco próximo para não cair e todos me olharem, não demorou muito para eu começar a ficar completamente alucinada.
     Na minha rápida e turva visão, enxerguei pela primeira vez, um homem com suas vestes toda em preto correndo em minha direção. Assustada e confusa, sem saber o que estava acontecendo, me levantei às pressa pois não sabia o que era mas eu tinha que fugir. Lembrava do que a mamãe sempre me dizia: "As trevas está em sua busca, Alicia. Você possui o poder mais forte e vigoroso já existido em toda história de nossa existência, então, tudo o que precisa fazer é fugir delas. Me prometa, minha filha...". Lamento muito, mãe, por mais rápida que eu fosse, não conseguirei escapar delas, pelo menos não dessa vez.
     Dentro de segundos, sinto o meu braço sendo apertado e arrastado por uma mão gélida e macia. O mesmo não me machucava mas o medo das trevas me possuía, me apavorando profundamente. A minha mãe nunca havia me contado sobre os seus segredos obscuros, faleceu me deixando sem explicações e com muitos questionamento. Sendo assim, tudo agora sobrou para mim, a simples garota que não sabe o que está acontecendo em volta dela, que tem um emprego e uma vida normal.

— Quem é você?! – Indago ainda sentindo a tontura me tomando por completo e observo o mesmo que não tirava seus olhos castanhos marcantes e fixos sobre mim. Seu rosto era familiar mas as minhas memórias não me deixavam lembrar com clareza de quem seja esse homem dos cabelos escuros e barba feita, com seus vestes estranhos ao meu ver.

— Como você cresceu!! – Sorriu revelando seus dentes perfeitamente alinhados e tão brancos quanto a forte luz das minhas alucinações. Um sorriso bonito, eu diria.

— Diminuir é que eu não ia. – Dei os ombros. — Não me lembro de você.

— Claro que não, a sua mãe nunca te contou... Eu ainda falei para ela te dizer o quanto antes, mas a dona protetora morreu e agora você está aí, totalmente ingênua.

— Não admito que fale assim dela!! – Altero minha voz encarando o mesmo no qual já estava desconfiada.

— Perdoe o meu senso de humor. Eu me chamo Jimmy. – Diz sorridente.

— Não vai me dizer que você é o meu pai, né? – Questiono.

— De onde tirou essa idéia maluca? A sua mãe era uma gata mas...

— O quê?! Já teve um caso com ela? – Sinto o sangue do meu corpo ferver.

— Acredito que isso não venha ao caso. Agora você precisa me escutar... Dois mutantes estão vindo te buscar, eles irão te levar para a School of Mutants e lá você descobrirá a sua verdadeira identidade.

— O quê?!!! – As batidas do meu coração ficam cada vez mais aceleradas com suas firmes palavras.

— No meio do caminho nos encontramos. Eu diria que serei seu guia, protetor e... amigo se você quiser.

— Perdoe-me mas não estou entendendo, tudo isso é confuso e difícil para mim. – Minha voz embarga.

— Estou aqui a pedido do senhor Hammer.

— Quem é senhor Hammer? – Indago.

— Às sete horas desta noite, esteja aqui nessa mesma rua. Foi um prazer em conhecê-la, Alicia! – Sorriu simpaticamente antes de ir.

     Jimmy foi embora me deixando cheia de questionamentos e com medo, pois nada do que ele falava fazia sentido para meus conhecimentos. Tentei raciocinar e entrar em alguma lógica mas era impossível. Eu não posso considerar ele um maluco porque conheceu a minha mãe, e me parecia que eles tiveram alguma parceria.
     Eu voltei para casa ainda assustada e com a imensa dúvida dentro de mim pois nunca havia enxergado nada e ninguém quando estou alucinada, Jimmy foi o primeiro. Isso é muito estranho e ao mesmo tempo curioso, são coincidências que me instigam em querer saber mais sobre o sentido da vida, da minha vida.

— Óh Deus, Alicia!!! O que lhe aconteceu?!! Está mais pálida que o normal! – A senhora Lucy correu em minha direção e me segurou, estava fraca e em estado de pânico.

— Eu... eu não sei, simplesmente não sei. – Digo com os olhos inundados.

— Está com febre? – Colocou suas mãos sobre meu rosto gélido. — Será que foi algo que você comeu? Eu vou buscar um remédio!

— Obrigada, senhora Lucy... Obrigada por tudo.

— Ah, minha querida... Não precisa agradecer, pode ter certeza que sua mãe deve estar muito orgulhosa de você.

(...)

     Estava ficando tarde e a noite logo foi aparecendo, tão escura e tão cheia de segredos. Caminho vagarosamente até a janela para observar as estrelas como costumo fazer todas as noites, desde que a minha mãe se foi. Eu admirava a estrela mais brilhante que estava sempre presente em frente a minha janela. Acreditava que fosse ela, nunca me abandonou nem mesmo após a morte, sinto sua energia presente em mim... A luz que me guia.
     As horas se passaram como os segundos, havia algo estranho acontecendo, sentia vibrações diferentes se aproximando. Desviei o meu olhar por um segundo e assim vejo uma carta desconhecida sobre a mesa de jantar. Corri para ler e observei a caligrafia feita a mão, rica em detalhes e delicadeza, sendo bastante legível:

"Olá, Alicia!!
Eu me chamo Hammer, sou diretor e responsável por todos vocês. Fico feliz em saber que está viva e que existe mais de nós. Muito obrigado, e nos vemos em breve!"

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