Capítulo Vinte e Sete

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Segredos Revelados

Na noite fria e sombria, os ventos levavam as madeixas do meu cabelo. Nunca foi tão difícil suportar tantos sentimentos sozinha. Os meus pensamentos estavam à mil, tentando encontrar respostas para o desaparecimento da minha irmã. Quando me perguntarem de onde tirei forças para prosseguir com a missão mesmo sem o paradeiro dela, não saberei como responder. A única energia que circulava em meu corpo está formada pela fúria, sede de vingança e a imensurável vontade de resgatar a Lauren onde quer que ela esteja.
As alucinações faziam de tudo para voltar a me controlar, tentando me deixar mais fraca e impossibilitada de voar. Aos poucos o meu corpo retornou com as dores espalhadas, acompanhado das malditas vozes que buscavam delirar a minha mente. Confesso que, as vezes, sinto que não vou suportar coexistir com elas durante toda a minha vida. A cada dia que passa, as alucinações estão mais profundas e intensas, se tornando fortes e incontroláveis.

— Vocês... não vão mais... me deter!!! – Digo em voz alta, saltando alto pela primeira vez e sendo mais veloz no voo.

(...)

Havia chegado na estreita rua da loja de brinquedos, meu antigo emprego. Consegui voar tranquilamente pela cidade sem que ninguém percebesse, pois estava certa sobre o casaco da invisibilidade que realmente funcionou e cumpriu seu devido papel. Mas, em todo momento a Lauren não saia dos meus pensamentos e acabava tirando o meu foco da missão. Durante o voo, me pegava rindo sozinha imaginando como seria se nós duas tivéssemos que dividir o casaco para vir à loja... Me perguntava se daria certo ou se teríamos sérios problemas com os humanos caso descobrissem.
     Visualizando a faixada da loja dos antigos brinquedos, fiquei paralisada por alguns minutos relembrando os momentos em que passei aqui. Devido os acontecimentos recentes que me deixaram reflexiva e sensibilizada, uma memória veio à tona sobre quem conseguiu esse primeiro e único emprego para mim:

" — Filha, esse é o senhor Frederico. Ele dará à você um emprego aqui na loja! – Me apresentou ao dono do estabelecimento.

— O que devo fazer, senhor Frederico? – Indaguei após nos cumprimentarmos.

— Pode fazer o que se sentir à vontade, um pouco de cada coisa será o suficiente para me ajudar! – Respondeu com a sua gentileza.

— A minha filha passará a maior parte do tempo dela aqui enquanto eu estiver fora, será uma boa distração para ela não se sentir só.

— Para onde a senhora vai novamente, mamãe?

— Irei resolver um pequeno problema na escola em que trabalho. Mas não se preocupe, não irei demorar.

— Escola?! Eu posso ir?! – Pergunto.

— Ér... filha, hoje é o seu primeiro dia de trabalho e precisará ficar aqui para iniciar.

— Queira aceitar os meus profundos agradecimentos, senhorita Diana. A luz da sua filha brilha tanto quanto a luz do sol, e será uma honra tê-la aqui em minha loja!"

     Abro lentamente os meus olhos após sentir aquela sensação boa de relembrar o meu passado. Suspirei fundo e pensei o quanto a minha mãe fazia falta, sei que ela e a Lauren se conheciam mas era apenas uma relação de aluna e professora. Sinto falta da sua presença, companhia, voz única... sinto falta dela por completo.

— Moço?! – Corri imediatamente à porta da loja que estava sendo fechada. — Ei, moço! Deixe-me entrar, por favor! – Peço encarecidamente.

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