Filhos perdidos...

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Sentada na sala de espera de um consultório odontológico observo os presentes. Havia se passado algumas semanas desde o meu aniversário e tudo havia perdido a cor. Todo lugar que eu estava sempre me pegava a imaginar como seria a vida dos outros, ou se aqueles desconhecidos eram minha família perdida. Eu sei que é bobagem, não precisa rir, mas foi a forma que encontrei para me divertir.

A secretária, por exemplo, uma mulher tímida e linda de cabelos cacheados. Tentava desesperadamente ter um filho, e não poderia se importar menos com a identidade do pai. Por isso levava a fama de "mulher da vida". Estava consciente do que falavam dela. Mas não a incomodava. Quando engravidasse sumiria e então sua fama seria de mãe solteira.

As duas velhinhas ali? Bom que se interessou. Elas são amigas de infância. Ambas casaram, tiveram filhos e netos. E carregam um grande segredo. Além de amigas são amantes. Sim! Não falei errado. Desde a adolescência. Não poderiam contar é claro, seriam julgadas e condenadas. Eram outros tempos e outros costumes. Poderiam até perder a vida. Condenadas por amar.

E o garoto do outro lado da sala. Aquele usando roupas que cobrem a maior parte de sua pele. Também conheço seus segredos. Ele têm feito muitas tatuagens pelo corpo, mas os pais não podem saber. São muito religiosos e não permitiriam esse tipo de expressão. "Tatuagem é coisa do Lúcifer! Quer se expressar vá cantar na igreja!". Eles dizem, como se chamar o demônio pelo nome aliviasse o peso ou a culpa que sentiam toda vez que o mencionavam.

Pobre garoto, ao sair daqui ele fugirá com seus amigos. Pobres pais, perderão seus filhos. E provavelmente histórias como a minha se repetirão.

- Beth, vamos. Está na hora de sorrir.

O doutor me chama, e eu deixo meus novos amigos com seus antigos segredos.

Beth||ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora