Você não sabe...

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— Vem! Aparece! — Mas ela nunca vem quando eu chamo.

Me silencio esperando. Nada. Só o barulho da minha respiração lenta. Ela sabe o que pretendo fazer. Mas não como. Esse é o mistério. E ela odeia não ter controle.

Minha gargalhada preenche o quarto. Agora estou mesmo parecendo uma louca. Gargalhando a esmo e conversando com a filha morta dos meus pais adotivos que me odeia. Não a culpo. O ódio é recíproco.

— Vamos lá, irmãzinha! Tem medo?!

Ninguém ouve meus gritos. Estou sozinha. Ainda bem. Me sinto sufocada sempre que estão aqui. Eles me olham diferente agora. Sempre com medo de algo.

Ou de mim.

Theo havia dito que Lara lhe contou que me ouvia conversando sozinha. Conversando sozinha. Eu sabia que ela não estava aqui. Então porque eu a vejo?! Porque consigo ouvir o que ela diz?!

— VAMOS! SAI DA MINHA CABEÇA! — Sou tomada pela raiva e loucura e começo a bater em minha cabeça.

Não quero que ela saiba o que eu penso. Quero ela fora!

— Calma, irmãzinha. Não vá se machucar.

É ela.

— Sinto em te deixar esperando. Sabe, Theo é uma ótima companhia. — Respiro fundo, não vou deixar que suas provocações me atinjam.

— Finalmente... Temos um assunto muito importante a tratar.

— Que assunto?

— Ah, não se preocupe. Será divertido.

— Nada que vem de você pode ser divertido.

— Oh, assim você magoa meu coração —  repito suas palavras.

— Vamos, diga logo o que quer...

— Estive conversando com o papai esses dias. Ele me contou umas coisas realmente muito... interessantes..

Ela não esboça emoção. Parece entediada.

— Papai me falou de você...

— Ah é?

— Sim... Me contou de como era antes. E só agora me dou conta de um detalhe.

— Não! Cala a boca, Beth!

— Parece que você já me entendeu.

— Não quero saber! CALA ESSA BOCA!

— Calma, irmãzinha. Só vou lhe contar como você morreu.

Uma lágrima escorre pelo seu rosto enquanto eu sorrio vitoriosa.

Beth||ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora