Anos depois...
— Alice! Vem filha!
— Calma amor, deixa ela se arrumar...
— Não, os convidados estão chegando e ela nada...
— Amor... — diz ele rindo da minha impaciência.
— Theo! Vai lá chamar a sua filha agora, ou eu não me responsabilizo. — Cruzo os braços emburrada.
— Ah, agora ela é minha né? Quando ela ganha os concursos de dança ela não é minha — diz fazendo biquinho.
— Ah que gracinha. Tá bravinho? — Dou vários beijinhos nele, ignorando completamente os convidados ao redor.
— Mãe! Para com isso! — Alice vem correndo me parar. — Você tá me envergonhando... — sussurra no meu ouvido.
— E você, dona Alice? Está atrasada...
— Desculpe pai... Estava me arrumando.
— Você tem que ser mais pontual Alice, olhe seus avós já chegaram e você quase não estava pronta.
Indico a porta com a cabeça. Alice se alegra tanto ao ver seus quatro avós; Lara e Gustavo e Marta e Jonas; que me esquece completamente.
Minha filha vai saltitante que nem criança para encontrá-los. Nem parece estar completando seus 18 anos hoje. Um sorriso se forma em meus lábios quando ela se joga nos braços dos meus pais.
Meus pais. Ficar com eles foi a melhor escolha que eu fiz na minha vida.
— Beth... — Theo me tira das minhas lembranças. Vejo seu sorriso malicioso e não me contenho. Levo ele para a cozinha e fecho a porta.
— Amor, o que foi?
— Nada... — Começo a brincar com a gola de sua camisa. — Alice disse que estávamos a envergonhando... Mas se ela não ver...
Ele sorri e me beija lentamente. Passo as mãos por aqueles cabelos lisos, me perdendo cada vez mais no seu cheiro.
Suas mãos percorrem o caminho até a minha cintura enquanto beija o meu pescoço fazendo uma trilha até o meu ombro.
Porém o barulho de saltos preenche o pequeno corredor que dá para a cozinha, me impedindo de continuar. Não quero ser pega então corro para a geladeira, deixando meu marido confuso me procurando.
— Eu imaginei que vocês estavam aqui. Alice mandou chamar... — Minha sogra sorri, como se essa não fosse a primeira vez que nos encontra assim.
Voltamos para a sala, onde os convidados se juntavam em volta da mesa do bolo. Alice estava concentrada em acender suas velas escritas "Happy Birthday".
Theo me abraça por trás e coloca o queixo no topo da minha cabeça, o que é de se admirar, já que eu sempre fui mais alta.
— Parabéns pra você... — comecei e todos acompanharam.
Olho ao redor, minha família está aqui comigo. Meus pais, meu marido, minha filha, meus amigos...
A maioria deles não sabe que sou adotada e eu não fiz questão de contar. Também nem quis procurar pelos meus pais biológicos. Não por raiva, só estava feliz sem eles.
No começo pensei que essa felicidade era mera ilusão. No entanto os anos passaram e ela não.
Durante esses anos a promessa incompleta da minha "irmã" ecoava em minha mente. Mas acho que já sei o final. Sorrio ao lembrar-me dela.
"Parabéns, Alice..." seu sussurro me provoca um arrepio.
Olho em toda parte e a vejo no quintal correndo com o Marlin. Ela tira os cabelos loiros do rosto e acena, sorrindo.
Sorrio de volta e mando um "Oi".
— Quem tá lá fora? — Theo pergunta.
— Uma amiga de longa data...
— Chama ela pra entrar.
— Não amor, ela já se foi. Só passou pra dar um oi.
— Vem tirar foto!
Olho minha filha, impaciente, e abraçada com os avós. Puxo Theo e encontramos um jeito de nos encaixar na foto.
— Te amo mãe... — Alice sussurra.
— Eu também, meu amor... Te amo demais...
♥♥
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Beth||Conto
Mystery / ThrillerTodos nós temos mentiras não é? Me diga o quê faria se descobrisse que tudo não passava de uma grande mentira? Ao completar 20 anos, Beth descobre que ela também tem uma mentira. Porém, ela decide continuar a viver sem contar para ninguém esse segre...