Xeque mate

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Desligo a gravação. A voz de Gustavo ainda paira entre nós. Ela não diz nada. Seus olhos negros parecem ainda mais escuros, sem fundo até.

— Foram eles, Beth... Eles me mataram, me deixaram morrer...

— Achei que você não acreditaria em mim. Então gravei. — Levanto o celular.

— Mas... Isso é mentira... Eles me amam.

— Aceita que dói menos irmãzinha...

Ela não discute, não esboça emoção, não faz nada! Mas eu quero sua briga, quero seus gritos e insultos.

— Eu disse que não queria saber! Porque me contou?!

— Como se sente?

— Não sinto nada... Papai disse, sou oca.

Eu venci.

— Esta satisfeita?! Ficou feliz?!

— Sim — respondo o mais baixo possível.

— E agora? — seu sussurro é meramente imperceptível.

— Agora você vai embora. E me deixar em paz.

— Porque, Beth?

Minha paciência está esgotando. Retomo o hábito de andar pros lados, suspirando para manter a calma. Bato em minha cabeça, quero tirá-la de mim.

— Você não entende que enquanto estiver aqui! — Continuo batendo aumentando o ritmo. — Minha vida não continua!

— Mas eu gosto de você! Por favor me deixa ficar?! — ela está chorando.

Não não não. Isso é mais um de seus joguinhos para me enganar. Ela acha que vai virar o jogo. Não. Eu estou ganhando!

— Porquê?

— Beth... Antes eu tinha inveja. Você não sabia, mas eu sempre estive com você. Desde que voce descobriu que roubou minha vida. Eu observei, e desejei sua morte. Porém, eu me apeguei a você.

— Mas você sempre me fez mal. Todo mundo acha que eu sou louca! Mamãe nem deixa eu sair com meus amigos no fim de semana!

— Mil desculpas. Isso foi uma brincadeira, queria ver até onde aguentaria.

— E aquele dia com Theo?! Porque fez aqulio?!

— Ah, tive ciúme. Te provocar até você gritar "cala boca eu te odeio!" me pareceu o melhor a fazer.

— Ridícula! Ele pensou que eu falei aquilo com ele!

Sua gargalhada fria me engole. A tristeza em que eu acreditara era falsa. Eu não havia ganho nada. Ela me usava no seu joguinho e eu não conhecia a estratégia para sair.

Eu estava exposta, e ela pronta para dar o xeque mate.

Beth||ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora