Odette estava sentada à escrivaninha de seu quarto, desenhando a paisagem verdejante que contemplava através de sua janela. As cortinas balançaram ligeiramente quando uma brisa suave as tocou. A princesa fechou os olhos e respirou o suave perfume que invadiu o seu recinto. O som de uma batida na porta fez com que ela tornasse a abri-los.
Perguntou quem era e, quando seu pai se anunciou, ela olhou à sua frente. Havia pendurado à parede um calendário. Uma data circulada em tinta vermelha mostrava que faltavam apenas dois dias para que ela e Derek tivessem o encontro que decidiria seus destinos.
Suspirou. Levantou-se, foi até o parapeito da janela e calculou qual seria a distância entre o seu andar e o chão. E chegou a conclusão de que a queda lhe renderia uma boa dose de ossos quebrados, ainda que não a matasse. Talvez ossos quebrados não fossem tão ruim assim, afinal, seria um motivo para não comparecer ao encontro.
Espantou a ideia da mente. Ela já era bastante crescida e tinha que enfrentar aquele compromisso, por mais que o detestasse e achasse que aquele encontro seria inútil. Derek estivera afastado por dois anos e se ela não o queria antes, como assim dizia a si mesma, provavelmente não ia querê-lo agora. Dois anos não podiam tê-lo mudado tanto a ponto de fazer com que ela quisesse se casar.
As leves batidas agora soavam mais urgentes. Odette pediu ao pai que entrasse e logo seus passos ressoaram pelo quarto da filha.
– Desculpe, papai – ela pediu com um doce sorriso.
Ele caminhou até a janela e tomou as mãos dela nas suas.
– Odette, querida, está fugindo de seu velho pai?
– Ora que ideia, papai – Odette riu, mas seus olhos mostravam que ele estava certo.
Havia dias em que Odette evitava o pai. Sabia que uma hora eles teriam que conversar a respeito, mas nutria uma esperança ridícula de que eles viessem a esquecer àquilo. Ela, na verdade, não achava que Derek fosse realmente voltar. Foi uma surpresa quando Sarah contou a ela que ele havia retornado.
– Não minta, querida, vejo em seus modos o quanto isso a perturbada – continuou William.
Ele apertou carinhosamente as mãos da filha e, olhando fundo em seus olhos, disse:
– Sei que está com medo, mas quero que saiba que seja qual for a sua decisão, eu a apoiarei. Só quero a sua felicidade e, se não for ao lado de Derek, então que seja. Só peço a você que ao menos tente.
Odette meneou a cabeça e sentiu seus olhos marejarem. Abraçou o pai e foi como se seu coração estivesse mais leve. Isso antes de realmente chegar à data.
Logo que os dias se passaram, e Odette estava no reino de Uberta, sentiu como se estivesse sendo levada para o cadafalso. Bom, talvez esse termo fosse um tanto exagerado, mas seu nível de medo e ansiedade estava próximo disso. Sarah teve dificuldades em arrumá-la, pois ela estava relutante em usar os vestidos que lhe eram apresentados, tendo como escolha aqueles que não eram apropriados à ocasião.
– Princesa, a senhorita é linda até usando trapos, mas está indo a um baile no palácio da rainha! Por ela, ao menos, precisa se vestir com elegância.
Com esses argumentos incontestáveis, Sarah conseguiu convencer Odette. A princesa tinha grande apreço pela rainha e só por esse motivo – e apenas por esse motivo – é que concordou com todas as escolhas da criada.
– Use o colar de coração – Sarah aconselhou-a.
Odette mordeu o lábio e tocou na peça. Não importava quantas vezes o visse, ou o usasse, ela sempre o acharia lindo. Deu-o a Sarah que o colocou ao redor do pescoço dela. A princesa olhou seu reflexo e sentiu um pesar em seu coração. Precisava reconhecer para si mesma que não era apenas o fato de não querer o enlace que fazia com que ela não quisesse vê-lo. Ao contrário, ela temia que seu coração batesse forte como no dia em que ele a beijou. E se algo daquele nível ocorresse novamente e ele não a quisesse?
– Não, Odette! – repreendeu-se em voz alta.
A criada lançou um olhar interrogativo a ela. Mas Odette ignorou e, empertigando-se, rumou até onde seu pai a aguardava. Passou a mão na curva de seu braço e sorriu confiante. Ele tocou a mão dela e sorriu de volta. Ambos caminharam até a carruagem que seguiu direto para o palácio.
Desceram à entrada do jardim, que estava lindamente decorada com vasos e flores. Na porta do palácio, um guarda com uma lista verificava o nome de cada convidado. Quando viu Odette e o rei, nem sequer baixou os olhos para o papel. Os reverenciou com todo o respeito e deu passagem para que prosseguissem.
Todos os outros convidados pararam o que estavam fazendo, os músicos pausaram a canção e, assim como o guarda, eles os reverenciaram.
– Oh, Odette! – a rainha gritou assim que a viu. – William! Sejam bem-vindos! Eu espero que apreciem este pequeno baile que fiz em sua homenagem – e ela piscou de modo cúmplice para a princesa.
Com simpatia, Odette sorriu e acenou para as pessoas no salão. Eles a admiraram, pois Odette havia se tornado uma linda mulher e estava radiante em seu vestido branco. Mais linda do que eles poderiam ter imaginado um dia.
– Ora, continuem a música – pediu Uberta e os músicos tornaram a tocar seus instrumentos num ritmo alegre. – Derek está se aprontando, mas logo já estará aqui – sussurrou a rainha.
– Bom, enquanto o jovem príncipe não vem, gostaria de dançar com seu pai? Me concederia essa honra?
– Claro, papai – concordou Odette alegremente.
E, durante toda a dança, tentou não pensar que Derek, aquele que mudaria seu destino, estava tão próximo.
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Como Um Cisne (FANTASIA)
أدب الهواةOdette e Derek estão prometidos um ao outro desde a infância, mas William e Uberta não desejam que ambos se casem sem amor e, por isso, têm a ideia de fazer com que os dois passem todas as férias de verão juntos, para que se apaixonem, o que se prov...