Dessa vez, ficou decidido que o melhor seria que eles não acompanhassem Odette e o rei William até o porto. Derek permaneceu de braços cruzados, cabeça baixa, ainda sem conseguir acreditar que ela o havia recusado.
Antes de entrar na carruagem, porém, a princesa olhou mais uma vez em direção a Derek. Parecia bobo, mas ela nutria a leve esperança de que ele correria até ela e diria as palavras certas. Mas ele não fez nada disso. Fitou-a por alguns segundo com a expressão emburrada e depois tornou a baixar os olhos.
Assim que a carruagem desapareceu pela estrada, Uberta entrou no palácio resmungando que todos os seus planos haviam sido arruinados. O príncipe suspirou imaginando como faria aquela teimosa da Odette entender que ele a queria realmente.
O céu pareceu ter ficado muito triste e ao mesmo tempo bravo com aquela despedida, pois nuvens negras se formavam no alto e os rugidos dos trovões soavam como uma bronca aos ouvidos do príncipe. O dia parecia estar se convertendo em noite.
Derek foi para a biblioteca, onde ficou com Maggie e Bromley, remoendo os acontecimentos do baile.
– "E o que mais existe"? – imitou Bromley com sarcasmo. – Você deveria escrever um livro e o título seria: "Como Ofender Uma Mulher em Cinco Sílabas ou Menos"! Deveras, Derek, você não consegue enxergar mais nenhuma qualidade nela, além da beleza?
– É, eu sei, isso não foi inteligente da minha parte – reconheceu Derek, andando de um lado ao outro, sem conseguir se concentrar na partida de xadrez que travara com Maggie.
– E então? – insistiu o amigo.
– Bem, ela é... Você sabe... Ela é muito... Você entende, não é? – Derek lançou um olhar cúmplice a Bomrley, mas ele apenas ergueu a sobrancelha. – Eu não sei como dizer! – determinou frustrado.
Maggie observou o agitado príncipe com uma expressão de incomodo e tédio. Suspirou quando chegou à sua vez de jogar.
– Perdeu sua rainha, Derek – anunciou, derrubando a peça do tabuleiro.
– Duas em apenas um dia – concordou Derek e riu sem humor, observando a ironia daquela situação.
– Oh, Derek, vamos! – Maggie franziu o cenho, irritada.
Recostando-se na cadeira, Maggie bufou com impaciência.
– Não vale a pena ficar assim. Se ela o amasse de verdade, teria ficado satisfeita com tudo que você disse que, em minha opinião, é mais do que ela realmente merecia ouvir. Você deveria procurar outra pessoa para ser sua princesa – falou de modo sugestivo.
– Não – discordou Derek, sem se dar conta das intenções de Maggie. – Eu preciso provar o meu amor a Odette! – E como se tivesse tido uma brilhante ideia, ele parou e voltou-se para Bromley. – É isso! Eu irei provar o meu amor a Odette!
Maggie revirou os olhos. Por que de repente Derek decidiu que aquela princesa valia algum esforço? De fato, naquela noite, Maggie percebeu que Odette realmente havia mudado. Os cabelos dourados pareciam reluzir sob as luzes que iluminavam o salão e ela havia adquirido formas mais curvilíneas, mas, ainda assim, Maggie sabia que a princesa não a superava. Se Odette era bonita, Maggie era duas vezes mais com seus cabelos negros e cacheados, os olhos cor violeta e a cintura delgada.
– Essa ideia é ridícula – observou de mau humor.
– Eu gostei – contrapôs Bromley.
Um debate se iniciou, pois Bormley e Maggie começaram a discutir. Derek os observou e riu, achando graça no modo como os dois pegavam fogo. Mas seu riso não durou por muito tempo. Repentinamente, a porta da biblioteca foi aberta e um cavaleiro entrou. Estava com partes da roupa rasgada e encontrava-se ofegante. Derek correu até ele que, sem forças, caiu em seus braços. O príncipe fez um esforço para que o homem não caísse, mas foi impossível que os dois não viessem ao chão.
– Você é o capitão do rei William – Derek o reconheceu. – O que faz aqui?
– Fomos atacados... – tossiu ele.
Ao ouvir aquilo a primeira coisa que veio em sua mente foi a segurança de Odette. Seu coração bateu assustado e um medo terrível percorreu todo seu corpo, congelando sua espinha.
– Eu preciso salvar Odette! – murmurou.
O capitão anuiu com o pouco de força que ainda lhe restava, concordando com o jovem.
– Peça um médico! – gritou Derek para um Bomley e uma Maggie assustados, enquanto erguia-se do chão.
E, sem olhar para trás ou dar atenção a protesto dos jovens, ele correu até os estábulos e montou no primeiro cavalo que encontrou selado. Não era o mais veloz, mas levaria muito tempo para que preparassem outro. Ele fez o animal correr o mais rápido que podia, percorrendo o trajeto que levava ao porto.
Uma chuva forte já caia e Derek pôde sentir o peso de suas roupas sobre o corpo e as pancadas das gotas sobre sua face que pareciam chicotes com a velocidade com que o animal corria. Mas não se importou, porque tudo em que conseguia pensar era em encontrar Odette.
Avistou uma carruagem destroçada ao longe e, puxando as rédeas de seu cavalo, fez com que ele parasse e apeou. Correu até ela, lutando para manter o equilíbrio ante a lama escorregadia. Abriu o coche, mas não encontrou ninguém lá. Pisou em algo duro e, quando olhou para baixo, viu caído numa poça, a corrente de Odette. Abaixou-se e pegou-a em suas mãos. Sufocou um uivo de desespero que quis sair de sua garganta.
Mais à frente, ele viu William.
O rei estava no chão, deitado e parecia que já não respirava mais. Derek aproximou-se, ajoelhou ao lado dele e teve uma grande surpresa quando William abriu os olhos e agarrou a manga de sua camisa.
– Quem fez isso? – perguntou Derek, sabendo que não adiantaria tentar salvá-lo.
Era evidente que o rei estava muito mal e prestes a morrer a qualquer momento. Uma poça de sangue se acumulava em seu peito, onde provavelmente ele fora ferido.
– Quem atacou vocês? – insistiu, esperançoso.
– Ele... ele levou Odette – o rei falou, os olhos vidrados, parecendo reviver aqueles momentos.
– Ele quem? – Derek mal podia suportar a angustia que o tomava.
– Ele... Um animal... Não é o que parece... – William conseguiu murmurar, a respiração entrecortada. – Não é o que parece... – repetiu e puxou a manga de sua camisa com ainda mais força.
– O que não é o que parece? Onde está Odette? – As palavras não faziam sentido para Derek.
– Ela... Odette se... Odette se foi.
Derek sabia que William não queria, com aquilo, dizer que ela estava morta. O príncipe sentia que Odette estava viva. Seu coração lhe dizia que ela estava.
Antes que qualquer outra informação pudesse ser concedida, o rei soltou lentamente a manga da camisa de Derek e um último gemido escapou de seus lábios.
Não havia mais nada que pudesse ser feito e, soltando o corpo sem vida de William, Derek se ergueu com o colar em mãos. Atordoado, olhou para os céus. A chuva ainda não havia cessado e ele gritou o nome de Odette a plenos pulmões. Então caiu de joelhos novamente e ali, naquele lugar, fez uma promessa silenciosa. Não importava onde Odette estivesse, Derek iria achá-la e a traria de volta para si.
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Como Um Cisne (FANTASIA)
Fiksi PenggemarOdette e Derek estão prometidos um ao outro desde a infância, mas William e Uberta não desejam que ambos se casem sem amor e, por isso, têm a ideia de fazer com que os dois passem todas as férias de verão juntos, para que se apaixonem, o que se prov...