Bob

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- A-aqui m-oço. Pode levar, me deixa ir por favor. - digo tremendo.
- Mas a gente pode se divertir um pouquinho. - ele fala e passa a faca no meu rosto.
- DEIXA ELA EM PAZ! - ouço uma voz familiar falar. E é Bob.
Ele chega mais perto e o assaltante atrás de mim corre, Bob corre atrás dele e eu entro no carro e tranco as portas. Me abaixo no carro e fico rezando baixinho.
Depois do que pareceu horas, ouço uma batida na janela do carro e me assusto. Olho de canto de olho e é Bob.
Abaixo um pouquinho o vidro para poder ouvi-lo.
- Está tudo bem, meu amigo policial cuidou dele. Eu... Eu peguei seu celular, está aqui. - ele diz um pouco envergonhado.
Abro a porta rapidamente e o abraço. Ele timidamente retribue o abraço. Pareço uma criancinha de 5 anos de tão grande que ele é.
- Obrigada. - digo sem jeito. - E desculpe. - paro de abraçar ele.
- Tudo bem. Foi só uma corridinha.
- Não. - digo. - desculpe por aquela vez no estúdio. Por ter falado aquelas coisas. Eu só estava com medo, eu acho.
- O medo é uma barreira. - ele diz.
- O medo não é desculpa pra ser idiota. Desculpa te julgar.
Ficamos calados.
Sento no banco do carro e faço menção para ele sentar. Ele me olha receoso.
- Tudo bem. Já não tenho mais medo.
Bob senta e fica calado por um tempo. Depois fala:
- A minha vida toda, eu vivi escondido, atrás dessas tatuagens, desse piercings. Ao contrário de outras pessoas, eu não fiz isso para aparecer. Eu queria me esconder, queria me manter em uma barreira. Eu sentia medo. Medo do mundo e das pessoa. Por isso entendo você. É uma forma de se manter vivo por dentro... - ele suspira e continua - Minha mãe me abandonou quando eu tinha 3 anos. E eu fiquei com um tio na época... Ele era traficante. E eu nunca sequer quis ser como ele.
- Me desculpa eu não sabia. - digo atordoada.
- Quando eu fiz 15 anos, uns caras estranhos entraram na minha casa e mataram meu tio. Eu descobri que quem entra nesse mundo, só sai dele morrendo. Quando é preso e solto, ele recomeça tudo de novo. Eu liguei pra polícia, e eles queriam me levar para um orfanato. Mas ninguém queria adotar um menino gordo e com um passado tão turbulento. Foi então que um padre quis falar comigo. Ele falou das maravilhas e da misericórdia de um Deus perfeito. E aquilo me fazia tão bem. Tão vivo. Ele me deu uma Bíblia que eu lia todas as noites, a fechava chorando, e então dormia...
Quando fiz 18 anos, e já podia sair, o primeiro lugar que eu fui, foi pra igreja. O mesmo padre que me salvou, estava lá. Ele me convidou pra morar com ele, e servir ao Senhor. Até hoje eu moro com ele. E vou pra igreja todo santo dia o ajudar. Eu sou Ministro da Palavra. E sempre prego que Deus escolhe pelo coração, e não pela minha pele marcada, furada e minhas vestes. Eu prego todo santo dia, e sou a pessoa mais feliz do mundo. Sem nunca precisar tocar em uma droga, uma bebida, nem mesmo em um cigarro. A mãe que eu nunca tive é a Santa Maria, o pai que eu nunca tive é Deus, e o irmão que que nunca tive é Jesus. O meu melhor amigo. Quando disse que ninguém nunca se esquece do Bob, é porque eu sempre vou pregar para as pessoas. E quando eu estava as convidando para minha casa, eu estava as convidando para a igreja. Porquê Jesus ama os que o segue, e está sempre com eles. Não se sinta culpada Emma, porque eu já te perdoei no meu coração e você tem que se sentir leve.
Quando ele para de falar, as lagrimas não cabem em mim, e minha culpa jorra. Ele pega um lenço branco do bolso do casaco e me oferece.
- Pode pegar, está limpo. - ele diz.
Eu o abraço. Um abraço puro e verdadeiro.
- Acho que tem alguém esperando por uma tatuagem lá dentro. - digo sorrindo.
- Pequena Lissa. - ele diz também sorrindo.
Entramos dentro do estúdio e Melissa arregala os olhos.
- Bob é uma boa pessoa. - digo para Mel e ela sorri. - Me arrume mais um tatuador. - digo para Bob. - Eu vou fazer minha primeira tatuagem.
E Melissa sorri largamente.

MELISSA POVS

- Isso doooooi! - Emma reclama. - Já se passaram trinta horas! Quando isso vai acabar?
- Não seja exagerada Emma. Só foram cinco minutos. - digo.
Eu escolhi uma tatuagem acima dos seios escrito: "Live your Dreams" , e Emma quis uma minúscula taça de tequila atrás das orelhas. Segundo ela, só para se acostumar com a ideia de ter uma tatoo.
- O que você está fazendo? - Emma pergunta para o tatuador dela.
- Pintando a taça, moça. Não se mexa. - ele diz calmamente. Como alguém pode ser bonzinho com Emma gritando no ouvido? Também quero essa maconha dele.
- Tudo bem então. - Emma se acalma. What? Olho devagar para Emma e ela e o seu tatuador estão sorrindo um para o outro.
- Ah não! - digo baixinho.

[...]

- Não acredito que você pegou o tatuador! - digo para Emma assim que chegamos no hotel.
- Eu não peguei ninguém, doida. Bom, pelo menos não ainda. - ela diz com cara sapeca.
- Cadê o preconceito todo? - digo rindo.
- Não sei. Mas ele não está mais aqui. Bob é uma boa pessoa, eu não deveria ter dito aquilo. - ela diz séria. E quando eu ia responder, um barulho ecoa no ambiente. É é meu toque de celular.
Happy - Pharrel Williams
- Não vai atender? - Emma pergunta. - Pode ser trabalho.
- Mess? - uma voz rouca chama quando atendo o celular. Sorrio. Só uma pessoa me chama de Mess.
- Ed. - respondo. - Não é hora de crianças dormirem?
- Vai por mim, não durmo cedo. E desculpa te ligar essa hora. Mas eu estava pensando aqui com meus botões... E não aguentei. Preciso te ver, para sabe... Conversar.
- Seria uma honra, cavalheiro. - respondo sorrindo. - Mas... Já são 2 da manhã. A única coisa que está aberta agora são os bares e as pubs.
- Exatamente. Me deixe terminar meu convite, minha bagunça. - ele ri do outro lado da linha. - Hoje, mais tarde, tem uma cafeteria perto da FisherLondon, sabe onde fica? - ele pergunta.
- Não. - repondo sincera.
- É claro que não. Onde você esta hospedada?
- No Doubletree.
- Vou buscá-la às 19hrs, beijo. - ele diz e desliga.

- Ui, alguém tem um encontro, alguém tem um encontro. - Emma cantarola e eu jogo meu casaco em cima dela.
Não é um encontro. Ed deve fazer isso com as amigas dele. Mas seja lá o que for, nossos assuntos vão ser profissionais.
Ou não.
Realmente meu nome deveria ser Mess. Porque eu sou uma bagunça...

Give me Love [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora