Mentiroso

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Ed me olha e a mulher em seu colo se levanta. Fecho a porta.
- Mess, Mess. - escuto Ed falar.
- Já sabe o que fazer. - disse o cara de óculos.
Encosto minha cabeça na parede do lado de fora e vejo Ed fechar a porta atrás de si.
- Quem é ela Edward? - pergunto.
- Mess... Melissa. - ele suspira, pela primeira vez pronunciando meu nome de verdade - Aquela é Ellie Goulding. Ela é... Minha namorada. - ele diz e abaixa  a cabeça.
Sinto um aperto no coração e uma vontade de chorar imensa. Mas não, não na frente de Edward. Não agora, não vou quebrar a promessa a minha mãe de ser forte. Já havia aguentado por 6 anos, não é agora que eu ia.
- ... aquilo ontem - ele continua, de cabeça baixa - Foi um erro. Não podemos ficar juntos. Amanhã vou para Califórnia com Ellie vou ficar um tempo lá. Me desculpa. - ele diz mecanicamente, como se estivesse lendo essas palavras, ou já estivesse acostumada com elas.
Não tem como não segurar as lágrimas. O aperto do coração se torna forte o suficiente para que as lágrimas rolem. Porque deixei isso chegar a esse ponto?
- Mentiroso. Olhe nos meus olhos - digo. - Olhe nos me olhos e diga que aquilo foi um erro. 
Ele levanta a cabeça o momento, e ao me ver chorando, aperta os olhos e vira de costas.
- Eu sinto muito, Mel. Algumas coisas as vezes são necessárias. - ele diz e entra no camarim.
E eu? Me deslizo pela parede. Me abaixo e fico quietinha, soluçando. Chorando tudo o que eu não tinha chorada por 6 anos.
- Está tudo bem? - ouço Stuart perguntar
Olho para ele com os olhos marejados.
- Não. - digo. - Estou parecendo uma criança não é?
- Tudo bem, tudo bem. - ele diz. - Vem, levanta. - ele oferece suas mãos. E eu levanto e o abraço. Ele me abraça de volta. Era como ser abraçada por um pai; um pai que eu nunca tive.
- Me deixa levar você pra casa. - Stu diz.
- Eu posso ir sozinha. - digo.
- Cuidado. - ele responde.
E antes que eu pudesse ir embora, ele diz:
- As coisas não são como parecem, Mel. Elas são necessárias. Vai ficar tudo certo. - ele diz.
- Você fala como ele. - respondo.
Sussurro um "obrigada", e vou para a garagem.
Durante toda a volta pra casa, eu só choro. E tudo me faz lembrar dele: as pessoas, a rua, as estrelas, as luzes dos postes, até mesmo a neve. Que até então não tinha caído. Pequenos flocos de neve anunciam a chegada do inverno. Poderia ser uma coisa boa. Mas eu sei que só seria bom com ele, e só seria engraçado com as piadas dele. Sem ele a neve só parecia mais uma coisa deprimente. Uma coisa amena da noite.
O amor tem uma mania estranha de nos preencher, quando nos vemos assim, sem ele, nos sentimos completamente vazos.
Chego no quarto do hotel e Emma se assusta comigo batendo a porta do meu quarto.
Ao me ver chorando, ela deixa de lado o livro que estava lendo. Corro até minha amiga e me afundo em seu colo.
- Foi ele. - eu digo soluçando ainda mais alto. Ela pergunta  se eu quero conversar e eu faço que não com a cabeça.
Ela apenas fica lá, acariciando meu cabelo, de um modo que me faz lembrar minha mãe. E ouvindo ela falar:
- Xii, vai ficar tudo bem. Tudo bem.
E aos poucos, fui adormecendo. Tentando esquecer tudo aquilo, e lembrando das palavras da minha mãe.
"... seja forte, seja forte..."

...

Acordo com uma brisa congelante no meu corpo. Pelo jeito o inverno vai ser duro.
Antes que eu pudesse me levantar, uma corrente de pensamentos vem a tona.
Show, Edward, Ellie, o homem de óculos, Stu, a minha promessa de não chorar...
Tudo me assombrando novamente. Suspiro fundo e caminho para o quarto de Emma. Ela esta dormindo ainda, fecho a porta devagar para ela não acordar.
Vejo chamadas perdidas no meu celular, é do Salu. E uma mensagem de texto de ontem a noite.
"Me desculpa por tudo, amiga. Queria ter a chance de me desculpar pessoalmente. Estou aqui fora do teu quarto-casa-luxo-bafo, juro que vou ficar aqui até você me perdoar."
Corro para abrir a porta e vejo um Salu dormindo no chão, com o cu pra cima.
- Acorda viado. - cutuco ele. E ele gruni algo que eu não consigo ouvir. Dou um tapa na cara dele e ele grita como uma gazela desvairada.
- Aaaaah. - ele me olha - Meeel. - me abraça de um jeito desconfortável - Só vou soltar se você me desculpar.
- Qualquer um que acampar na minha porta merece ser desculpado. - digo e revido o abraço.
- Vim aqui ontem e a racha da Emma me disse que já estava dormindo. - ele/ela solta o abraço - Ela me contou. Sinto muito, amiga. - ele diz.
Salu podia ser antipático, sinistro, narcisista e até um pouco maluco. Mas ele era um bom amigo, isso eu tinha que admitir.
- Obrigada. - respondo voltando a ficar triste. - Só quero deitar novamente, posso?
- NÃO! - ele diz - Tive uma ideia! Acorda a Emma, hoje nós vamos brilhar.

[...]

- EU NÃO QUERO SAIR! - grito insistindo.
- QUER FAZER O QUÊ? SE TRANCAR NO QUARTO, COMER BRIGADEIRO E ASSISTIR CREPÚSCULO? - Ema pergunta.
- ISSO MESMO! - respondo - Por favor, Emmaaa, por favor.
- Amiga, você pegou um pé na bunda, e precisa de álcool e uns boys bem gatos pra afogar as mágoas. Faça-me o favor! - Salu diz me puxando.
A duas horas atrás eles me enfiaram um salto, uma roupa justa, e um batom e insistem que eu preciso de uma balada.
- Eu não quero ir. - digo me sentando no sofá - O que aconteceu não foi brincadeira, eu estou triste pra caralho e só preciso ficar quieta. - enfio a cabeça entre as mãos e os dois se calam.
- Mel, - Emma diz baixinho - Vamos só dar uma volta na pub. Se você quiser voltar, a gente volta. Estamos nos esforçando poxa. - ela diz.
Realmente, penso, eles estão se esforçando pra mim ficar feliz. Até me vestindo como uma puta.
- Okay, vamos lá. - digo - Mas talvez eu esteja tonta demais pra voltar dirigindo.
- É ASSIM QUE SE FALA - os dois gritam juntos.

Give me Love [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora