Pista de Patinação

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Roger estava chorando na minha frente. Seus ombros tremiam a cada soluço, e suas mãos tapavam seu rosto.

Mesmo se ele estivesse fingindo, eu seria capaz de acreditar. Pessoas tristes sempre foram minha fraqueza, e ele estava triste por uma pessoa que eu amava.

— É tudo culpa minha. Se eu tivesse persistido um pouco mais... Eu só queria que ela fosse feliz, mesmo se custasse a minha felicidade. Eu matei ela, indiretamente.

— Vai ficar tudo bem. — retruco o clichê.

Minhas palavras me pegaram de surpresa. Eu deveria estar com raiva ou mágoa da pessoas que nos abandonou quando mais precisávamos.
Mas enxergando um outro lado da história, as coisas faziam sentido. De um jeito infantil, brusco e idiota, mas fazia sentido.
Eu era a filha desse cara, e ele estava arrependido e triste. Eu poderia simplesmente perdoar e seguir minha vida. Mas eu sei que nada seria igual novamente.

Daqui pra frente eu saberia a verdade, e conviver com ela é outra coisa. Eu pensei que meu pai fosse um egoísta que ficou com medo de uma responsabilidade familiar precoce, mas ele não era.

Era só uma criança assustada, querendo sustentar duas outras crianças. Se colocando no lugar, eu consigo entender.

E ali, debaixo da chuva, olhando o homem que me gerou, eu consigo entender. Consigo entender o quanto ele nos amava, e o quanto seu pai exercia influência sobre ele. Ele saiu de perto de nós, desejando que quando voltasse ficaria tudo bem.

Mas a minha mãe ficou magoada, e eu também consigo compreender. Uma recém mãe, igualmente assustada, tendo que conviver com a partida da pessoa que mais amava e precisava.

Era uma situação complicada. Mas tudo passa. A dor passa, a tristeza passa. A única coisa que não acaba é a saudade de alguém que você amou. Eu sinto isso em relação a minha mãe, e acho que ele sente o mesmo, porém em dobro.

Eu queria dizer isso a ele. Mas ao invés, eu continuei em pé, ao lado do banco onde ele estava sentado, chorando.

— Melissa, eu nunca quis que isso acontecesse. Eu nunca quis ser uma decepção, uma mágoa, uma raiva. Eu realmente tentei me comunicar, muitas vezes. Eu enviei cartas, mas ela não respondia, ela mudou de casa. Desculpa, me desculpa.

Dessa vez eu não me segurei e sentei ao seu lado.

— Tudo bem. — eu disse.

Ele levantou a cabeça e me olhou com um sorriso pequeno e um brilho no olhar, ainda com lágrimas.

— Tudo bem, eu consigo entender. Agora somos só nós dois, como família. Então sou eu que... Escolho quem eu quero ou não na minha vida.

— Isso quer dizer que... Você me perdoa? Que você...

— Não quero ter ódio por ninguém, não vale a pena. Até mesmo por você. — o cortei.

Ele baixou o olhar, sem baixar propriamente a cabeça.

— Tudo bem.

— Eu perdôo você, Roger. Eu acredito em você. Mas por favor, não faça com que esse perdão se torne um arrependimento.

— Obrigado, Melissa. — ele me abraçou — Muito obrigado, eu prometo.

— Pode me chamar de Mel. — dei um sorriso rápido.

— E você pode...

— Ainda não vou chamar você de pai!

Ele riu.

— Pelo menos você falou "ainda". Ainda tenho esperanças.

O observei por alguns segundos. Era loiro, de olhos castanhos claros e era bem bonito. Minha mãe tinha olhos azuis e cachos escuros, então agora sei com quem aparento.

— A gente está na chuva. — observei.

— Estamos. — ele sorriu — Você estava com amigos... Vai voltar a ficar com eles?

— Não. — respondi — Você também vai comigo. Preciso te apresentar umas pessoas.

Ele não protestou e me seguiu até o restaurante. Roger sorria de orelha a orelha. Algumas pessoas nos olharam quando chegamos ensopados, mas eu só conseguia visualizar a mesa onde estávamos.

A comida estava intocada, e meus amigos estavam nos encarando sérios. É claro que Roger e eu tínhamos sido o assunto esse tempo todo.

— Pessoal, esse é Roger. E ele é... Bem, ele é meu pai.

— Você. — Emma se levantou — Você abandonou minha amiga quando ela precisou, seu babacão!

— Não Em, está tudo bem. A gente tá bem.

— Ah. — ela estendeu a mão — Sendo assim, prazer.

— Essa é minha melhor amiga. E aquele  é Drake, namorado dela. — disse —E esse é meu namorado, Ed.

— Olá, Ed. — Roger sorriu e apertou a mão do Ed — Na verdade, eu sou seu fã.

— Obrigado. — Ed agradeceu — Qual sua música preferida?

— Ah, thinking out loud, porquê foi feita pra Mel

Todos rimos.

— Por último, Roger, esse é o primo de Ed, Murray.

— Esse eu já conheço. É o tio da pista de patinação! — Murray abraçou Roger.

— Pista de patinação? — Emma perguntou.

— Anh, eu sou dono de uma pista de patinação de gelo aqui no Rio mesmo. Murray estava marcando uma ida até lá.

— É, vou essa noite. Vocês vão ter que ir ao acampamento sem mim. — Murray voltou a sentar em sua cadeira.

— Ah, fiquei com vontade de ir também... — disse.

— E o acampamento? Emma nos convidou. — Ed perguntou.

— Deixa pra próxima, por mim tudo bem! Amanhã temos que viajar cedo mesmo. — Emma disse.

— Okay, então. Pista de gelo hoje a noite! — Drake sorri.

— Mas antes — sentei com meus amigos e chamei Roger pra sentar também — Vamos comer, que estou faminta!

***

Ooooi, tudo bem? Eu ótima

pra avisar que agora vai ter capítulo todo dia até acabar a fic.

estava com saudades ❤

Espero que não queiram arrancar minha cabeça por fazer a Mel perdoar o Roger. Gente, essa personagem tem vida própria, é louco! Haha

Espero que gostem
Até o próximo capítulo <3

/GabsX

Give me Love [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora