Segredo

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Deveria ser cedo, mas Londres fica incrivelmente escuro mais rápido durante o inverno.
- Sem previsões de chuva. Hoje a noite é nossa. - Emma diz quando entramos no carro, hoje ela dirige. Porque segundo ela, hoje eu "ia me divertir pra caralho barra ficar bêbada pra caralho".
Durante o trajeto olho através do vidro do carro. Pensamentos no Ed, claro. Por que ele tinha simplesmente feito isso comigo? As palavras dele foram duras demais, pesadas demais. Onde estaria agora? Provavelmente com a tal Goulding se divertindo. Será que ele pensava em mim?
Ah, fala sério Melissa. O beijo não significou nada, os encontros não significaram nada. Nada significou nada.
- Chegamos. - Emma anuncia.
Olho para a fachada do pub, e parece divertido.
Se Ed estivesse comigo...
- Para de pensar nele, Mel. - Emma diz, estranho como era nossa sincronia, como se ela pudesse ler meia pensamentos.
- Verdade. Ele não vale um peido seu. - Salu completa, e não tem como não rir. Uma risada fraca, mas uma risada.
- Certo, deixa a deprê aqui no carro e vamos logo. - Emma diz.
Saímos do carro os três juntos. Passamos por uma fila de homens fortes e "bonitos" (o tipo atlético nunca me atraiu), que geralmente ficam na frente da balada. Xavecar, com certeza.
- Opa, carne nova na área, que delícia. - um deles fala e Salu, claro, se anima e rebola ainda mais.
Entramos no grande clube e o tipico me aparece.
Música agitada alta, cheiro forte de bebida, casais se pegando (quase fazendo outras coisas), pessoas dançando e enlouquecendo. Enfim. A uma semana atrás eu estaria feliz, mas não agora. Não hoje. Não quando algo que eu tinha foi tirado... Ou se retirou.
- Preciso te apresentar uma pessoa. - Emma diz e me puxa pelas mãos a um lugar mais reservado da pub.
Quando chego lá, encontro um carinha, acreditem ou não, ruivo que claro, me faz lembrar uma pessoa.
- Esse é o Jake, com "k". Primo do Drake.
Então assimilei. Assimilei tudo. Emma e Salu não tinha me trago aqui despretensiosamente. Claro que não, eles armaram um encontro pra mim justo com um ruivo, que me faz lembrar vocês-sabem-quem.
Não, não é Voldemort. É Edward mesmo.
Olho pra Emma com os olhos semi cerrados e ela solta uma risadinha cúmplice.
- Se apresenta, amiga. - Salu diz.
Olho para o ruivinho, que me olha com olhos autênticos, como se esperasse uma resposta.
- Oi, Jake. Meu nome é Melissa. Prazer.
- O prazer é meu. - ele diz, e continua, inseguro - eu peguei umas bebidas, mas peguei suco, não sei se você bebe...
- Hoje eu vou beber sim, obrigada. - sorrio pra ele, para ele se acalmar.
- Boooom, - Emma começa - Eu e o Salu aqui vamos no banheiro.
- Vamos? - ele pergunta e leva um pisão de Emma no pé. - Ah, é, vamos. Fiquem a vontade a gente vai demorar um pouquinho porque.. Ãn... A-Emma-vai-dar-uma-cagada. - ele fala apressado e sai correndo em direção ao banheiro, com Emma em seu encalço.
Olho para o cara em minha frente, que também me olha.
- A Emma te ofereceu propina, ou algo do tipo? - pergunto na lata e bebo um pouco de vodca, Absolut pra ser exata (na boca da garrafa mesmo, xô educação).
Ele sorri e abaixa a cabeça.
- Não. - volta a me olhar - Ela só disse que tinha uma amiga linda que ela achava que precisava desencanar. - ele diz e coloca um pouco de cerveja londrina em uma taça.
- E o que você acha? - pergunto-lhe.
- Eu concordo. Você é mesmo linda. - ele diz e tenta segurar minha mão. Desvencilho do toque dele, que me olhava confuso.
- Olha desculpe, não me leve a mal. Mas nós dois não precisamos disso. Não acha? Isso aqui é só um plano mal sucedido da Emma. Ela tem razão, eu tô encanada.
- Algum problema comigo, especificamente?
- Nenhum. - digo, e bebo alguns goles consideráveis - Você parece com ele, sabe. Mas ao mesmo tempo não parece nada.
- Tudo bem. - ele diz - Você é sincera, eu gostei. E não, não estou cantando você, desculpe se parece.
- Tudo bem. - repito baixinho e rio.
Bebo mais um pouco, e quando olho a garrafa já está pela metade.
- É engraçado. - digo - Tudo isso. O jeito que as pessoa se conhecem. Se você me conhece em uma balada, você achar que eu sou a louca bêbada; se você me conhece em uma lavanderia, vai achar que eu sou a mais perfeita dona de casa; se você me conhece em uma livraria, vai me achar intelectual. Acontece que a gente não é o que parece. - termino.
- Porque está falando disso? - ele pegunta. Olho não olhos dele e eles são carinhosos. Como de um amigo, tentando me conhecer mais.
- Porquê eu já me decepcionei demais. Acabou que o carinha das músicas românticas não era tão gentil assim. - sorrio irônica -  Como sou tola.
A bebida já está fazendo efeito sobre mim, penso. Falando demais, desabafando com estranhos.
- Às vezes, Mel. - ele diz-  Os males vem para o bem. Quantas decepções antes dele, você já teve? E quantas você ainda sofre? Nenhuma, eu creio.
Fico repensando o que ele disse.
- Bom conselho. - declaro.
- Eu só acho que você deveria esquecer, pelo menos por hoje. Não quero que passe dos limites. Mas tá na chuva tem se molhar, não é? - ele diz prontamente.
Acabo a garrafa que estava tomando e levanto-me.
Ele tinha razão, tinha que esquecer Edward um pouquinho, mesmo com a dor no coração me lembrando constantemente. Não estava fazendo nada de errado ali, me divertindo com um amigo. Mas mesmo, assim alguma coisa me prendia. Minha cabeça é uma confusão, como Ed me chamava...
- Você dança? - pergunto.
- Sim. - ele pega minha mão e me leva para o centro da pista. Na hora, por culpa do destino filha da puta, uma música começa a tocar. Mas não uma simples música, uma música especial. Sing, do Ed Sheeran.

Emma POVS

Depois que deixamos Mel sozinha com ruivinho, ficamos passeando pela balada e tomando umas. Salu já estava bem louco, e eu? Eu estava também, mas nem tanto.
- Preciso ir no banheiro, aaaihn, tô apertada! - Salu diz.
Reviro os olhos e atravesso a multidão até chegar no banheiro (feminino, mesmo com Salu, já está todo mundo bêbado).
Ele corre e se tranca em uma das portas. E eu vou para a pia lavar o rosto. Instantes depois, sinto o celular vibrar na bolsa. Na hora, Salu sai e também lava o rosto.
- Número desconhecido me ligando. - digo. Ele responde um "atende, vou beber ali", e é justamente isso que eu faço, ele se vai.
- Pois não? - digo.
- Você é a Emma?  - uma voz rouca masculina pergunta.
- Sim, e você? - pergunto.
- Ah, graças a Deus. liguei pra duas pessoas erradas procurando seu número. Você é amiga da Mes... Melissa não é? Eu queria muito saber como ela está. Sou eu... Ed Sheeran.
Quando ele fala quem é, meus sentidos se aguçam e já consigo sentir a raiva subir.
- Ah, oi Edinho. Quer saber como ela está, hmmm. Deixe me ver - coloco o celular para fora do banheiro pra ele escutar a música alta. - É, ela está muito bem, obrigada.
- Isso é minha música? Onde vocês estão? - ele pergunta eufórico.
- Isso não é sua música, é só um plano de fundo pra diversão dela. Estamos na balada, ruivo. Ela está se divertindo com outro cara, bebendo com outro cara. O que você fez não a afetou - minto - Então por favor, não volte a ligar.
- Não. - ele grita antes que eu possa desligar - Não, você não entende. Eu bebi muito pra criar coragem e te ligar, na verdade eu não parei de beber desde o show passado. - ouço ele suspirar do outro lado. - Eu vou te contar um segredo, mas não conta para ninguém.
Ele começa a me contar, e eu fico surpresa e atônita a cada palavra.

Give me Love [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora