Anastasia

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Os olhos de Ana foram de completa fúria para puro desolamento, do tudo para o nada em alguns segundos e então ela desviou o olhar para o mar de novo.

- Ana – Chamei, colocando minha mão em seu ombro. – Não precisa me contar, sério.

- Tudo bem, Harry, não tem problema. – Ela suspirou artificialmente, fechou os olhos por um momento e logo os abriu, mas estavam perdidos, como se Ana estivesse vendo os acontecidos antes de me contar. Mais um suspiro e então começou a falar:

- Eu tinha por volta de uns 17 anos e morava em uma cidadezinha no Japão, mas não me lembro muito bem onde, foi há muito tempo. Eu estava indo para a escola, estava quase no final do ano letivo e eu estava pensando no que fazer depois da escola sabe... – Sua voz tinha um tom amargo. – Eu estava a algumas quadras de casa já quando alguma coisa acertou bem na minha nuca – Ela colocou a mão no lugar onde foi acertada – Quando acordei, eu estava em um quarto que fedia a álcool e à decomposição, me amarraram à cama e me deixaram assim por uns três dias, até que eles vieram...

- Eles? - Embora Ana estivesse sofrendo enquanto contava sua própria história, não consegui conter a curiosidade.

- Sim, eram em três... Me lembro de cada feição do rosto de cada um, mesmo depois de décadas. – O rosto dela estava se contorcendo de raiva. – Harry –Ela olhou para mim. – Você pode não se lembrar muito bem da dor, mas tem certa noção do quanto doeu, não tem?

- U-Uhum. – Minha voz insistia em não sair.

- Isso que, pelas suas cicatrizes, elas estão bem fundas e bem perto da corrente sanguínea que leva para o coração – Pela primeira vez prestei atenção na cicatriz do antebraço e passei a mão pela do pescoço também. – Harry, você não tem noção das coisas que eles fizeram. Pelo menos uma vez na semana vinha um deles e me mordia bem fraco e em lugares onde a corrente demoraria para carregar o veneno: Eles mordiam os pés, as pontas dos dedos das mãos, as pernas... – Ela apontou para as pernas seminuas onde haviam pequenas marcas, tanto finas, como espetadas, quanto grandes, como se tivessem apagado cigarro. Estremeci com a ideia.

- Ana...

- Pesado né? Minha transformação demorou pelo menos um mês e cada dia parecia que eu estava no inferno, minhas veias queimavam, eu perdia a esperança a cada dia. E sempre que eu ficava fraca eles se aproveitavam do meu estado... Foi horrível. – E então aquele sorriso apareceu, mas milhões de vezes mais demoníaco. – O que eles não esperavam era que minha transformação seria concretizada horas antes de uma das visitinhas deles, logo que um deles entrou já pulei em sua garganta rasgando cada centímetro de pele que havia lá e então seu corpo caiu no chão, duro feito mármore. Quando saí do quarto, me deparei com vários corpos largados, o cheiro de decomposição vinha de lá... Infelizmente não achei os outros dois desgraçados, mas quando eu achar...- Seu olhos brilhavam novamente.

- Ana, eu sinto muito... – Coloquei minha mão sobre a sua e a apertei.

- Eu também já senti muito, mas agora o que eu quero é vingança.


Bite MeOnde histórias criam vida. Descubra agora