Prólogo

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– Alô, André – disparo com um desespero perturbador.

– Fala, Bernard. Aconteceu alguma coisa?

– Cara, eu te liguei por mais de dez vezes e você não atende essa droga de celular!

– Desculpe, estava tomando banho. Por que está tão desesperado?

Fico mudo, nem eu sei o que está acontecendo. E agora? Será que ele vai me entender? O que eu digo para ele?

– André...

– Fala, Bernard. O que tá pegando, irmão?

Fico em silêncio por dez segundos. André altera a voz.

– Cara, fala que já estou ficando preocupado!

– André, eu não sei o que está acontecendo! Juro que não sei! – começo a chorar feito uma criança sozinha – Cara, eu não consigo entender. O que eu faço agora? Isso teima em acontecer comigo. Será que até Deus é contra mim?

– Bernard, onde você está? Me mande a localização por mensagem que consigo te encontrar!

– Não adianta, André – minha voz começa a ficar mais firme. – Não sei onde estou. Nunca estive aqui, não há mais nada que eu possa fazer!

Desligo o telefone e vou em direção à janela aberta. Com a mão trêmula, pego a ponta  que sobrou. Não demora para a erva me fazer relaxar. Pela janela, vejo na esquina um grupo de adolescentes esperando chegar alguma encomenda de drogas, os famosos aviõezinhos. Uma rua escura, casas velhas e um silêncio profundo naquele lugar. Profundo até alguém do apartamento ao lado começar a pular na cama velha e fazer um barulho repetitivo. Entre uma tragada e outra, consigo escutar a conversa na rua e o barulho do colchão. Consigo até escutar o barulho da sirene dos policiais da rota que vêm se aproximando. Deito no sofá marrom – tem um buraco nele – em frente à janela, vejo as luzes vermelhas e azuis piscando no teto descascado. Nem o barulho do meu celular tocando ColdPlay tira a minha tranquilidade:

'Cause you're a sky, 'cause you're a sky full of stars

I'm going to give you my heart

'Cause you're a sky, 'cause you're a sky full of stars

'Cause you light up the path

I don't care

Go on and tear me apart

I don't care if you do

'Cause in a sky, 'cause in a sky full of stars

I think I saw you

'Cause you're a sky, 'cause you're a sky full of stars

I want to die in your arms

'Cause you get lighter

The more it gets dark

I'm going to give you my heart

A música contagiante me faz levantar e começo a dançar sobre o tapete vermelho e empoeirado deste lugar. Nem mesmo esse abajur velho e queimado irá se salvar de ir para o chão.

– Ops, cuidado! Não caia, abajur.

Esbarro de leve no corpo caído no chão.

– Ei, levanta dai! – digo – Vamos! Vamos viver a vida do jeito que você me ensinou. Vamos, vamos! Não me deixe dançar aqui sozinho – começo a me emocionar – Por favor, venha!

Levanto seu corpo, passo suas mãos em torno de minha cintura.

– Ei, olhe para mim... Lembra quando dançamos em cima da mesa? – começo a rir sozinho, solto o corpo e deito no sofá – Não sei porque você dorme tanto! Pensei que essa noite seria uma das melhores da minha vida, mas você nem pitou comigo. Só quer saber de dormir... Por que você me trouxe para esse lugar? Ah, já sei... Claro que você queria me fazer uma surpresa! Mas não poderia ser em um lugar mais bonitinho? Mas você sempre me surpreende. Levante deste chão!!! Ah, antes que me esqueça... Esse cachecol não combinou com a fantasia!

Bernard - Agilmar FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora