Era uma noite de domingo. Meu pai sempre ia jogar baralho em um clube no centro de São Paulo. Muito bem arrumado, com seu blazer preto, caminhava na sala deixando seu perfume para que todos o elogiassem.
- Onde vai hoje, papai? - perguntava
- Hoje papai vai sair com os amigos. - respondia
- Eu posso ir junto?
- Não, meu filho, é coisa de adulto.
Sempre saía emburrado para meu quarto. Aquela semana era a última que o circo ficaria na cidade e ele havia prometido me levar para assistir ao espetáculo. Havia ganhado até cortesia na escola. Circus Maximos.
Naquele dia, ele saiu de casa e minha mãe foi ao meu quarto e disse:
- Filho, não fique emburrado deste jeito. O que aconteceu?
Eu, quando emburrava, ficava na minha. No meu canto. Quieto.
Sem muitas palavras, respondi:
- Papai tinha prometido me levar no circo.
Ela se levanta da cama e vai até a cozinha. Escuto um barulho de garrafas e já penso: "Vai beber!" Mamãe volta então com um copo com conhaque na mão, senta ao meu lado e passa a mão no meu cabelo.
- Então, vamos fazer o seguinte. Vá tomar banho rapidinho que eu vou te levar ao circo.
Não acreditei. Fiquei eufórico.
- Mas, e papai?
- Deixa seu pai pra lá. Vou me arrumar e nós vamos. Certo?
Em questão de minutos, já estava pronto batendo na porta do quarto dela. Os minutos se passavam e nada dela sair daquele quarto. Até que ela abre a porta e diz:
- Let's go, boy.
Entramos na antiga S10 preta que mamãe tinha e pegamos o trânsito infernal de São Paulo.
- Mamãe, não vai dar tempo de chegar lá.
- Vai sim, meu filho. Calma.
O celular dela toca e ela encosta o carro no acostamento. Atende o celular e eu fico mais apreensivo: "Anda, mamãe! Não vai dar tempo." Sem paciência ela diz "Calma Bernard!". Percebo que ela fica nervosa. Ela desliga o telefone e sarcasticamente diz:
- Hoje eu mostro para seu filho quem você realmente é.
Não entendo nada e pergunto:
- Mostra para quem, mãe?
Ela engata a primeira marcha e diz:
- Hoje você não vai ao circo. Amanhã prometo que te levo. Mas hoje, vamos acabar com toda essa palhaçada. Você vai conhecer o outro lar de seu pai. Calma que você já vai entender.
Olho para ela assustado. Outro lar? Como assim? Fomos na direção contraria ao circo. Para o outro lado da cidade. Fico sem entender o que estava acontecendo. Novamente o telefone toca. Ela atende dirigindo mesmo. "Calma, já estou chegando. Ele não vai sair daí tão cedo. Conheço Brian." Desliga o celular e o coloca no porta-óculos no teto do carro.
Ela pisou no acelerador e furou vários sinais vermelhos. Via alguns flashes de radares municipais. A cada quilômetro que ela andava, mais nervosa ficava.
- Vamos, filhinho, anda mais rápido - dizia olhando para o velocímetro.
Foi uma adrenalina só. Em um sinal, ela quase bateu de lado em um carro antigo. Recebeu várias buzinadas. Mas chegou. Era em uma rua muito bem arborizada. Zona leste de São Paulo. Parou em frente a um prédio de quatro andares. O porteiro então se aproximou e perguntou:
- Vai a algum lugar, senhora?
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Bernard - Agilmar Ferreira
Mystery / ThrillerBernard é uma história de um garoto que após um incidente percebe que a vida não é mais tão fácil como era antes. Ele é obrigado a fazer coisas que sempre julgou errado e perigoso, entretanto, precisava de algum dinheiro para sobreviver. Uma misteri...