Capítulo 6

34 14 43
                                    

Mesmo sendo chacota de André, eu acabei concordando. Não me despedi de ninguém. Fui direto ao portão. Esperei André por algum tempo e ele desativou o alarme do carro. Um Golf preto. Entramos no carro e desabafei:

– Não é só você que tem problemas com os pais. Você mesmo presenciou minha mãe dando seus ataques histéricos. Agora me ligaram e não atendi. Vou ouvir um mundo.

André arrancou com o carro e me surpreendeu:

– Pelo menos, você tem uma mãe que te ama. E não uma que quer te ver morto. Dê valor a ela, Bernard. Chega em casa e dá um abraço nela e diz "Mãe, eu te amo". Você acha que se eu tivesse a oportunidade de fazer isso com a minha, eu não tinha feito?

– Você disse que seu pai estava morto e não sua mãe.

– E é verdade. Como vou dar um abraço em uma mãe que me odeia?

– Por que tanto ódio, André?

– Sua rua é essa aqui? – ele desvia o assunto.

– À esquerda.

– Epa! Parece ter blitz na rua, e nós bêbados. E agora o que eu faço?

Procuro a blitz. Olho atentamente.

– Não é blitz. Eles estão na minha casa.

Ficamos mudos, André estacionou duas casas abaixo da minha e saímos. Chegando perto, havia uma faixa escrito "Interditado". Fiquei apavorado. Ouvi no rádio da viatura: "Sargento Borges, a perícia já está no local?"

– Perícia? – repeti apavorado.

Tentei passar a faixa e fui impedido pelo policial.

– Eu moro aqui. O que aconteceu.

– Pode passar. Apenas você.

Corri e achei meu pai desesperado, todo ensanguentado na varanda.

– Pai! – gritei.

– Filho. Sua mãe... – e começou a chorar.

– O que tem minha mãe?

– Está morta! Mas, eu juro, filho, não fui eu. Eu juro, meu filho.

Minhas emoções ficaram à flor da pele e entrei na casa. Logo, um policial veio em minha direção.

– Você não pode ficar aqui. Atrapalhará o serviço da perícia.

Olhei para traz e meu pai estava apavorado e algemado.

– Por que você está algemado?

– Não fui eu, filho. Eu juro que não fui eu.

Corri até a porta da cozinha e entrei. Disparei em direção ao quarto.

– Garoto, volta aqui. Você não pode entrar aí – o policial gritava.

Estava cheio de gente no quarto de meus pais. Fui devagar e olhei por trás de uma policial civil. Minha mãe estava deitada sobre a cama, com uma faca ao lado e deixando uma poça de sangue sobre o lençol de cetim. Ela estava vestida com uma fantasia de enfermeira. Nunca tinha visto ela com nenhuma fantasia. O policial veio e me pegou pela cintura.

– Já disse que não pode ficar aqui, garoto.

– Mãaaaae! – gritei alto.

Todos olharam para mim. O policial me levou até a parte externa e disse:

– Calma, vai ficar tudo bem. A gente vai averiguar o que acontecer e prender o elemento.

– Meu pai não é um criminoso, moço – falei bravamente.

Bernard - Agilmar FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora