Mesmo sendo chacota de André, eu acabei concordando. Não me despedi de ninguém. Fui direto ao portão. Esperei André por algum tempo e ele desativou o alarme do carro. Um Golf preto. Entramos no carro e desabafei:
– Não é só você que tem problemas com os pais. Você mesmo presenciou minha mãe dando seus ataques histéricos. Agora me ligaram e não atendi. Vou ouvir um mundo.
André arrancou com o carro e me surpreendeu:
– Pelo menos, você tem uma mãe que te ama. E não uma que quer te ver morto. Dê valor a ela, Bernard. Chega em casa e dá um abraço nela e diz "Mãe, eu te amo". Você acha que se eu tivesse a oportunidade de fazer isso com a minha, eu não tinha feito?
– Você disse que seu pai estava morto e não sua mãe.
– E é verdade. Como vou dar um abraço em uma mãe que me odeia?
– Por que tanto ódio, André?
– Sua rua é essa aqui? – ele desvia o assunto.
– À esquerda.
– Epa! Parece ter blitz na rua, e nós bêbados. E agora o que eu faço?
Procuro a blitz. Olho atentamente.
– Não é blitz. Eles estão na minha casa.
Ficamos mudos, André estacionou duas casas abaixo da minha e saímos. Chegando perto, havia uma faixa escrito "Interditado". Fiquei apavorado. Ouvi no rádio da viatura: "Sargento Borges, a perícia já está no local?"
– Perícia? – repeti apavorado.
Tentei passar a faixa e fui impedido pelo policial.
– Eu moro aqui. O que aconteceu.
– Pode passar. Apenas você.
Corri e achei meu pai desesperado, todo ensanguentado na varanda.
– Pai! – gritei.
– Filho. Sua mãe... – e começou a chorar.
– O que tem minha mãe?
– Está morta! Mas, eu juro, filho, não fui eu. Eu juro, meu filho.
Minhas emoções ficaram à flor da pele e entrei na casa. Logo, um policial veio em minha direção.
– Você não pode ficar aqui. Atrapalhará o serviço da perícia.
Olhei para traz e meu pai estava apavorado e algemado.
– Por que você está algemado?
– Não fui eu, filho. Eu juro que não fui eu.
Corri até a porta da cozinha e entrei. Disparei em direção ao quarto.
– Garoto, volta aqui. Você não pode entrar aí – o policial gritava.
Estava cheio de gente no quarto de meus pais. Fui devagar e olhei por trás de uma policial civil. Minha mãe estava deitada sobre a cama, com uma faca ao lado e deixando uma poça de sangue sobre o lençol de cetim. Ela estava vestida com uma fantasia de enfermeira. Nunca tinha visto ela com nenhuma fantasia. O policial veio e me pegou pela cintura.
– Já disse que não pode ficar aqui, garoto.
– Mãaaaae! – gritei alto.
Todos olharam para mim. O policial me levou até a parte externa e disse:
– Calma, vai ficar tudo bem. A gente vai averiguar o que acontecer e prender o elemento.
– Meu pai não é um criminoso, moço – falei bravamente.
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Bernard - Agilmar Ferreira
Mistério / SuspenseBernard é uma história de um garoto que após um incidente percebe que a vida não é mais tão fácil como era antes. Ele é obrigado a fazer coisas que sempre julgou errado e perigoso, entretanto, precisava de algum dinheiro para sobreviver. Uma misteri...