Capítulo 1

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FAZIA UM LONGO tempo em que não me olhava ao espelho enquanto tentava conter o nervosismo estampado em meu rosto, comecei a observar meus próprios detalhes. Meus cabelos cacheados estavam presos, uma base fina cobria alguns defeitos do rosto, e os lábios pintados com um rosa bem claro.

Já fazia um longo período que eu dava aula, porém as vezes me dava um certo aflito quando tinha que iniciar em uma turma nova, e esse era o caso. Estava substituindo uma professora, ou seja, além dos rostos novos, eles já estavam acostumados com a didática da professora anterior.

— Tenha um bom trabalho professora Willian's — e essa foi a tentativa da coordenadora me incentivar ao inicio das aulas, além é claro de me atolar de atividades anteriores da antiga professora.

Enquanto caminhava pelos corredores, percebi olhares curiosos dos alunos, estranhando a presença de uma mulher desconhecida nos corredores.

Entrei na sala de aula, todas as carteiras estavam vazias então aproveitei e coloquei em cada uma delas um papel com as atividades que eles deveriam me entregar da antiga professora.

Quando os alunos entraram na sala, já ouvi resmungos e reclamações sobre o papel das atividades.

Ri comigo mesma, às vezes acho que tenho algum poder, pois sempre sei o que os alunos vão falar e quando vão reclamar.

— Silêncio. — pedi e eles o fizeram, o que era raro em uma turma tão grande. — Sou a nova professora de vocês, me chamo Milena Willian's e darei o meu melhor para ajudá-los.

— Mesmo? O que são essas atividades então? — em todas as escolas tem aqueles alunos que adoram arrumar problemas em tudo.

— Essas atividades foram repassadas por outra professora, me instruíram que eu desse as atividades e até o final do mês vocês me entregariam.

— Não sabemos o assunto. — ouvi a voz de outro aluno.

— Bem, a coordenadora me passou que a antiga professora havia dado todo o assunto, isso está errado? — ouvi dois coros, o primeiro couro falou que estava errado e o segundo falaram que tinham o assunto. — O represente poderia me trazer o caderno com os assuntos?

— Corre, corre, você não disse que gostou dela? Então vai lá! — ouvi as vozes de alguns garotos, eu tinha 30 anos, mas minha aparência era bem juvenil.

Um garoto bonito com o caderno em mãos se aproximou. Ele era alto, port. atlético, os cabelos pretos e os olhos de um castanho escuro o que tornava seu olhar profundo.

— Qual seu nome? — perguntei para que eu pudesse decorar o nome do representante.

— Luck.

Analisei seu caderno e logo voltei a falar.

— Certo Luck, pelo que vi as atividades correspondentes à matéria foi passada corretamente, ou seja, não há necessidade de eu estar explicando novamente.

— Qual sua idade? — Ele perguntou ignorando tudo que eu havia falado. Ouvi algumas risadas, mas ignorei as risadas e a pergunta.

— Caso alguém não tenha a matéria Luck poderá emprestar, certo? - olhei para ele e o mesmo não desviava seus olhos de meus lábios o que me deixou um pouco desconfortável. — Pode voltar ao seu lugar Luck. – entreguei o caderno e o encarei séria para que ele voltasse ao seu lugar, assim que ele o fez comecei a dar minha aula.

No meio da aula fui interrompida com um avião de papel em minhas costas.

Era o último ano deles nessa escola e ainda assim eram tão infantis a ponto de jogar avião de papal?

Peguei o avião e perguntei.

— Quem foi? — o silêncio dominou a sala. — Vocês não são mais crianças, por que ficar brincando disso no meio de uma aula?

— Abra o avião. — um dos alunos sugeriu.

Fiz o que ele falou e estava escrito. "Luck é o mais velho, tem 23 anos. Da uma chance para ele."

Amassei o avião e o joguei no lixeiro.

— Não entendo o que querem dizer sobre isso, mas espero que não se repita. — falei encarando Luck que franziu a testa, logo ouvi sua voz.

— O que vocês fizeram?

— Nada de mais, mas tem o seu nome.

— A deixe em paz. — falou e eu voltei a escrever no quadro.

Quando o sinal tocou para que todos fossem embora, apaguei o que escrevi no quadro e esperei que todos se retirassem o único que permaneceu na sala foi Luck.

— Precisa de ajuda? — perguntei.

Luck respirou profundamente e levantou-se com sua mochila repousada em apenas um dos ombros, quando aproximou de mim disse.

— Não de bola para o que os outros falam.

— Dou aula há muito tempo, sei disso.

— Há quanto tempo? — quis saber encarando meus lábios. Era perceptivo o seu desejo.

— Há oito anos.

— Oito? — perguntou surpreso. — O que faz você ter...?

— Trinta anos.

— Não parece ter trinta anos, você não é nem casada.

— Como?

— A maioria das mulheres de 30 anos já são casadas. — falou sorrindo.

— Nem sempre, mas como você sabe que não sou?

— Suas mãos, você não possui aliança.

Rapidamente escondi minhas mãos no bolso do casaco e falei.

— Você deve ir embora, já acabou a aula.

— Vou, mas estarei ansioso para vê-la novamente amanhã.

Quando ele disse, meus batimentos cardíacos se alteraram, e não era raiva que sentia. Encarei-o por mais alguns segundos e então o dispensei.

Quando cheguei à frente de minha casa encontrei meu ex-marido junto de minha filha, ela tinha cinco anos, muito parecida comigo, os cachos pretos e grandes olhos castanhos, a pele bem branquinha e os lábios um pouco avermelhados.

Meu ex-marido usava um terno, os cabelos estavam penteados com gel, ele era advogado, nos separamos, pois ele havia me traído e as vezes aparentava ser um pouco agressivo, o que me fazia questionar o motivo dele escolher essa carreira, sendo que ele não tinha atitude de alguém que seguia as leis. Porém nem todo mundo é o que pensamos ser.

— Demorou demais. — reclamou assim que me viu.

— Se não está satisfeito pague uma babá.

— Você deveria ficar em casa cuidando da Alice e não trabalhando.

— Ah! Desculpe, tinha esquecido que não posso trabalhar e devo ser sustenta pelo pai da Alice.

— Mãe. — Alice choramingou. Peguei-a no colo e entrei em minha casa sem olhar para trás. Sugeri que ele contratasse uma baba, mas quem fara isso sou eu, difícil depender de um homem, como ele.

LIMITES [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora