O hospital psiquiátrico de meu irmão ficava literalmente no meio do nada. Em um raio de sei lá, cinqüenta quilômetros só havia florestas. Fizemos a inspeção e toda a frescura para depois de meia hora podermos entrar no quarto. Meus avós entraram primeiro. E então foi minha vez.
Sebastian estava sentado na cadeira encostada de frente para a janela. Me sentei em uma poltrona e fiquei o encarando. Ficamos em silêncio por um tempo até que ele finalmente disse algo.
- Trouxe algo para mim? - Relaxei um pouco e sorri.
- Tentei, mas eles me revistaram antes de sairmos. - Ele finalmente me olhou.
- Poderia ter trazido algum livro. Já li todos os que tinha. - Olhei de relance para três pilhas de livros ao lado da escrivaninha.
- É... - Sorri .- Trarei da próxima vez.
- Se houver uma próxima vez. - Ele disse de forma sinistra encarando o nada.
- Er, ok. E aí como você tá? - Ele me olhou com uma espécie de dúvida.
- Bem, as sombras não andam aparecendo muito. - Ele sorriu, o sorriso de meu irmão era tão bonito e reconfortante, ao mesmo tempo nostálgico, me lembrava épocas melhores.
- Também queria ver essas tais sombras. Parecem tão... Assombradas. - Ele riu. Mas seu sorriso foi se dissipando, ele não olhava para mim, olhava para trás de mim, acima de minha cabeça. Senti um arrepio em minha nuca e me virei, não havia nada. Olhei para Sebastian, ele novamente olhava pela janela, seus olhos estavam esbugalhados.
- Coraline, não se deixe ser influenciada. O mal não vêm com uma aparência feia, ele vêm bonito e com promessas grandes. Você é mais forte que pensa. - Ele disse sem me olhar.
- Mas como assim?! - A porta se abriu e uma das enfermeiras entrou.
- Olá! Seu tempo acabou, seus avós já estão indo. - Olhei para ela e depois para Sebastian. Ele aparentemente saiu de seu transe e meu olhou sorrindo.
- Até mais irmãzinha, foi bom te ver.
No caminho de volta não parei de pensar sobre oque ele havia me dito. Aquela coisa ruim que eu sempre carregara desde pequena, a constante sensação de estar sendo observada, os sussurros incompreensíveis, os pesadelos, tudo, a alguns dias havia ficado mais forte. Tentei silenciar meus pensamentos e aumentei o volume de meu iPod. Fechei os olhos e me deixei sentir a música que falava em meus ouvidos. Artic Monkeys e Lana Del Rey me relaxavam, eu desligava o mundo e ligava minhas músicas, era minha saída favorita. Sem contar que fazia me parar de ouvir sussurros irritantes, não, não estou ficando louca, minha mente parece ser cheia dessas vozes que me enchem o tempo todo. Espero realmente não começar a ver coisas como meu irmão. Será que loucura é de familia? Tanto faz, como Senhorita Martinez diz, as pessoas loucas são as melhores.
Encarei as árvores pela paisagem e adormeci.
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Fantasium
ParanormalApós anos dos acontecimentos na fatídica férias de inverno da família Western e dos acontecimentos que marcaram a família de uma triste e assombrosa maneira a vida dos únicos filhos sobreviventes, Coraline e Sebastian Western sofre novamente interve...