Abri os olhos lentamente e me vi deitada em um sofá de couro, uma música ambiente tocava em algum lugar. Me sentei um pouco tonta e só então percebi que o garoto da biblioteca me observava sentado em uma poltrona também de couro a minha frente.
- Finalmente. Pensei que teria de jogar um balde de água gelada em você.
- Argh... - Esfreguei meus olhos. - O que raios estou fazendo aqui... E que lugar é esse?
- Sala de espera da diretoria do colégio. A enfermeira fez um curativo na sua testa e me disse para deixá-lá descansando aqui. - Toquei minha testa, estava um pouco dolorida.
- E... De quem estávamos correndo? - Ele me olhou como se eu o tivesse xingado.
- Você quer mesmo saber não é? - Ele se ajeitou na poltrona. - Pois bem. Meu nome é realmente Thomas Beauregard, como você já fez o favor de descobrir. Sou descendente da familia dona do antigo Grand Hotel e Sanatório. Você deve estar se perguntando muitas coisas, eu imagino. - Ele fez uma pausa. - Primeiramente, sua família tem ligações com nossa família a mais tempo que você imagina. Obviamente, as coisas passaram a serem mais abertas depois que sua irmã decidiu mexer onde não devia.
- Vou a Salmsville. Quero ir até lá, sei que encontrarei um jeito de livrar eu e meu irmão dessas memórias. E se você pretende me impedir, vá sonhando. - Ele me olhou com um sorriso sarcástico.
- Ha ha. Não, não pretendo impedir você e não sei por que pensou isso. Apenas quero te avisar que não é algo simples. Acha o que? Vai chegar lá, falar tranquilamente com eles e vão aceitar numa boa deixarem vocês em paz. Francamente, pensei que fosse mais esperta. - Me levantei e o fuzilei com meu olhar.
- Você não me conhece, Beauregard. Vou enfrentar o que vier e vou conseguir do meu jeito. Com licença.
Estava me levantando quando ele deu um salto da poltrona e segurando meu braço, me olhou nos olhos.
- Vou com você. Querendo ou não, não vai me impedir. As " sombras " como seu irmão as chama, atormentam minha familia a muito mais tempo que a sua. Preciso de respostas ainda mais que você, senhorita Rainha das Trevas. - Ele deu um mini sorriso apontando com o olhar minha mochila encostada ao sofá, eu havia colocado na etiqueta Queen of the darkness. Revirei os olhos e puxei meu braço.
- Que seja. Mas não me atrapalhe, filho de Hades. - Não pude deixar de admirar a teimosia dele, me identifiquei é claro. Também confesso ter me encantado com seu sorriso, e aqueles olhos de esmeralda... Ei, qual é? Sou feita de carne e ossos, tenho direito de achar um garoto bonitinho. Mas ainda o achava um grande petulante.
Sai da escola com Thomas em meu encalço, meu plano era passar em casa, colocar coisas importantes em minha mochila, como um moletom, meu iPod, um livro, duas maçãs, uma garrafa térmica com água, lanterna, e giz. Depois iria deixar um bilhete para meus avós com um recado do tipo : " Fui procurar o sentido da vida, não se preocupem, tento voltar antes do amanhecer. ", pular a janela e usar o que sobrou de minha mesada para comprar um maço de cigarros e uma passagem de trem para LonderWood. Porém não contava que um encosto viria comigo, me refiro a Thomas, e se ele achava que iria entrar para dentro e cumprimentar meus avós ele estava extremamente e lindamente enganado. Lhe disse para ficar na esquina de nossa quadra e fiz o resto como havia planejado, rasguei a parte de minha calça na panturrilha ao saltar da janela, não que me incomodasse, ela já estava rasgada propositalmente em vários lugares.
- Você tem dinheiro por acaso? - Lhe perguntei enquanto esperávamos na fila para comprar nossas passagens. Ele tirou uma carteira do bolso de sua jaqueta e quando a abriu fiquei boquiaberta ao ver varias notas verdinhas a recheando. Ele tirou duas e a guardou.
- Como imaginei que você não seria cavalheira em pagar algo a mim, vim preparado. - O olhei e percebi que com certeza estava com uma expressão ridícula, mudei para uma de indiferença e dei os ombros.
- Ainda bem que foi esperto, não pagaria algo a você nunca mesmo.
Nosso trem chegou a estação e esperamos pacientemente os poucos passageiros a nossa frente entrarem. Nos sentamos em um banco e fiz questão de dar um pequeno empurrão em Thomas para mostrar minha preferencia e sentar a janela. Suspirei e tirei o maço recém comprado e meu isqueiro dos bolsos. Acendi um cigarro e coloquei meus coturnos no banco, fumando tranquilamente enquanto apreciava a vista. Ouvi Thomas soltar um suspiro exasperado de desaprovação e sorri satisfeita.
* * *
- Acorda, chaminé! - Foi o que ouvi quando acordei com Thomas me sacudindo.
- Ei ! Qual o seu problema? - Esfreguei meus olhos e só então percebi que o trem estava parado.
- Chegamos. - Thomas anunciou.
![](https://img.wattpad.com/cover/62029797-288-k567707.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fantasium
ParanormalApós anos dos acontecimentos na fatídica férias de inverno da família Western e dos acontecimentos que marcaram a família de uma triste e assombrosa maneira a vida dos únicos filhos sobreviventes, Coraline e Sebastian Western sofre novamente interve...