Capítulo 5 - O garoto na biblioteca

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Cheguei em casa e fui até a cozinha onde meus avós tomavam café.

- Preciso ir visitar o Sebastian! - Anunciei batendo as mãos na mesa, minha avó me olhou assustada enquanto levava a xícara até os lábios, e meu avô se engasgou com o café.

- Como assim Coraline? Você está ficando mais maluca do que já é? - Minha avó disse, me sentei e peguei uma rosquinha.

- Preciso tratar de um assunto muito importante com o meu irmão. E se vocês não quiserem me levar, vou sozinha.

- Era só o que me faltava! - Vovô disse. - Coraline, você tem certeza? - Fiz que sim com a cabeça decidida. - Bom, então...

- Alfred! - Vovó disse. - Não vai mesmo dar corda para ela, vai? - Eles se comunicaram por um segundo com um olhar, e por fim minha avó suspirou. - Se ela se meter em confusão a culpa será sua. - Ela disse e se levantou, levando as xícaras até a pia. Olhei para meu avô sorrindo e disse um obrigado sem emitir som.

Desci do carro e caminhei em passos firmes até a recepção do hospital.

- Com licença, gostaria de visitar meu irmão. Sebastian.
A moça olhou algo no computador e me disse que ele estava no jardim. De longe o vi sentado em um banco de madeira em baixo de um salgueiro.

- Olá... - Ele me olhou assustado por um momento e sua expressão se suavizou.

- Oi Coraline. Ainda bem que não a trouxe hoje.

- Quem? - O olhar dele se perdeu um instante.

- O que veio fazer aqui hoje? Deveria vir sábado... Trouxe algum livro?

Tirei o mesmo livro que havia pegado da biblioteca. Ele o olhou fascinado.

- Agatha Christie? Pensei que você só lesse romances góticos. - Sorri revirando os olhos.

- É um bom livro, mas não é disso que quero falar. Pegue o recorte de jornal na última página. - Ele fez como eu disse e leu. Sua expressão ficou estranha. Uma mistura de nostalgia e pânico.

- Eles estão perto de você... - Ele disse de modo sinistro, quase um sussurro.

- É isso que quero entender Sebastian! Quem são " eles " e por que raios estão perseguindo nossa familia?! E o que realmente ocorreu naquela casa de campo? Por favor, eu vou acreditar no que você disser, só preciso de... Uma direção. Uma explicação. - Ele lentamente se virou para mim e me encarou por um momento longo, como se analisasse se eu merecia saber. E então começou seu relato.

Sebastian era um bom contador. Mas não foi isso que me fixou. Foi a história em si... O surto de Melanie, o sanatório, as alucinações extremamente reais, a provável real razão da morte de nossa mãe... A tentativa de Melanie em me matar, a " morte " ou melhor, sumiço estranho dela. Era muita coisa, mais do que eu pudesse imaginar. Fiquei colocando tudo em ordem por longos minutos e então o olhei estática, ele apenas encarava tranquilamente a grama.

- Então, provavelmente tem sim algo que estivesse naquele lugar, ou esta, eu preciso ir lá. É a única solução. Tenho que entender por que eles estão atrás de mim, por que aquele recorte estava justamente no livro que peguei e por que aquele garoto estranho ficou aparecendo. Tenho que ir a LonderWood. - Eu disse com toda a firmeza que tinha. Mas no fundo estava extremamente receosa. Levei um susto quando Sebastian agarrou meu pulso.

- Não. Você não pode ir lá. É o que eles querem. - Inclinei minha cabeça e soltei meu pulso.

- Bom, então conseguiram. Porque eu vou. - Ele me olhou intensamente.

- Não Coraline! Não posso deixar que você tenha o mesmo destino que eu tive! Fui curioso, imprudente. Se eu não tivesse insistido em achar Melanie e ido naquele maldito lugar tudo aquilo talvez não tivesse acontecido! E agora eu sou atormentado todo santo dia por essas malditas sombras! - Ele disse com raiva e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Suspirei.

- Eu vou fazer você ficar livre delas Sebastian. Eu juro, por você, por Melanie e por nossos pais. Eu fui a única que saiu sã disso, sem ofensas, é meu dever nos livrar dessas memorias ruins. - Segurei sua mão e olhei em seus olhos.

- Por favor irmão, eu prometo ser cuidadosa e me retirar de qualquer perigo. Mas não vou dar as costas a isso. - Ele me olhou angustiado e abaixou a cabeça.

- Teimosia vem de família... - Nós rimos, mas foram risadas bem aflitas.

Voltei para casa e me troquei, fui até a biblioteca avisar que ficaria com o livro mais uma semana, por tê-lo emprestado à Sebastian. Eu gostava muito do fato de a biblioteca da escola ficar aberta aos finais de semana. Fui para a mesma seção de mistério que fui a alguns dias. Fingi estar concentrada procurando livros mas na verdade esperava encontrar aquele garoto. Eu sentia que ele era uma peça importante.

Estava quase desistindo e indo embora quando senti duas mãos apertarem meus ombros e me virarem, ele me pressionou contra a estante e olhou em meus olhos, a poucos centímetros de meu rosto. Encarei seus olhos verdes um pouco atordoada.

- Onde esta meu livro? - Ele perguntou calmamente, como se fosse super normal aparecer do nada e abordar uma pessoa.

- Sera possível que terei que explicar de novo que aquele livro não é seu? - O empurrei. Ele me encarou novamente. - Mas só para saber, senhor Poirot, eu o emprestei para outra pessoa. - Seu olhar se estreitou mais ainda.

- Você é muito teimosa. - O encarei também com um sorriso irônico.

- Sim, eu sou. Mais do que imagina, Thomas Beauregard. - Eu esperava que ele ficasse com raiva por saber seu nome e me estrangular, mas seu olhar se distanciou, o semblante obsessivo e raivoso se tornou melancólico.

- Como... Faz muito tempo que não me chamam por meu sobrenome. - Inclinei minha cabeça.

- O que? Por acaso tem um pseudônimo ou algo do tipo? - Ele fez que não com a cabeça. Me olhou e logo depois para além de mim, revirei os olhos.

- Tem algo atrás de mim não é? - Ele me puxou pelo braço e correu. Eu realmente não sei porque me deixei levar, mas queria ver aonde isso iria chegar. Só não gostei quando ele deu uma curva precipitada e fui de cara a uma coluna, fiquei parada bem tonta e cai no chão, minha vista foi se escurecendo e perdi a consciência.

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