Capítulo sessenta e três.

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Assim que entraram no quarto de Luke, Madison foi até o banheiro e lavou seu rosto, tirando o resto de sua maquiagem, limpando seu rosto e prendendo seu cabelo em um rabo de cavalo bagunçado. Quando ela voltou ao quarto, Luke estava apenas de calça, e estava separando uma roupa para Madison colocar. Ele colocou uma regata e uma boxer, ambas pretas, em cima da cama e Madison se sentou na beirada.

- Eu vou tomar um banho. Pode trocar de roupa e fica à vontade. Se quiser pode ir comer alguma coisa na cozinha. -Luke murmurou, meio sem jeito e entrou no banheiro, fechando a porta-

Madison sabia que ele estava tenso com a conversa que viria a seguir. Ela também estava. Ela trocou de roupa, colocou seu celular para carregar em cima do criado-mudo de Luke e saiu do quarto, caminhando até a cozinha. Ela abriu a geladeira, pegou algumas coisas e começou a preparar dois sanduíches, um para ela e outro para Luke. Alguns minutos depois Luke apareceu na cozinha, com o cabelo molhado, e vestindo apenas uma bermuda preta de moletom.

- Fiz um sanduiche para você. -Madison falou e Luke sorriu ao ver Madison tímida. Ele se encostou no balcão, e, antes de pegar seu sanduíche, se inclinou e beijou a bochecha de Madison, fazendo a menina sorrir-

- Obrigado, morena. -ele mumurou e deu uma mordida em seu sanduíche, enquanto Madison fazia o mesmo no seu-

Madison sentou na bancada em frente a Luke que estava sentado em um banco, um pouco distante. Depois de ambos terminarem seus sanduíches, Luke resolveu falar, enquanto Madison bebia um copo de suco.

- Ele é mesmo seu ex-namorado? -Luke perguntou e Madison pousou seu copo, agora vazio, ao seu lado na bancada-

- Sim. -ela respondeu, fitando o chão, com a expressão séria- É uma história longa, Luke. Meu namoro com o Jazz desencadeou coisas dentro de mim que você nem imagina, por isso se você quer mesmo saber, tem que ser tudo. -ela falou e Luke assentiu-

- Eu quero mesmo saber tudo. -Luke falou e Madison assentiu-

- Vamos para o seu quarto. -ela pediu descendo da bancada. Luke se levantou também e ambos foram até o quarto do loiro-

Madison sentou na cama e encostou suas costas nos travesseiros na mesma, Luke sentou na sua frente, fitando-a atentamente, esperando que ela começasse.

- Três anos atrás eu conheci Jazz, e logo me encantei. Ele estava sempre me fazendo rir, sempre sendo carinhoso, cavalheiro e sempee flertando comigo. Eu era ingênua, tímida e acabei caindo na conversa dele. -Madison começou e respirou fundo, notando que nunca havia falado sobre isso com alguém, dessa maneira- Não demorou para começarmos a namorar. Depois de mais ou menos um mês de namoro Jazz mudou comigo. Não era mais tão carinhoso, estava sempre impaciente comigo, e eu decidi terminar. Na época eu achava que o amava, por isso foi bem complicado tomar essa decisão, mas mesmo assim eu fui até a casa de Jazz e disse que queria romper o namoro. Ele disse que ir mudar, que ia voltar a ser o Jazz por quem eu me apaixonei, e eu, boba apaixonada, aceitei e continuamos juntos. E ele mudou mesmo. Voltou a ser o Jazz carinhoso e cavalheiro, sabe? Mas isso não durou. Quando fizemos dez meses de namoro, tivemos nossa primeira briga série. Séria eu digo, realmente séria. Ele me viu conversando com um garoto que ele não gostava, e acabou se estressando comigo. Ele acabou me dando um tapa nesse dia, e eu fiquei tão chocada que não consegui fazer nada para me defender. Eu apenas arregalei meus olhos e olhei para ele, paralisada por ele ter feito aquilo. E, por um segundo, Luke, eu pensei que ele teria logo se arrependido de ter feito aquilo. Pensei que ele ia me dizer que foi um impulso de raiva, que não ia voltar a acontecer, não que isso mudasse algo. Ele havia batido em mim. Mas mesmo assim teria sido melhor do que eu ouvi logo depois. Eu fiquei em silêncio, esperando ele falar, e quando ele falou, eu só queria sumir. Ele começou a gritar que eu era dele, que eu tinha que obedece-lo, que ele era meu dono, e mais um monte de absurdos. Eu apenas comecei a chorar e falei que se fosse desse jeito, estava tudo terminado. Mas ele riu alto, e falou que nós íamos terminar quando ele quisesse. Ele tentou abusar de mim nesse dia. -Luke que estava chocado e furioso, sentiu seu coração parar com as últimas palavras de Madison, e ficou ainda mais tenso, observando atentamente a expressão fria de Madison- Eu não era mais virgem, mas eu estava com raiva dele, nunca que ia transar com ele depois do que ele me fez. Então ele apenas me agarrou e me jogou na cama. Se Maria não tivesse chegado do mercado e me chamado para ver se eu estava em casa, Jazz teria me estuprado. -ela deu de ombros e limpou uma lágrima que escapou- Eu fiquei com tanto medo que simplesmente não consegui falar para a minha mãe. Ela adorava ele, e nunca acreditaria em mim. Mary sempre notava que eu estava diferente. Eu já não sorria mais, não brincava mais, me afastei de todos os meus amigos, e simplesmente virei infeliz. Jazz só foi piorando. Estava sempre me tratando como lixo, e nem parecia o cara por quem eu me apaixonei. Quando fizemos um ano de namoro, a notícia do colégio foi que eu havia sido traída. Vazaram alguns vídeos de Jazz com garotas que eu nem ao menos sabia da existência. Eu me senti humilhada, e para mim, aquilo foi a gota d'água. Quando Jazz entrou no refeitório do colégio, eu me levantei da onde estava sentada e agarrei um menino que eu nem conhecia, lhe tascando um beijo. O menino, que conhecia Jazz, recusou meu beijo, para não se encrencar, mas a encrencada era eu. Jazz me agarrou pelo cabelo e me arrastou pelo chão refeitório a fora, com Mary, Nicole, Amber e Ashley atrás dele, mandando ele me soltar. Jazz me levou até o pátio do colégio e quando viu que o mesmo estava cheio, ele me soltou no chão, toda suja e aos prantos, e subiu em cima de uma mesa, chamando a atenção de todos. Eu lembro de Mary e as meninas me juntarem do chão e quererem me tirar de lá, mas quando Jazz começou a falar, ninguém conseguiu fazer nada. Ele gritou que estava farto de mim, me chamou de vadia, de puta, de gorda, feia, ridícula, e mais várias coisas. Disse que sentia pena de mim, sempre sentiu, e que só deu em cima de mim no ano anterior pois queria tirar minha virgindade, e depois que conseguiu, simplesmente ficou com pena. Eu apenas chorava, não conseguia fazer mais nada. Disse que eu era insuportável, que ninguém nunca ia me querer. Disse que eu era ruim na cama, que não valia a pena transar comigo, e que eu devia apenas morrer, pois era um favor que eu ia lhe fazer. Ele gritou que havia me traído com várias, pois esse era o único jeito de conseguir me suportar. E depois ele finalizou, mandando para todos do colégio um vídeo nosso, que eu nem sabia que ele havia feito. -ela falou e respirou fundo mais uma vez, se sentindo absurdamente exposta à um Luke chocado- Depois desse dia ele saiu do colégio, foi expulso. Meus pais, que estavam se divorciando, descobriram tudo, mas só o meu pai quis tomar alguma providência. Meu pai o denunciou e Jazz acabou sendo proibido de estudar em qualquer escola da cidade, por isso ele se mudou com sua família. E eu... Eu continuei infeliz. Amarga, como Amber gosta de falar. Depois disso eu acabei me tornando insegura comigo mesma, mais fechada ainda e sempre tensa. Acabei tendo bulimia, pois algo dentro de mim dizia que eu estava feia demais para que alguém se interessasse por mim. Depois de alguns meses, e de vinte e cinco quilos mais magra do que sou hoje, eu passei mal e tive que ficar dois meses internada, em uma cama de hospital, com soro na veia e sem perspectiva nenhuma de vida. Quando saí do hospital, comecei a fazer terapia, pois minha vida era uma merda. Eu havia sido humilhada, tive bulimia, meus pais se separaram, minha mãe nunca gostou de mim e fazia questão de me lembrar sempre que eu era gorda e que tinha que me cuidar... Eu simplesmente pirei. Minha cabeça se perdeu, e eu precisei coloca-la no lugar. –quando ela parou de falar, seu olhar se voltou para Luke que tinha o rosto pálido, a mandíbula trincada e o olhar baixo-

Agora ele entendia. Ele entendia o medo que Madison tinha de se apaixonar, de ao menos se aproximar. Ele entendia todo o sofrimento que ela sentiu. E por ama-la, ele estava sentindo também. Sua vontade agora era de voltar para o baile e matar Jazz com suas próprias mãos. Mas a única coisa que conseguiu fazer foi puxar Madison para seus braços e abraça-la fortemente.

Madison foi, sem nem hesitar. Precisava de Luke nesse momento em que parecia que estava sem chão. Seu muro havia caído, suas defesas e suas inseguranças estavam expostas e Madison se sentia fraca. Mas depois de segundos abraçados, ela se afastou minimamente e olhou para Luke.

- Hemmo... –ela sussurrou e ele a olhou, com os olhos cheios de lágrimas- Não quero que sinta pena de mim. –ela sussurrou tão baixo que Luke quase não ouviu-

Luke suspirou, beijou a testa dela e murmurou as quatro palavras que Madison mais abominava, mas que no momento, que ela mais precisava ouvir.

- Eu te amo, morena. –ele sussurrou e deixou uma lágrima escorrer-

All that matters. (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora