Capitulo quatro: Sombras em sua mente nada sã

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Ele gritava... Ou tentava gritar. Sua garganta estava sangrando, ele conseguia sentir o gosto metálico na língua enquanto torcia os braços para tentar sair das amarras. Dois olhos brilhantes seguiam seus movimentos no escuro e Harry não sabia se ficava apavorado ou se deixava o sentimento de alívio tomar conta de si por não estar mais sozinho.
Fazia muito tempo que sua voz já não saia por causa da garganta machucada, mas Harry não deixou de soltar um gemido ao ver a cobra imensa rastejar para onde ele estava jogado, amarrado ás barras da cela. Ele sabia que se a cobra estava ali, ele não estava muito longe.
Harry conseguia sentir.
Os passos dele chegaram primeiro. Harry já havia recebido visitas dele o suficiente para saber que os passos firmes mas meio arrastados como o rastejar daquela mesma cobra pertenciam a apenas uma pessoa e o ser em questão agora entrava na cela escura e úmida em que estava.
- Harry - a voz dele fazia com que arrepios percorrerem seu corpo. Era um sibilar que somente ele entendia e o tipo de voz que lhe entregava um estranho tipo de premonição. O tipo ruim de premonição - finalmente se cansou de seus joguinhos? Ou será que consegue me irritar mais ainda?
Os olhos vermelhos do bruxo encontraram com os verde esmeralda mas o menino não segurou o olhar. Tinha apenas seis anos! Você não queria que ele escarrasse o bruxo mais horrível do reino unido e não ficasse com medo, queria? Era insano.
- Tanto faz, na verdade - seus passos ficaram mais altos e Harry se viu sendo levantado pelo cabelo apenas para ficar cara a cara com uma varinha que agora já conhecia bem - você não vai se lembrar de nada mesmo.
E um clarão o acordou. Ofegante alcançou as cobertas que estavam o sufocando. Há muito tempo não tinha aquele pesadelo e por mais que tantos anos houvessem passado, ele não deixava de ser assustador.
Tentou voltar a se deitar na cama do hotel, mas sua mente estava mais acordada do que seu corpo e ele apenas conseguiu ficar olhando para o teto de gelo branco do oitavo andar. Ouvia os roncos de Mike no outro quarto o que tornava ainda mais difícil de voltar a dormir.
Desistindo, levantou do meio dos cobertores cor creme. Não se preocupou e calçar qualquer sapato ou colocar uma camisa, apenas colocou a calça jeans que havia tirado a poucas horas de volta e caminhou até o banheiro da suite. Estava com olheiras, notou ao ver seu próprio reflexo no espelho em cima da pia. A dias não dormia uma noite inteira. Entre shows, viagens e pesadelos suas noites estavam ficando cada vez mais curtas.
Suspirou enquanto se abaixava para jogar um pouco de água no rosto e notou com repudio as cicatrizes que lotavam suas mãos. As várias marcas de cortes e o calo em sua mão direita eram frutos do treinamento que Mike lhe propusera a seis anos atrás e mesmo que odiasse as cicatrizes ainda não se arrependia de aceitar o treinamento.
Havia começado seu treinamento mágico com quase sete anos. Muito mais cedo até do que as crianças puro sangue, e ao completar dez, já sabia o suficiente para cuidar de qualquer comensal da morte que se pusesse em seu caminho, mas havia continuado a estudar. Sua magia primal, seu núcleo mágico era, segundo Mike, mais forte que a maioria e ele não havia tido o selo do ministério sobre si, por algum motivo estranho, então conseguia fazer magia sem receber uma coruja de Madame Bonnes por uso indevido de magia. O que, é claro, Mike aproveitou ao máximo em seu treinamento.
Tinha um talento especial com defesa e com vôo mas suas poções e seus feitiços não eram de se colocar defeito. Mas o que gostava mesmo era transfiguração. Aos nove já havia decorado todo e qualquer feitiço transfigurante e quando completou doze anos já havia conseguido se tornar um animago, com ajuda de Mike claramente. Seu animal, um cervo, era o mesmo que seu patrono e, ele descobriu depois de uma pequena pesquisa no ministério, que era o mesmo patrono que seu pai, James Potter.
É desnecessário dizer que ele saiu pulando pelo hotel quando descobriu, né?
Rindo baixinho, já esquecendo o pesadelo novamente, voltou para o quarto e pegou um dos livros que Mike havia comprado em sua ultima visita ao beco diagonal. Uma cópia do volume doze de defesa contra a arte das trevas que havia saído não muito tempo antes nas vitrines do mundo bruxo. Pegou também uma garrafa de cerveja amanteigada e se mudou para a poltrona em frente á sacada do prédio. O ar noturno ainda passava pela janela mas Harry já sabia que não faltava muito tempo para amanhecer.
Bebendo sua cerveja em pequenos goles, ele folheou o livro até chegar á página que havia parado, mas não começou a ler imediatamente. Sua mente ainda estava colada aos últimos acontecimentos no mundo bruxo. O número de ataques de comensais estavam aumentando e a famosa Ordem da Fênix não estava conseguindo contê-los. Ele mesmo já havia pedido para Mike que o próximo Show fosse marcado para Londres para que ele conseguisse manter um olho sobre os Potter's mas Mike estava mantendo sua palavra que iria protege-lo e não aceitava nenhum argumento sobre entrar na luta.
Depois de dez anos vivendo com Mike e Alice ele havia aprendido muita coisa sobre os dois irmãos. Mike, mais velho que Harry e Allyson por onze anos era muito mais criança que os dois juntos. Era ele que o havia salvo dos comensais quando tinha seis anos e havia sido ele que havia tomado sua guarda e lhe ensinado tudo o que havia aprendido em Hogwarts. Mike havia aceitado quando quis se tornar um cantor trouxa. Ele sabia os seus motivos. Ele havia sido seu braço direito por muito tempo agora e o havia protegido contra tudo que havia aparecido em sua vida, o que não era pouco. Harry sentia por Mike o mesmo que sentia por James, mesmo que nunca tivesse falado com o último. Para todos os sentidos, Mike era o pai que Harry havia perdido.
Já Allyson era bem diferente. Para começo ela era a unica menina entre eles. Tendo a mesma idade que Harry eles não demoraram muito para se tornar amigos e ao longo dos anos algo mais que isso. Harry tinha o anel em sua mão esquerda para lembrá-lo sempre. Ally havia sido sua confidente e sua cúmplice durante muito tempo. Harry ainda se lembrava do tempo em que os dois se escondiam no armário de vassouras dos hotéis depois de terem pregado alguma peça em Mike ou em alguma camareira. Somente Ally sabia sobre os pesadelos que sofria praticamente todas as noites. Somente ela havia visto todas as cicatrizes que havia ganhado enquanto estava com ele, antes deles o encontrarem. Allyson havia ganhado um lugar especial dentro da alma de Harry. Os dois não conseguiam ficar um dia longe do outro, quanto mais ficar separados durante uma semana. Não se via Ally sem Harry ou Harry sem Ally. Era como se eles estivessem ligados por um fio.
- Harry? quando você acordou? - Mike o tirou de seu devaneio ao entrar em seu campo de visão. Ele usava uma expressão preocupada que fazia Harry sorrir.
- Não muito tempo atrás, na verdade - explicou ao olhar o nascer do sol que se estendia no horizonte. Inconscientemente esfregou o anel dourado com o polegar, ação que não passou despercebida por Mike que sorriu e lhe bagunçou o cabelo já despenteado naturalmente.
- Falou com Ally ontem? - perguntou sentando-se na poltrona ao lado da de Harry, deixando seu olhar passar pelo adolescente de quase dezessete anos - Como ela está?
Harry voltou seu olhar para a bebida em sua mão. Gotas haviam escorrido pelo vidro e se concentravam no fundo da garrafa. Ele levou seu tempo para responder e Mike não o apressou. Sabia muito bem que ter que ficar um mês longe de Ally estava deixando Harry maluco.
- Ela está bem - começou o moreno sorrindo com os olhos desfocados - Reclamou um pouco dos pés que estavam começando a inchar mas de resto tudo estava bem. Os elfos domésticos estão fazendo um grande trabalho cuidando dela. Durante a nossa conversa Hoppe apareceu três vezes para perguntar se ela queria algo - O olhar esmeralda voou para a cama onde o espelho que usara para conversar com a sua princesa morena estava em baixo de um dos travesseiros.
- Isso é bom - concordou Mike - é para isso que temos eles.
- Eu só queria poder terminar essa turnê logo - reclamou franzindo o nariz para Mike que gargalhou ao seu lado, mas sorriu logo depois.
- Vamos terminá-la logo - consolou tentando parar de rir - mais cinco cidades e voltamos.
- Cinco? Pensei que iriamos para Sicília, Roma e depois voltaríamos - a expressão de Mike confundiu Harry ainda mais - O que você não me contou? Para onde vamos?
Mike riu antes de se levantar e esticar os braços. Enquanto se dirigia para a porta tentou ignorar o olhar penetrante em suas costas mas se virou no ultimo momento para sorrir um pouco mais. Harry ainda estava sentado com uma expressão gritante no rosto.
- Pensei que você queria ir para Londres garoto - e saiu.
Harry teve que piscar algumas vezes antes de entender o sentido da frase. Então ter feito birra tinha servido de alguma coisa afinal e eles estariam indo para Londres.
Ele tentou não pensar nos ataques e focar em sua família. Ele sabia que os Potter's eram quatro, mas não conhecia o quarto membro adicional. Sorrindo ele voltou a olhar para o amanhecer.
Ainda queria que Ally estivesse ali com ele...


Um grito alto fez com que todos os residentes da Toca deixassem o que for que estivessem fazendo para correr até o quarto das meninas onde Gina, Hermione e Jasmine estava a várias horas, mas foi uma correria em vão já que todas estavam muito bem. Na verdade, notou James, Jass pulava pelo quarto como se tivesse ganhado um guarda roupas inteiro novo enquanto Gina e Hermione riam sentadas no chão.
- O que houve? - riu Arthur junto com os Weasley's mais velhos enquanto Ron franzia o rosto no canto. Fred e George riram antes de correr até Jass e começar a pular com ela.
- Ele vai vir para LONDRES! - gritou a pequena Potter enquanto fazia uma dancinha da vitória esquisita que os gêmeos não deixaram de imitar.
- Quem, querida? - riu Lily aparecendo com Molly e Alice Longbottom. As três tinham sorrisos no rosto depois de olhar a cena que acontecia no quarto.
- Hadrian - Gina explicou enquanto Hermione passava a cópia diária daquela revista de meninas que Jass queria no início da semana. A ruiva em questão ainda pulava pelo quarto sem parar. Rindo James tentou ler a página por cima do ombro da sua esposa, mas não conseguiu entender muita coisa. Hermione logo tratou de explicar a alegria mutua das meninas.
- Hadrian estendeu a turnê antes da pausa que ele vai fazer - ela riu - o próximo Show dele vai ser em Londres.
- Nós vamos - anunciou Jass.
James ia tentar convencer a filha do contrário quando Lily concordou com a cabeça. Estupeficado, ele olhou para Lily, apenas para vê-la olhando para a revista com os olhos lacrimejando. Em silêncio ele tomou a revista dela e olhou para a página que estava fazendo sua mulher tão angustiada. Uma foto que tomava a página inteira mostrava o tal "Hadrian". O jovem tinha cabelo negro e um bom porte físico, mas foi o rosto que fez todo o ar sair dos pulmões de James.
- Hey, sou eu - riu Damien que havia ficado quieto até aquele momento, mas James sabia que não era uma foto do garoto ao seu lado. O cabelo do menino da foto alcançava os ombros enquanto o de Damien estava cortado mais ou menos curto e por mais que as semelhanças aprovassem seus pensamentos de que eram o mesmo adolescente, James sabia que não.
Damien não tinha olhos verdes como os de Lily.

HadrianOnde histórias criam vida. Descubra agora