Era uma noite chuvosa, e Katherine estava sozinha em sua casa, à espera de Maurice, seu marido. Distraía-se escrevendo algumas crônicas em sua agenda de couro preta. Só aquilo realmente a relaxava. No dia seguinte, seu maior sonho estava prestes a se concretizar. Seus olhos brilhavam só de pensar em entrar em uma sala de aula.
Katherine mantinha uma vida estável e pacata. E isso era o que mais a irritava. Sua vida era normal demais. Ela esperava ainda pelo momento marcante de sua vida. Não era de costume brigar com o marido, Maurice, com quem se casou apenas "por casar". Era um bom homem, que a ajudava no que podia. Mas ela não o amava.
Seus olhos eram de um mel intenso e bem claro. Seus cabelos eram longos – porém sempre presos em um coque – e brilhantemente castanhos. Katherine era dona de uma beleza peculiar e distinta.
Em grande parte do tempo, ela se esforçava em usar a razão, e evitar o sentimentalismo. Nunca conseguia. Era uma pessoa muito sensível, provavelmente por ter visto quando pequena sua vida virar de cabeça para baixo.
- Boa noite, querida. – disse Maurice, beijando o canto de sua boca
- Boa noite, Maurice. Estou indo dormir cedo hoje, mas o frango assado está no forno. Sirva-se.
Katherine odiava cozinhar. Nem era muito boa nisso, mas Maurice ficava feliz ao ver que ela ao menos se importava em não deixa-lo com fome, mesmo que fosse comendo um frango assado queimado e batatas ressecadas.
Ansiedade a definia, e não conseguia parar de evitar em pensar em como seria o primeiro dia. Em como seria uma nova experiência em sua vida entrar em uma sala de aula e sentar na mesa do professor. Seus olhos brilhavam só de imaginar.
***
Katherine acordou por volta das cinco e meia da manhã, extremamente feliz. Ela planejava aquele dia desde que se formou. Sua excitação era evidente. Faziam apenas dois meses que ela estava em Londres e já havia conseguido emprego.
O internato ficava a alguns quarteirões do prédio onde Katherine morava. Era um casarão acinzentado com um imenso portão preto o cercando. Era um lugar com poucas árvores e ausência de cores vivas.
Ao vê-lo por uma fotografia, Katherine achou que não se identificaria com o lugar. Mas uma oportunidade como a que tinha recebido é pouco comum. Com um sorriso estampado em seu rosto, ela encarava o primeiro dia com otimismo.
Maurice trabalhava no internato há dois anos, mas pouco falava do colégio para Katherine. Ele não queria que ela se desanimasse. Achava até que sua contagiante alegria e otimismo poderiam tirar o sombreado e desânimo do lugar.
Após alguns minutos, já se era possível ver o enorme casarão. Próxima a cerca, se podia ver algumas meninas saindo de seus dormitórios e dirigindo-se às salas de aula, em um ritmo semelhante ao de soldados.
Maurice estacionou seu carro no pequeno estacionamento destinado aos professores. Ele pôs a mão no ombro da jovem professora, e abriu um largo sorriso:
- Dará tudo certo, Katherine.
- Não tenho dúvida disso, Maurice. – ela sorriu, beijando seu rosto
***
Katherine dirigiu-se à sala de Elis Bloedorn, a diretora da escola. Era uma mulher conhecida pela personalidade fria e violenta. Tinha cabelos grisalhos sempre presos em um coque, olhos ligeiramente esbugalhados, sempre vestia um terno preto e calças escuras.
Quando Katherine entrou, Elis estava fumando um charuto, com os pés recostados em sua enorme mesa de madeira. A diretora encarava Katherine com uma ligeira desconfiança. Esse era o seu olhar para quase todas as pessoas.
- Olá, - disse Katherine, um pouco insegura – sou a nova professora do último ano. Katherine Altreider.
- Bom dia, senhora Altreider. – disse Elis, rispidamente
- O que preciso saber, diretora Bloedorn?
- Nada que a faculdade não a tenha ensinado, querida. – disse, em tom sarcástico – Apenas pegue esses livros e suma da minha sala. Tenha um bom dia.
Katherine a olhou com raiva ao ser desrespeitada daquele jeito. Mas apenas pegou os livros e se retirou da sala da diretora:
- Eu vou provar à essa mulher que não sou qualquer uma.
***
Ao entrar na sala, Katherine observou as jovens alunas. Todas quietas, com uma expressão de medo em seus rostos. Muitos diziam que era dessa forma que elas se comportavam, principalmente quando estavam sendo vigiadas pela diretora.
Na última carteira estava Emily Bloedorn, a neta da diretora. A única pessoa que já teve coragem de enfrentar Elis, e pagou caro por isso. Era tão bonita que nem parecia ser neta de Elis. Tinha olhos verdes-vivos e cabelos loiros.
- Bom dia, professora Altreider. – ela disse, em tom baixo
- A turma é tão quieta assim mesmo?
- Geralmente.
- Bom, tenho a tradição de presentear professores chegados. E já escolhi o seu presente.
- Uh, sério?
- É só aparecer no quarto 23, seis e meia da tarde.
- Prometo que irei.
Logo, desmentiu mentalmente. "Não, não posso fazer isso", pensou "ela tem 17 anos, e é minha aluna, que ridículo". E durante todos aqueles minutos de aula, Emily não conseguia tirar os olhos de Katherine.
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Doce Amor Fatal
RomanceA história se passa em 1965, em Londres, quando a jovem e recém-formada professora Katherine Altreider chega à cidade para dar aulas de literatura em uma escola só para meninas. Lá, se encanta por uma de suas alunas, Emily Bloedorn. As duas acabam s...