P.O.V. Emily
Fiquei trancada por horas naquele depósito escuro, até que perdi a consciência. Não estava a fim de pensar nas consequências que aquela fatídica festa me traria. Meus únicos pensamentos naquela hora, eram como sair dali, e como a noite teria valido a pena se o beijo com Katherine tivesse acontecido.
Por um instante, fiquei completamente sem ar. Me apoiei na maçaneta da porta, e comecei a bater os braços contra a porta, fazendo com que, após alguns minutos, minhas mãos estivessem avermelhadas.
Até que escutei passos bem lentos, e o barulho de um molho de chaves. Era Elis. Aquela víbora iria finalmente me soltar. A força com que a porta foi aberta me empurrou para um dos cantos do depósito. Ela não olhava diretamente em meu rosto. Apenas jogou no chão um pedaço de pão com queijo e uma garrafa de água:
- Espero que coma, porque será a sua única refeição do dia.
- Você é desumana, - eu disse – um dia pagará por tudo isso, Elis Bloedorn.
Elis deu uma gargalhada e depois olhou diretamente para mim, expressando desprezo e raiva:
- E quem é você acha que é para dizer se estou condenada a pagar por meus pecados? Deus? Não, é só uma pequena vadia que não sabe nada da vida. E eu morro de pena de você. Ainda acredita que o mundo há esperança. Mas se olhe: está rastejando junto com seus germes nessa sala imunda. Você é deplorável, Emily.
Nunca entendi o real motivo do ódio que ela sentia por mim. Eu era sua neta, e ela me devia amor. Mas não, me tratava de forma inaceitável até para um escravo, com humilhações frequentes e violência.
Foi então, que comecei a chorar. Ela estava certa. Era só eu olhar para onde eu estava que perceberia que o bem não necessariamente vence o mal. Eu estava sozinha naquela sala quente e escura, sem saber quando realmente sairia de lá. Provavelmente notariam a minha falta.
***
Flashback
Elis aproximou-se do sofá da sala de estar, onde sua filha, Regina, estava a ler uma fatídica documentação, enquanto Emily dormia tranquilamente no berço. Regina parecia estar assustada com algo, e estava à espera de seu marido, Logan.
- Por que está tão aflita, Regina? – perguntou Elis
Regina apenas se aproximou da mãe e lhe mostrou a documentação:
- E ainda tem coragem de me perguntar, mamãe? Eu a peguei no flagra fazendo algo de muito errado!
- Ah, e o que seria? – disse, indiferente
- Você está prestes a vender o internato que está no nome de nossa família para uma construtora, não é? Iria sabotar tudo para que pensássemos que foi fechado por ordens judiciais! Não é?
Por essa, Elis não esperava. Estava prestes a arrancar o papel das mãos de Regina, quando Logan entrou na sala e a repreendeu:
- Então você já contou tudo a essa mulherzinha, não é, Regina?
- Ei, me respeite! Essa é a minha e eu não admito que fale assim comigo.
- Ah, você não parecia se importar com hierarquia quando vendeu o internato sem o consentimento da família! Não é porque seu pai está em um quarto de hospital que ele deixou de ser o dono daquela merda.
Elis percebeu que ao lado da lista telefônica estava sua arma, onde sempre a deixava. A arma ficava lá desde que era uma menina, porque seu pai tinha medo de receber "visitas indesejadas" em sua casa. Sem hesitar, Elis a pegou e escondeu no bolso da calça, enquanto Logan analisava o documento:
- Só lhe digo uma coisa, Elis: você está fodida. Você falsificou nossas assinaturas, pode ser presa por estelionato. Pode não, vai ser. Espere só eu te denunciar.
De repente, Elis pegou a arma de seu bolso e apontou para Logan, e logo em seguida para Regina. Elis não suportava a ideia de que acabara de ser desmascarada. Seus olhos estavam totalmente concentrados em apertar o gatilho:
- Não me obriguem a fazer isso, seus desgraçados.
- Pelo amor de Deus, mãe, não faça uma besteira dessas.
- Besteira? Achei que soubesse com quem estivesse lidando, filhinha. Acha mesmo que não teria coragem de matar você e esse mauricinho que você chama de marido?
- Pare com isso, Elis, não seja tão ridícula...
Logan foi interrompido com um disparo certeiro, próximo ao coração. Antes de cair, morto, a encarou por meio segundo, chocado. Seus olhos expressavam tamanha raiva que nunca sentira desde muito tempo.
- E agora? Duvida?
Regina estava trêmula. Encostou a cabeça do corpo de Logan próxima a seu rosto, mas não conseguiu manter, porque não parava de tremer. Seu rosto estava vermelho de tanto que estava chorando:
- Você é um monstro! Eu tenho nojo de você. EU TE ODEIO!
Naquele instante, Elis disparou vários tiros em Regina, que caiu sobre o tapete da sala, já ensanguentado por causa do corpo de Logan.
Elis foi arrastando os corpos até o quintal, onde os queimou. O peso em sua consciência enfraquecia cada vez mais. Vender o internato não era uma boa ideia. Assim que Phillip, seu pai, morresse, ela teria direito a toda a herança e seria dona daquele maldito colégio.
Flashback off
***
Katherine foi chamada na sala de Elis. Sua expressão ficou pálida ao perceber que Maurice estava ao lado da diretora:
- Katherine, a diretora Bloedorn fez graves acusações a seu respeito. Sugiro que me conte se elas têm veracidade.
Katherine continuava sem expressão. Não olhou diretamente para Elis. Focou apenas em seu marido. Se aproximou e disse:
- Quem se importa? A diretora Bloedorn nem sequer testemunhas tem, e se as garotas ficarem do meu lado, será a nossa palavra contra a dela.
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Doce Amor Fatal
RomanceA história se passa em 1965, em Londres, quando a jovem e recém-formada professora Katherine Altreider chega à cidade para dar aulas de literatura em uma escola só para meninas. Lá, se encanta por uma de suas alunas, Emily Bloedorn. As duas acabam s...