• O Início do Fim •
19:06 PM
7 de Abril, 2013
Quinta✳✳✳
As horas avançam caladas enquanto seu delicado corpo deleitava-se no acolchoado branco, coberta por flores em tons rosados. Ela parece estar dormindo, alguém balbucia no final da sala. Sua mãe permitiu apenas que dez pessoas aqui permanecessem, zelando seus olhos cerrados enquanto pergunta a Deus, pela milésima vez, porque isso veio a acontecer justo com ela. Talvez Deus não tenha uma resposta.
Do lado de fora, um rapaz observa pela fresta da janela. Seus olhos deixam que respingos grossos e devastadores lavem as vidraças.
Suas lágrimas, hoje, não estão tão molhadas; parecem lâminas afiadas, cortando-o, matando-o...
Conheço bem essa dor.
Os olhos inchados e roxos agora parecem distantes, a inolvidável expressão me fez lembrar que devo entregar-lhe uma coisa importante, uma coisa que lhe foi deixada por ela.
Mas, será que ele realmente merece suas últimas palavras? Justo ele, quem não estava lá enquanto ela dizia adeus por meio do apitar das máquinas? Por quem ela chamou milhares de vezes durante a dolorosa noite e não reteve respostas?
Porque ele?
Não fui bom o suficiente para suprir suas manias de querer desbravar o mundo? Me diz! -- ouvia meu interior gritar. Mas ela não pode responder, eu bem sei.
A dor do rapaz me fez decidir.
Ando até as janelas, os braços cruzados sobre o peito como se para aparentar grandeza e seriedade, mas os olhos sempre me entregaram.
"O que está fazendo aqui" encosto-me a parede, fitando seus olhos azuis levemente avermelhados postos entre as cortinas.
Ouço seu suspirar alto enquanto abro a janela com lentidão. Ele limpa as bochechas, tentando se recompor -- um gesto altamente falho.
"Eu precisava vê-la" sussurra, escondendo o rosto com o capuz negro de seu moletom. "Sei que não sou bem vindo aqui e sei, mais que tudo, que me julgam o culpado por... Por isso" embarga-lhe a voz, "mas eu nunca seria capaz de... Eu a amo, Bryan, como você nunca poderá descrever."
"Sempre a amei" fito o rosto dela moldado por seus cabelos castanhos, "até mais do que deveria."
Ouço o peso de seu corpo alternar.
"Me deixe chegar mais perto" ele avança, parece que invadiria o local se preciso fosse, mas retém um próximo passo.
"Não é permitido."
Suas mãos travam nas jardineiras cheias de flores murchas na beira da janela. Movo-me para mais perto, retirando o caderno com folhas desiguais e um tanto úmidas que escondia entre o cinto e a calça escuros. Ele fita meu movimento estranho.
"Ela queria que eu lhe entregasse isso" retiro um cartão branco, cuja a folha de linhas rosadas e letras claras e irregulares se expõe em uma das laterais. Entrego-lhe o pequeno envelope feito com uma folha branca decorada com pingos transparentes de lágrimas.
Ele ameaça abrir o papel, mas o beija e guarda no bolso.
"Deixe-me dizer adeus..." súplica.
Aperto os olhos e abro a porta ao meu lado, ele entra cabisbaixo, tropeçando nos próprios pés, ajoelhando-se feito um desesperado, agarrando as bordas do caixão com força e medo. Não diz nada, apenas permanece assim até que as horas o acusam e a mãe dela o põe para fora.
Eu te amo, isso foi tudo o que ele disse antes de andar trepidante pelas calçadas molhadas e frias da noite tão assustadora.
A pequena e triste reunião continuou até que senhora Grinned decidiu que estava na hora de enterrar aquela pequena lembrança de seu rosto e tentar abafar o cheiro intenso e a mim tão insípido que a morte deixara.
Assim que a chuva cessou e todos se foram deixando apenas uma lápide, cheiro de terra molhada e eu, retiro do cinto o pequeno caderno de capa escura delicadamente decorada com pontos brilhantes e fotos antigas de uma vida a qual nunca participei de verdade. Com lágrimas ainda fugindo dos meus olhos, lembrando seu então esconderijo sendo trancafiado por camadas de terra escura e sendo decotados com rosas cor de marfim e lírios quase transparentes, abro-o entre as mãos trêmulas, e, ainda que a visão esteja turva e a voz embargada, leio as palavras como um bêbado solitário balbuciando frágil coisas inaudíveis e indecifráveis para a noite perturbada e agridoce:
"Querido Diário...
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RomanceA morte não leva pessoas, ela apenas tira o que mais admiramos nelas: a vitalidade. Lisandra era uma garota estonteante, atrevida - de certa forma. Ela procurava transmitir apenas sua parte boa para as pessoas, a ruim e triste ela escreveu em um diá...