☀ Julho, 2012
O frio aumentou e a obscuridade do cemitério gritava em meus ouvidos. Sombras brincavam com minha imaginação. As vezes parece que vou ver a própria Lis, parada ali, me observando, o vestido branco com o qual fora enterrada sendo levado pelo vento como uma bandeira em um navio pirata.
Meu sweater não parece mais uma blindagem contra o frio. Na verdade ele está tão frio quanto a noite.
Mas o caderno continua em minhas mãos, quase impossível de ler agora, mas, ainda assim, eu tento não pensar em fantasmas ou o que quer que seja. Apenas leio.
“Aquela tarde, quando mamãe estava no trabalho — que parece ser o único lugar onde ela não enlouquece totalmente — e eu estava livre por algumas horas, decidi sair. Peguei minha bolsa, a carteira e, já arrumada, decidi voltar àquele bar.
Algo me despertara o interesse no rapaz do outro lado da avenida.
Ele estava usando um sweater azul, quase preto, e coturnos militares que paravam no tornozelo.
Parecia distraído, sorrindo e apontando para as flores de uma loja. A menina que o atendia parecia inteiramente submersa no assunto e nos olhos do rapaz. Ela o encarava como se enxergasse muito mais do que ele deixa transparecer.
Eu nunca o vi sorrir daquela forma. Já o tinha visto algumas vezes pela redondeza desde o acidente com mamãe, mas ele estava sempre tão sério e centrado em seus próprios pés. Esse homem que agora vejo parece outro. Um clone sorridente.
Me aproximei, fingindo também observar as flores.
— O que você acha das petunias? — a menina entregou-lhe uma flor. Ele a cheirou e saboreou o odor doce.
— Não são minhas preferidas, mas ainda assim são flores, não são?
— E de quais flores você mais gosta? — ela arrumou os vasos em frente ao rapaz, como se para ele escolher.
Ele pousou um dedo sobre os lábios. Impossível não comentar como aquele gesto fora sexy.
— Ó, mas são muitas. Lírios. Íris. Tulipas. Rosas... Todas são bonitas.
— Me diz uma, apenas uma.
— Íris. Elas são bonitas — ele tocou as pétalas de uma bonita flor lilás. — E as suas preferidas?
— Eu gosto de narcisos, campânulas e as pequeninas verônicas. E, estranhamente, tenho uma paixão secreta por essas aqui...
A garota se virou e abaixou, recolhendo um vaso com uma planta estranha e flores mais estranhas ainda. A coloração roxeada sobre pétalas que parecem babadinhos pontudos e, no centro, um carpelo redondo como um pinho.
— Ela se chama eringon. Uma planta floral que mamãe trouxe em uma de suas viagens, certa vez.
— É muito estranha — ele sorriu dando uma olhada da planta. — E você? Qual a sua favorita?
O que? Ele está falando comigo? Porque? Eu não sei nada sobre flores!
— Eu não...
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RomanceA morte não leva pessoas, ela apenas tira o que mais admiramos nelas: a vitalidade. Lisandra era uma garota estonteante, atrevida - de certa forma. Ela procurava transmitir apenas sua parte boa para as pessoas, a ruim e triste ela escreveu em um diá...