Capítulo 2

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Julho, 2012

Após pensar e repensar sobre o porquê de Lis sempre ter me escondido toda aquela verdade, retomei minha leitura, puxando o casaco para fechá-lo contra o frio e ignorando a falta de luz, tendo assim que aproximar meus olhos do papel.

As primeiras palavras me deixaram atônito:

Não aguento mais!

Mamãe estava lá, no quarto ao lado, chorando, desfazendo-se em lágrimas que mais parecem navalhas.

Ela o chama em desespero.

Eu o chamo.

Papai é o único que poderia ajudá-la agora, mas ele é o motivo para as lágrimas, para o sangramento.

Tampei os ouvidos com as mãos, mas de nada adiantava.

Eu deveria ter entrado naquele quarto e chorado junto com ela, mas eu não fui capaz. Ao contrário dos meus pensamentos, me ergui e pulei a janela do quarto. Corri e corri um pouco mais, a procura de qualquer bar, qualquer boate aberta.

Encontrei. Após circular quase toda a Westmeath, finalmente encontrei.

O interior do bar era cor caramelo, com salpicadas de verde por toda a parte. Sobre o balcão copos grandes de chope molhavam o vidro a frente de seus 'bebedores'. Três homens se viravam para mim como se uma garota nunca tivesse entrado naquele lugar.

Me sentei ao fundo, na última cadeira disposta no balcão. O atendente me ergueu sobrancelhas grossas como tarântulas, mas nem se quer tirou os olhos dos barris se esvaziando.

— Ótimo — sussurrei, rolando os olhos.

O homem nem mesmo se mexeu.

O copo se encheu com a cerveja espumosa e ele apressou-se para entregá-la a alguém do outro lado do bar.

— Cheguei! — a voz doce de um rapaz cruzou o estabelecimento, o sorriso do Sobrancelhas-de-Tarântulas foi o bastante para eu entender que o garoto iria trabalhar a valer hoje.

Observei-o repousar sua mochila cheia de bottons numa cadeira vazia e correr para trás do balcão, retirando deu agasalho sem cerimônia, ficando apenas com uma camiseta azul.

— Bem — o ouvi murmurar, abrindo mais um dos barris —, não acha que já bebeu de mais Senhor Carvonek?

— Ora, rapaz. Deixe-me beber.

— Nunca ouve o que os médicos te dizem? — o garoto parecia divertir-se com as viradas de olhos da maioria dos homens no balcão.

— Ora, eu ouço sim. Eles dizem que se eu continuar bebendo irei morrer, então é melhor beber enquanto estou vivo, não acha?

— Mas, se o senhor morrer, como irá vir aqui encher a cara de novo? — os risos encheram o lugar de luz, tirando o ar soturno do ambiente.

— O espírito dele não vai nem para o inferno, muito menos para o céu; — um homem gritou — ele vai é para um desses barris!

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