Além do inesperado

Prólogo

Entro no meu apartamento receosa, depois da confusão de ontem eu não quero definitivamente olhar na cara daquele bastardo outra vez. Mas minhas preces não são atendidas, ele aparece no corredor puxando uma mala grande e na outra está com o Morpheu nos braços.

- Para onde você acha que está levando o meu cachorro?

- Eu só estou buscando o que é meu por direito! – Diz passando por mim.

- Ficou louco? O Morpheu é meu! Você me deu de presente.

- Agora estou pegando de volta, vou vender ele e ganhar um dinheiro.

- Nem pensar, só me matando! Me devolva meu filho aqui! – Avanço para os braços dele, agarrando meu cachorrinho.

- Solta, Isa, você vai machucar ele!

- Solta você ou vou fazer um escândalo aqui. Já não está satisfeito de ter ferrado a minha vida? Volta para sua prostiranha, porque acabou o dinheiro que sustentava ela. Você não vai ver um centavo meu mais.

- Não sei porque esse escândalo, poderíamos ter um relacionamento aberto, super normal hoje em dia.

- Só se for no seu mundo, porque no meu, ainda prefiro a monogamia. Agora fora da minha casa, porque sua presença está me fazendo passar mal.

- Só deixa eu te dizer uma coisa: eu nunca gostei de verdade de você. Só queria seu dinheiro e sua fama, é a única coisa que você serve. Nem na cama conseguia me satisfazer, a cantora pop sexy, mas que em quatro paredes é uma merda! A imprensa vai adorar saber disso. – A sensação é que eu levei uma surra, com a tensão e dor que percorre meu corpo.

- Você não teria essa coragem!

- Bem, agora acabou mesmo, até nunca mais linda... – Bato a porta desabando no chão. Não chore, Isabela... Não derrube uma lágrima por esse filho da puta, penso. É nessas horas que vemos para que o sorvete e o chocolate existem... E claro, uma irmã louca para te ajudar nesse momento. 

Dizem que todo conto de fadas termina com um: Felizes para sempre... Porém o meu conto de fadas terminou quando descobri uma traição e um golpe do meu noivo, a pessoa que convivi por dois anos, muito tempo jogado no ralo e literalmente perdido. Agora eu decidi que preciso de um tempo para mim, podem dizer como um retiro espiritual, que seja, só preciso sumir do mapa.

Ok! Me chamo Isabela Montenegro, tenho vinte e seis anos e tenho uma irmã gêmea louca que se chama: Isadora. Somos a dupla dinâmica, Isa e Dora para os íntimos. Temos as personalidades mais diferentes do mundo, eu sou a razão e ela a loucura.

Assim que me formei no ensino médio já sabia muito bem o queria fazer da minha vida. Trabalhar com música e foi aí que com muito esforço consegui entrar num dos melhores institutos de música, batalhei muito para chegar onde estou hoje.

Foi através do meu professor que tudo aconteceu. Tornei-me uma grande cantora, uma super pop star, comecei uma carreira que eu nunca pensei possível, vi minhas músicas nas paradas de sucessos, shows marcados e produtos com o meu rosto estampado.

Minha irmã virou minha companheira, me acompanhando e me ajudando a todo o momento. Isso acabou sendo uma terapia para ela, depois de levar um fora do babaca do Kauã. Eles namoraram durante cinco anos, se conheceram no ensino médio, ele foi para faculdade e minha irmã também, mas foi quando a nada ajuizada resolveu entrar no mundo dos cosméticos, virou uma maquiadora top. Então eles terminaram por que ele queria casar e ela não estava pronta para isso, palavras do babaca!

- Vamos Isa, levanta dessa cama, você já deve ter engordado uns 5 quilos, desse jeito vou ter que te mover rolando nessa cama, esquece o Richard.

- Já esqueci!

- Uhum, até parece com essa cara de bruxa que você está. – ela caminha até a janela abrindo as cortinas, a luz forte me faz fechar os olhos, coloco o braço tampando meu rosto. – Você é uma irmã muito má, má.

- Sim, sou a cruela, a malévola que você ama. – diz se jogando na cama ao meu lado, seus braços cruzados atrás da cabeça, quando ela para pensando assim é porque vem fogo.

- Fala... O que está pensando?

- Acho que tenho a solução dos seus e dos meus problemas também, estamos velhas e solteiras agora, para o desespero dos nossos pais.

- Ok, e aí?

- Estamos com as nossas contas bancárias em saldo bem positivo, diga-se de passagem. Chegou a hora, você já tinha falado e agora está na hora de realmente fazer isso.

- É o que estou pensando? Você vai mesmo fazer isso?

- Por que não? Eu sou a irmã com um parafuso a menos, lembra?!

- Certo! – levanto o mais rápido que posso e vou até meu escritório, abro a gaveta e tiro o grande mapa do país e volto para o meu quarto, pareço uma criança que acabou de ganhar o maior presente de todos, vendo minha agitação o Morpheu fica mordendo meu tornozelo. – Para com isso bebê, não morda a mamãe.

- Não sei porque fica conversando com esse cachorro como se fosse um filho. – ela revira os olhos como sempre.

- Me deixa! Aqui está o principal, vamos escolher, quais estados você tem preferência? Eu prefiro praia!

- Opa! Opa! Pode parar aí... Nada de planos! Que tal irmos pelo inesperado... – ficamos as duas olhando para o mapa.

- Oi?!

- Isso! Dessa vez vai ser você, na próxima viagem eu faço. – ela estende o braço tirando a caneta da minha mão. – Agora siga aquela mentalidade de Yoga que você faz, para irmos com energia positiva e não essa de derrota que você está.

Fecho os olhos e ela coloca a caneta na minha mão, conto até dez, respiro fundo, movimento a mão aleatoriamente, até que finco ela fortemente em um ponto. Abro os olhos morta de curiosidade, então vejo o nome: Saintville. 

Que diabos de lugar é esse?