Capítulo II

33.2K 2.2K 282
                                    

Dei um último olhar para Chicago, imaginei que estaria deixando a cidade por um motivo totalmente diferente.

Pensei em Jesse e na vida que poderíamos ter juntos, uma vida segura e normal. Um emprego comum, um par de filhos e um marido que me amasse, um pequeno sorriso irônico tomou conta dos meus lábios ao pensar no quão ingênua eu fui ao me permitir fazer planos, Matteu nunca me deixaria viver em paz. Provavelmente seria sua prioridade acabar comigo e com todos que eu amo, não que tivesse qualquer sentimento por mim, ele jamais iria tolerar ser envergonhado de tal forma.

No meu mundo casamentos são alianças e o amor é fictício, um mundo obscuro e cheio de dor onde as mulheres não passam de troféus e os homens de soldados. Pensei em minha mãe, nas dezenas de remédios que ela tomava quando ninguém estava vendo, na forma como ela fechava os olhos para as escapadas do meu pai e no triste futuro que aguardava à mim e ao meu irmão.

É como um ciclo vicioso, no final só tem uma forma de deixar a máfia e esta é a sete palmos da terra.

Balancei a cabeça tentando afastar esses pensamentos e entrei no jatinho, haviam cerca de doze poltronas, as do fundo ocupadas pelos soldados. Me sentei na primeira e esfreguei meu rosto, imagens do atentado de mais cedo ainda pesando em minha mente.

Eu nem mesmo havia me casado e a situação já havia piorado, eu já havia visto mais mortes do que qualquer pessoa deveria ver e a cada ano elas aumentam. Olhei para o céu estrelado da minha cidade Natal, dificilmente voltaria aqui novamente dado ao fato da pequena rixa que a casa de Nova York tem com a de Chicago.

Captei um movimento com meu rabo se olho, era Matteu se sentando bem à minha frente.

"Você precisa mesmo se sentar perto de mim? Não é como se eu pudesse fugir dessa droga de avião." Me ignorando ele abriu o notebook e começou a digitar totalmente alheio ao meu olhar que o fuzilava, eu o odiava tanto.

Odiava tanto à ele quanto ao meu pai, que tipo de pai vende sua filha como se fosse um mero objeto? Sim, eu fui vendida. Usada como moeda de troca para que ele subisse de posto, para que tivesse um status maior.

De mero soldado à sogro do futuro do Capo de Nova York.

Rangi meus dentes deixando a raiva tomar conta do meu corpo, é nisso que tenho que me concentrar. Raiva é bem melhor que a dor ou decepção, não vou me permitir ser mais uma vítima.

Irei me casar porque não tenho alternativa, se eu fugir toda a minha família iria sofrer e não conseguiria viver com isso. Portanto me casarei, mas se Matteu pensa que irei ser uma dócil submissa à seus abusos está muito enganado.

Desviei meus olhos para a aeromoça que tinha um uniforme bem escasso, torci o rosto quando ela parou à nossa frente, seus olhos devorando Matteu de forma descarada.

"Posso te oferecer algo, Senhor?" Perguntou com uma voz que devia acreditar ser sexy, revirei os olhos.

"Estou bem, Jessica." A descarada teve a ousadia de se inclinar e colocar os peitos na cara dele.

"Acho que ele disse que não quer nada." Disse o mais ríspida possível e só então ela pareceu me notar, ergui a sobrancelha sem me deixar intimidar por sua beleza exótica.

Seus olhos passaram lentamente por mim e logo um sorriso falso tomou conta de seus lábios.

"E você querida? Aceita um suco ou talvez um refrigerante?" Questionou apoiando a bunda ossuda na poltrona, ao lado do rosto de Matteu.

Prometida à Você Onde histórias criam vida. Descubra agora