Capítulo XXVIII

16.6K 1.3K 31
                                    

Acordei com alguém mexendo em meu cabelo e abri os olhos lentamente. Matteu estava sentado na beira da cama me olhando dormir, suspirei e me sentei.

"Eu vim lhe acordar para nós irmos ao hospital." Ele disse olhando para qualquer lugar, menos para mim.

"Já me sinto bem melhor, por isso não vejo motivos para todo estardalhaço. Provavelmente foi algo que eu comi, apenas isso." Eu disse de forma inexpressiva, não podia ir ao hospital porque tenho quase certeza de que estou grávida e Matteu não pode sonhar sobre isso.

"Eu estou preocupado com você, Helena e não pense que deixei passar sua perda de peso." Revirei os olhos.

"Deve ter alguma coisa a ver com todas as mortes que estou tendo que lidar e não vamos nos esquecer da sua traição." Vi seu olhar magoado, mas me neguei a dar o braço a torcer.

"Eu estou tentando, Helena, estou tentando deixar tudo para trás para que possamos ser felizes." Dei uma risada depreciativa.

"Não tem como deixar tudo para trás, Matteu." Não consegui segurar as palavras e isso não era inteligente. "Me deixa sozinha."

Ele levantou e andou até a porta, mas deu meia volta e veio com tudo para cima de mim. Tentei me afastar de seu beijo, mas ele me segurou pela nuca e o aprofundou.
Mesmo depois de tudo o que Matteu fez não conseguia negar o efeito que ele tinha sobre mim, me permiti por uns segundos esquecer de tudo e aproveitar.

"Eu te amo e sei que você sente o mesmo, Helena, pare de mentir para si mesma." Eu o amava sim, com todo o meu ser para ser sincera, mas não confiava nele e com certeza não estava disposta a me arriscar de novo lhe dando uma chance. A máfia me tirou tudo e não vou arriscar perder mais nada para essa vida. Queria poder fechar os olhos para tudo o que ele me fez e começar de novo, mas isso não iria acontecer.

***

Peguei meu notebook e olhei os anúncios sobre acompanhantes. Passei por centenas até encontrar a perfeita. Eva Martinez era perfeita, mesma altura, mesma cor de cabelo, cor da pele e o corpo parecido. Poderíamos ser irmãs, conversei com ela pela internet e marquei um encontro para daqui a dois dias, já havia combinado tudo com Jesse e estava finalizando os últimos detalhes.

Nesses últimos dias deixei Matteu se aproximar pouco a pouco para que ele não desconfie de nada, meu único problema no momento é o Enzo que vem estranhando minhas atitudes, mas anda muito distraído com a própria vida para se meter com a minha.

"Helena?" Me virei para Marissa tentando disfarçar a tensão em meu corpo e esconder o modelo do notebook, eu tinha dois celulares e dois notebooks não podia deixar nenhum rastro por isso tinha que oculta-los o máximo possível. "Podemos conversar?"

"Sim." Murmurei me virando totalmente para ela.

"Eu sei que já disse isso, mas queria lhe pedir desculpas de novo. Nunca deveria te tratar mal baseada em meu passado." Franzi a testa para o que ela quis dizer, mas não havia tempo para isso agora tinha que tirá-la daqui o mais rápido possível.

"Marissa..." Comecei, mas ela me interrompeu.

"Deixe-me terminar, Helena, eu nunca vi meu filho tão feliz como quando você surgiu na vida dele. Sei que ele cometeu um deslize na relação de vocês..." Semicerrei os olhos, deslize? Essa mulher deve ser louca. Seu rosto entristeceu e ela parecia ter envelhecido dez anos. "Eu só quero lhe pedir para dar uma chance ao meu menino, Helena, ele não vai mais fazer isso. Eu vi o olhar dele quando Leonardo o obrigou a te deixar naquele hospital e tenho certeza de que ele te ama mais do que tudo e todos." Respirei fundo, a impaciência estava tomando conta enquanto mais uma pessoa tentava transformar o traidor na vítima. "Meu filho não dormiu, não comeu e eu praticamente tive que lhe forçar a tomar um banho no vestiário dos enfermeiros, Helena."

"Eu também amo seu filho, Marissa." Disse olhando em seus olhos para ela pudesse ver a verdade nos meus. "Mas não sei se posso deixar tudo para trás, não é como se ele tivesse sido honesto sobre o que aconteceu." Ele mentiu e transou comigo, mas uma coisa boa surgiu disso tudo. Me controlei para não passar a mão em minha barriga que ainda estava plana. "Agradeço a sua iniciativa de vir até aqui, mas eu preciso de tempo para lidar com tudo o que aconteceu." Ela assentiu e saiu me arrancando um suspiro de alívio.

Tenho que ter mais cuidado, guardei meu notebook debaixo da cama e comecei a escolher cuidadosamente minhas roupas. Amanhã será o grande dia e não posso negar as dúvidas que começaram a surgir em minha cabeça, só existe uma forma sair da "família" e era morrendo. Fugir significava estar sempre olhando por cima do ombro é assim que você quer criar seu filho? Meu subconsciente gritou para mim, acariciei minha barriga e pensei em como seria minha vida se continuasse aqui.

Teria que aguentar as traições de Matteu, teria que ver meu filho crescer e ser treinado para assumir o lugar do pai ou minha filha passar pelo mesmo que eu, se casar sem amor e com um homem desprezível. Eu? Bem, eu iria me perder dentro de uma personalidade fria e ficaria cada vez mais parecida com Marissa. Não vou seguir nessa sina, fitei a janela.

Assim como há pouco mais de um ano observei os pássaros voando, mas ao contrário do que houve em Chicago dessa vez não vou me contentar com isso. Eu já não era mais a Helena adolescente, insegura e ludibriada. Não, agora eu sou uma mulher que já perdeu demais e que é responsável por outra pessoa. Essa vida não é para mim e muito menos para a criança que estou esperando, caminhei até a estante onde havia um enorme porta retrato do dia do meu casamento. Matteu tinha um sorriso arrogante e o braço na minha cintura de forma possessiva e eu tinha um sorriso falso que não escondia o temor dos meus olhos.

"Não é isso que eu quero pra nós." disse com os olhos marejados e um peso em meu coração.

***

"Vamos Giovanni?" Disse chegando na sala de estar onde Matteu, Enzo e Ignácio estavam.

"Vai sair?" Vincenzo perguntou ao se levantar para me abraçar.

"Sim, vou fazer umas compras e depois quero visitar meus pais." Observei o desconforto tomar conta de seu rosto.

"Se quiser posso lhe acompanhar." Dei um sorriso enquanto negava com a cabeça.

"Jeremy disse que preciso começar a socializar mais e conhecer novas pessoas e não sei se é uma boa idéia fazer isso com você. Eu preciso estar sozinha, mas obrigado pelo convite." Vincenzo me fitou atentamente e embora me sentisse culpada tentei dar meu olhar mais inocente. Depois de um tempo ele assentiu e sorri aliviada.

"Vamos marcar alguma coisa para esse fim de semana? Sinto falta da minha melhor amiga." Meu coração apertou e senti os olhos marejarem. Vincenzo não merece a forma fria com a qual venho tratando-o, por impulso lhe abracei apertado.

"Eu te amo e você é como um irmão para mim, Enzo, me desculpe por ter lhe deixado para enfrentar tudo isso sozinho" Disse fungando o que atraiu a atenção de todos.

"Eu também te amo." Ele disse me arrancando uma lágrima solitária. "Tem certeza de que não quer que eu vá com você?" Assenti e limpei a lágrima, hoje fazem cinco meses que meus pais morreram e não da para acreditar em tudo o que houve nesse meio tempo. Deveria aproveitar meu último dia na cidade com minha pessoa favorita daqui, mas sei que se passasse mais tempo em sua presença Enzo iria descobrir tudo.

"Tenho, me liga depois?" Ele assentiu e lhe dei mais um abraço apertado, e coloquei meus óculos.

Prometida à Você Onde histórias criam vida. Descubra agora