Conquistando Um Vigarista [Concluído]

Capítulo 09: Nada a Perder.

Desligo o celular, depois de rejeitar mais uma chamada em menos de 2 minutos.

- O que está acontecendo? – Liz pergunta, tirando os olhos dos papeis à sua frente e me lançando um olhar desconfiado.

- Nada, por quê?

Ela arqueia as sobrancelhas e sorri, dizendo com os olhos ''você sabe o porquê''.

- Não era nada de importante. – Reviro os olhos. – Estou te ajudando e não quero me distrair.

- Faz três dias que você quase não sai de perto de mim, e eu percebi que tem rejeitado as ligações da Amber, você não está aqui só para ajudar. Está fugindo.

- Não estou fugindo, não é minha culpa você ter deixado todos os detalhes do casamento para os últimos dias. – Argumento, tentando inutilmente não admitir algo que ambos sabemos.

A campainha toca e Liz se levanta para receber nossa pizza. Depois de pagar, ela volta e coloca a caixa na mesa de centro. Avanço, pegando uma fatia e voltando a me recostar no sofá.

- Você está fugindo, mas o que não entendo é por que. Dormiram juntos e agora ela está no seu pé?

- Quem dera fosse isso. – Murmuro, empurrando as folhas de listas para o chão.

- Se você manchar isso eu te mato. – Ela diz, pegando quase metade da pizza e colocando em um prato. – Não me olhe assim, estou grávida.

Desvio o olhar, sorrindo.

- Não falei nada.

- Lembra quando você disse que eu estava apaixonada pelo Drew, antes que eu tivesse percebido isso?

- Sim.

- Então, é uma situação quase igual. Você está apaixonado pela Amber, mas algo me diz que você já sabe disso. – Diz, olhando diretamente em meus olhos.

Sim, eu sei disso. Tenho plena consciência que me apaixonei por aquela morena sem vergonha. A culpa é toda dela por ter entrado na minha vida e nos meus pensamentos daquele jeito, e quando percebi já não conseguia mais deixar de vê-la, ou falar com ela. E todo aquele lance de pedir ajuda para voltar com o ex? Fala sério, essa diaba morena fez de propósito.

- Pois é. – não sei o que dizer e não poderia negar, muito menos mentir para minha melhor amiga.

- Por que você está fugindo? Abre o jogo, Noah.

- Liz, ela gosta do ex. – massageio as pálpebras, não querendo falar disso. – Melhor deixar para lá.

- Só acho que você devia seguir o conselho que me deu. Depois serei obrigada a dizer ''eu te avisei''.

Bufei e me inclinei, pegando o resto da pizza.

- Vamos acabar logo com essa lista de comidas e decoração, já estou de saco cheio dessa merda. – Resmunguei. Irritei-me ainda mais quando ouvi sua risada alta e o sorriso de deboche estampado no rosto.

[...]

Entrei no meu apartamento com a cabeça quase explodindo.

Desde o momento que entrei no carro comecei a pensar no que a Liz disse. Eu tinha que falar essa porra logo, afinal sou um homem, não um moleque medroso. O que eu tinha a perder? Talvez a amizade dela, mas ao meu ver nada precisava mudar.

Com uma coragem recém tomada, voltei alguns passos e abri a porta decidido. Parei de repente ao ver Amber ali, com a mão erguida, pronta para bater.

- Noah! – Exclamou. – Que bom que está bem. Tem dias que estou te procurando e não consigo falar com você. – Termina e vai entrando, jogando a bolsa no sofá.

- Eu estava ocupado.

- Sua campainha está estragada? – Continua como se não tivesse me ouvido. – Estou a uns cinco minutos tocando e nada.

- Acho que não. – Começo. – Amber, eu...

Seu olhar se ilumina e ela bate palmas animadas, me interrompendo.

- Você não sabe o que aconteceu. – Diz, se sentando. – O Toby me procurou ontem e pediu para voltarmos...

Paro um segundo, assimilando o que ela disse. Eu tinha plena consciência que ela ainda estava falando, apesar de ter parado de prestar a atenção. Estava a um passo de soltar o famoso ''estou apaixonado por você'' e a mulher me vem com uma bomba dessas. Pelo menos fui poupado da vergonha que seria dizer algo comprometedor e ela falar que voltou com o ex. E essa dorzinha no fundo do peito eu iria ignorar, afinal existem coisas piores do que um sentimento que não é reciproco.

- ...então eu só consegui pensar que isso é graças a você, não é? – Amber continuou. - Por ter me ajudado, e por isso, eu resolvi tentar.

Aceno com a cabeça e forço um sorriso.

- Espero que você seja feliz dessa vez, morena.

Um misto de surpresa e decepção cruzou seu olhar. Às vezes Amber tentava disfarçar, mas é muito expressiva e eu percebi que não era essa a resposta que ela esperava de mim. Talvez quisesse que eu rastejasse e implorasse para que não fizesse isso, porém, ela é bem grandinha e capaz de tomar as próprias decisões. Se for para quebrar a cara, que seja por si mesma.

- Obrigada Noah, por me dar umas dicas mesmo sem querer. – Suspira e se levanta. – E por ser meu amigo.

Ela vem para me abraçar e eu recebo de bom grado. Sinto seu coração batendo descompassado e aperto mais os braços ao seu redor, respirando fundo, guardando seu cheiro.

- Não foi nada. – Digo ao me soltar. – O casamento ainda está de pé?

- Claro que está. A não ser que não me queira mais como acompanhante.

- Quero sim. – Vou caminhando para a cozinha. – Até porque se tiver que ser o par da Melissa, eu me jogo da minha sacada.

Amber ri, me acompanhando e se sentando no balcão da cozinha. Abro a geladeira e começo a tirar ingredientes para fazer uma macarronada. Ela se oferece para me ajudar, entreguei algumas coisas para ela cortar e abri um vinho. Fui até o som e o liguei, deixando uma música inundar o ambiente.

Logo comecei a preparar o jantar. Queria aproveitar o máximo que pudesse, do que parecia ser a última noite com Amber.

[...]

A parte mais difícil do resto da semana foi ter sido obrigado a ver Toby com Amber. Não que eu seja um desses caras que fica desejando a mulher alheia, mas cada vez que eu o via beijando-a, ou abraçando sua cintura, eu era tomado por uma sensação estranha de posse, porque eu a queria para mim.

Como foi que eu caí nessa furada, afinal? Uma coisa é se apaixonar por uma mulher que você está se relacionando, outra bem diferente é nem ter conseguido dar um amasso e estar caído de amor.

Mas, como eu sou um homem adulto e não um moleque, comecei a fazer cara de paisagem e fingir não me incomodar. Eu que não ia deixar de frequentar meus bares preferidos só porque eles estavam lá.

E, pode até ter sido impressão minha, mas Amber, não exibia um sorriso de felicidade ou ostentava aquele brilho de olhar apaixonado. Algumas vezes, nem tudo que queremos é o que precisamos, não é?