1° Camada

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— Nick! você pretende algum dia se levantar da cama? — Minha mãe tinha uma voz doce ao me acordar, um pouco rouca pela quantidade de cigarros que ela fumava durante um dia, mas talvez até bonita.
— Que droga! Eu só queria que você não fizesse isso! Sai daqui. — respondi com meu mal humor matinal.
— Você tem trinta minutos pra acordar Nick ou então...
— Ah... Dane-se! — a essa altura ela já devia estar no corredor e as vezes tenho a impressão de que não falo as coisas altas o suficiente para serem escutadas.
Me levantei em uma hora ainda dormindo, o mundo sempre parece girar quando acordo e isso por vezes me dá ânsia de vomito, simplesmente não entendo.
Vesti uma jaqueta velha de couro que costumava usar sempre em cima das minhas blusas pois elas constantemente ficavam manchadas e fiz um rabo de cavalo habitual que cultivava desde os 14 anos, sei lá. Considerando que tenho 17, é até bem grande, bate no meu ombro e combina perfeitamente com a cor preta da minha jaqueta o que é um bônus.
Minhas botas são velhas e minha calça jeans rasgada, mas não me importo realmente, ser vaidoso não é bem a minha.
Os longos corredores e a ainda mais longa escada por vezes me fazem desejar um elevador ou coisa parecida, mas costumo desmaiar no sofá mesmo.
— Pensei que você nunca mais fosse acordar já são... — nesse momento não pude deixar de interrompe-la e cortar aquele papo ocasional de toda a manhã.
— Cedo, acordar antes das 10:00 horas é simplesmente patético.
— Patético é ter que trabalhar 12 horas por dia agüentando uma vadia como a Sra. Jones. Acredita que aquela vaca gorda disse que se eu não parar de fumar meus cigarros durante meu expediente vou ser demitida? — Minha mãe não gostava de trabalho ou da senhorita jones ou qualquer emprego e chefe que ela tivesse. Sempre os achava insuportável de alguma forma e com essa não era diferente, mas dessa vez o motivo era realmente pertinente, minha mãe é enfermeira em um asilo.
Depois de uma longa pausa para respiração e tentar assimilar o que ela disse ao que eu ouvi e ao que eu realmente escutei, respirei novamente.
— Passa os ovos por favor. — Os ovos dela eram péssimos, mas ela não sabia fazer mais nada.
— Você já deveria estar na escola Nick, é sério.
— Relaxa mãe, eu tenho, hum..., passe livre. — Tenho dúvidas se ela realmente acredita nisso ou ela simplesmente ignora.
— Ok, então bom dia.— Ela me deu um beijo na testa que sempre ficava marcado por seu batom vermelho.
Terminei meu café em algum momento da manhã, depois de assistir televisão, olhar meu email e comprar um disco novo com o cartão de crédito da minha mãe, resolvi que deveria ir pra escola.
Era sempre complicado chegar á escola no horário certo pra mim. Acordar ás 10:00 já era um sacrifício, ás 8:00 seria uma catástrofe, além de que a escola só realmente começa depois do almoço.
Os muros do colégio eram altos, mas os imbecis esqueceram de colocar cerca elétrica ou qualquer tipo de coisa que pudesse me impedir de pulá-los. Demorei algum tempo fazendo buracos no muro atrás do prédio, onde geralmente jogavam lixo grandes ou coisas assim, o que me ajudava pois facilitava minha subida, mas depois que consegui nunca mais cheguei na escola a tempo.
Geralmente não notavam minha falta, não podemos dizer que os professores do colégio Octobeur Hellonson eram realmente bons no que faziam, na maior parte do tempo eles simplesmente fumavam maconha no estacionamento ou conversavam com alunos sobre coisas estúpidas, mas ultimamente tinham notado a minha falta por ser extremamente excessiva até pra esses limites, apesar de que eu sinceramente não ligava, eles até tentavam falar com minha mãe, mas ela não ficava em casa e talvez eles não tenham o número certo, sei lá, uma pasta pode ter sumido, e quando tentavam falar comigo que era pra ela vir a escola, bem, não era realmente fácil me achar.
Consegui entrar no 4° tempo, era aula do professor Geri e isso significava assistir um filme de história chato e em preto e branco enquanto ele bebia seu café que na verdade era tequilla e lutava pra manter seus olhos abertos.
— Perdi alguma coisa? — Me sentei ao lado do Julyane, um garoto nerd, gordinho e sempre estranhamente suado, que fazia todas as aulas na mesma sala que eu e nunca faltava a nenhuma. Gosto dele, ele é um gordo legal.
— Bem, nós assistimos á um filme sobre a segunda guerra e...
— Ah! Ótimo, nada interessante.
Ficar na sala não era realmente uma opção interessante e neste momento Sr. Geri já deveria estar no seu 7º sono, então preferi sair da sala.
Não sei se funciona assim em todos os colégios mas neste é bem comum os alunos ficarem fora das salas de aula, nos armários ou na biblioteca, ou fumando atrás do ginásio, sei lá, a escola teve que cortar custos este ano e contratar monitores pro corredor não era prioridade, então alunos faziam estes trabalhos voluntariamente, mas não é como se ele eles fossem realmente empenhados.
Na maior parte das minhas manhãs, isto de 12:20 pra frente, costumava andar pela escola, as vezes ir na biblioteca dormir um pouco, ou até mesmo ficar vendo aquele bando de otários jogando futebol no campo. A escola não era enorme mas até que cabia bastante gente. Os corredores eram largos demais até pro meu gosto e igualmente longos o que me deixava cansado, então não costumava ir até muito além da sala de química que era minha única aula no segundo andar, e minhas outras aulas ficavam sempre no primeiro e eram estrategicamente próximas das saídas e de uma das outras.

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