Decido ir pra casa.
Chego e minha mãe não está. Subo pro meu quarto e deixo a mochila no chão.
Abro uma janela e vejo se encontro sniff pela vizinhança. O gato não aparece já há dois dias. Coloco comida em sua bandeja e pego meu notebook. Coloco em um episódio de uma série, e assim que termino, desço para cozinha para comer alguma coisa.
Pego um pacote de biscoito no armário e me jogo no sofá.
Fico ali por um tempo esperando a hora passar.
Mando uma mensagem pro meu pai perguntando onde iremos nos encontrar e ele responde dizendo que pode ser num café que fica próximo a seu trabalho. Penso que terei que pegar um ônibus pra chegar até lá mas decido não criar caso e só digo que tudo bem.
Olho as horas e já são 12:50, então decido trocar de roupa e ir.
O ônibus não demora a passar então acabo chegando 30 minutos mais cedo.
Marcamos de nos encontrar num café que costumávamos ir sempre.
Durante sua residência no hospital, meu pai passava a maior parte de seu tempo aqui, e como minha mãe, nessa época, trabalhava nesse mesmo hospital, este acabou se tornando um lugar de encontro comum para nós.
Espero durante 20 minutos até que ele chegue. Ele pede o mesmo de sempre: Café preto bem forte e quente. Peço um cappuccino e nos sentamos numa mesa ao fundo do lugar.
Permanecemos em silêncio durante um tempo até que ele começa:
— Então Nick, não vi você indo embora naquele dia...
— É... Não tinha mais nada pra eu fazer lá, disseram que eu estava liberado então fui embora.
— Seu nariz já está bem melhor. — Ele me observa analisando meu rosto — Ele deve desinchar completamente nos próximos dias.
— É, é, espero que sim. — Permaneço com os olhos baixo, rodando meu copo.
— Mas então... Como você está, Nick?
Para de rodar o copo. Bebo um pouco e o coloco em cima da mesa novamente.
— Por que você me chamou aqui? — O encaro, percebendo fios brancos em seu cabelo preto, seus olhos castanhos parecem mais claros sob os feixes de luz solar, seu cenho rígido se mantém igual, porém é visível o cansaço das horas passadas em plantão.
Ele abaixa os olhos e se mantém em silêncio por um momento.
— Me desculpe, Nick. — Ele me encara, sua fala trava por um momento. — Eu nunca... Nunca deveria ter deixado passar tanto tempo. É que a situação estava insustentável, e tanto eu como sua mãe não conseguiríamos ficar daquela forma por muito tempo, ela tinha ciência do que estava fazendo e de como as coisas estavam acontecendo e indo para o pior lado possível e... — Ele fala rápido, sem pausas e repetindo as palavras.
— E você preferiu partir. Preferiu ir embora, seguir em frente. Preferiu seguir
sozinho. — Minha voz sai cortante, e as palavras escapam sem que eu as consiga conter. Percebo lágrimas se formando em seus olhos, e penso nunca ter o visto tão vulnerável quanto agora. Ele coloca a mão em seu rosto e as limpa antes mesmo que elas caiam.
— Eu sei que te decepcionei, e eu peço perdão por isso. Eu tentei falar com você, eu tentei mas sua mãe não deixava e naquele momento eu não tentei ir contra, eu não quis deixar o clima pior do que já estava, eu não percebi naquele momento... — Sua voz sai trêmula, frágil. — Já faz um tempo que eu venho tentado falar com você mas eu não tinha seu número e todas as vezes que ligo pra você, sua mãe desliga o telefone. Eu sei que nada justifica o que eu fiz, Nick, eu sei. Mas eu quero que você me ajude a consertar isso.
— Nós. Você nos decepcionou. Eu fiquei chateado quando você foi embora, mas minha mãe ficou devastada. — Ele desvia o olhar, pega o copo de café e bebe todo o conteúdo em um gole. — Eu tinha quatorze anos na época, não era uma criança. Você poderia ter conversado comigo. Poderia ter tentado. — Ele baixa os olhos. — Eu te desculpo pelo que fez a mim, eu já não sinto mais raiva de você. Mas eu te culpo pelo que fez com
ela. — Ele me encara, me olha fixamente.
— O que eu fiz com ela? — Ele diz, franzindo a testa.
— Minha mãe ainda não superou o fato de que você foi embora, e ela tenta compensar isso de outras formas. Se isso é sua culpa, eu não sei. Mas sei que eu te culpo por isso.
— Nick... — Ele me olha com tristeza. — Eu não larguei sua mãe porque eu não a amava mais. Eu larguei sua mãe porque ela estava tendo um caso com um cara.
Fico sem palavras.
— Eu descobri que ela estava ficando com um cara já há algum tempo, eu a amava Nick. Tentamos continuar mas eu não aguentei, eu disse que queria um tempo e ela não aceitou, então resolvi terminar tudo de vez.
O encaro sem acreditar no que diz.
— Não quisemos te dizer isso antes porque não achamos que você saberia lidar com isso. Nosso casamento estava desgastado Nick, nós dois trabalhávamos demais... Eu não a julgo pelo que ela fez, doeu na época mas hoje vejo que foi o melhor. Nós dois procurávamos por um motivo para que pudéssemos terminar aquilo.
Abaixo a cabeça.
— Não estou tentando justificar o que aconteceu Nick, nem tentar fazer com que sinta raiva dela, eu só quero que você saiba que foi difícil pra mim também.
— Eu não sei o que dizer, não sei o que pensar... Preciso de um tempo para que consiga digerir tudo isso.
Me levanto e saio antes que ele tente dizer alguma coisa. Decido não ir pra casa agora e fico dando voltas pensando em tudo que ele me disse.
Recebo algumas ligações da minha mãe e decido voltar pra casa.
Quando abro a porta, vejo minha mãe sentada no sofá.
Ela me olha e posso ver que está irritada com alguma coisa, ele pede pra que eu me sente e diz:
— Recebi uma ligação do diretor da sua escola hoje, Nick. Ele me disse que você não tem frequentado a escola regularmente desde que o ano começou e que se você continuar dessa forma vai ser reprovado por frequência. — Ela me olha e para a mão em seu queixo. — Você me desapontou, Nick.
A encaro sem ter o que dizer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
CEBOLAS
RomanceEra um domingo de manhã nublado, Scart gostava de coisas assim. Ela se sentia bem em dias cinzentos tão como em dias chuvosos, ela achava que talvez combinasse mais com seu humor, sem contar que poder usar suéter e blusa de frio arrancavam lhe sorri...