19° Camada.

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Olho pra tela do computador e só consigo pensar sobre a conversa que tive com meu pai. Não é como se eu não soubesse que minha mãe tem bebido demais, mas é estranho pensar que ela está indo atrás de ajuda pra isso, que ela não consegue lidar com isso.
Espero até que ela chegue e desço assim que ouço o barulho da porta.
Ela diz oi e coloca a bolsa em cima do sofá, vai direto pra cozinha e bebe um copo de água.
— Você não vai acreditar no que aconteceu no trabalho hoje, Nick...
A interrompo.
— Mãe, eu preciso te falar uma coisa.
Ela para em frente á tv.
— O que, Nick? Pode falar... — Ela percebe a seriedade em minha voz e muda sua expressão. — Aconteceu alguma coisa?
Pondero por um momento e decido não falar nada a respeito da conversa com meu pai e nem o que sei sobre a GAVA.
— É... É... Foi mal por ter te ignorado com o negócio da escola, você provavelmente estava certa.
— Tudo bem, Nick. Eu só quero o melhor pra você.
Ela volta novamente a cozinha e começa a contar a história do trabalho.
Não presto muita atenção e subo para o quarto assim que ela termina.
Passo o resto da tarde ouvindo música e mexendo no celular, converso com Lance algumas vezes e acabo indo dormir cedo.
Acordo no outro dia às 7:00 da manhã. Desligo o despertador e tento voltar a dormir novamente porém sem sucesso.
Decido tomar banho pra tentar acordar. Fico bastante tempo no chuveiro ainda sonolento.
Troco de roupa e desço pra tomar café. Minha mãe já está na cozinha e se surpreende quando me vê.
— Oi, Nick.
Respondo com um som.
Me sento e como um cereal qualquer.
Olho pro relógio e já são quase 8:00. Pego minha mochila e saio.
Meu primeiro horário é química então decido tentar dormir novamente. Me sento no fundo da sala e fico com a cabeça abaixada. Depois de um tempo acabo cochilando por um momento. Acordo com o barulho do sinal e me levanto em direção à sala de espanhol.
Vejo Lance já sentado e me sento atrás de sua mesa.
Ele me cumprimenta e começa a falar sobre o jogo de sábado.
— Você vai vir, não vai?
— Sério? É mesmo necessário?
— Cara, vai ser legal, a gente provavelmente vai ganhar e vai ser divertido depois. Devemos ir comer uma pizza ou algo assim.
— Pizza com os jogadores? Obrigado, eu passo. — Afundo minha cabeça dentro dos braços e ele continua falando.
— Para cara, eu vou jogar, o Judd vai jogar, a Carey vai estar lá. Pode ser divertido, você precisa dar uma chance.
Me lembro da Carey e penso que ele ainda não conversou com ela ou com o Judd.
— Olha, eu vou ver, se der pra eu vir, eu venho, ok?
— Ok. Lembrando que você me deve essa.
— Tá, ta... — Afundo a cabeça novamente, não estou afim de fazer nada hoje.
Escuto o barulho de notificação do meu celular e leio.
Pai:
— Oi Nick, tudo bem? Já faz alguns dias que a gente se viu e você ficou um pouco chateado ao sair de lá. Eu gostaria de conversar com você novamente, se você quiser. Você está livre sexta?
Prefiro não pensar sobre isso agora então não respondo. Ainda não sei se quero falar com ele.
O sinal do terceiro tempo toca e sigo pra sala de física.
Ao entrar me deparo com Judd sentado na primeira fileira, parou por um momento e penso em sair da sala, mas já é tarde demais. Ele puxa a cadeira do meu lado e me cumprimenta.
— Eae cara, tudo bem?
Me sento ao seu Laos e aceno.
— Tá meio bosta hoje, não tava muito afim de vir na aula.
— Sei como é... Então, sentiram minha falta no almoço ontem? — ele ri.
— Muita.
— Vai vir ao jogo sábado?
— Não sei, o Lance pediu pra eu vir, mas provavelmente não. Não tenho muito saco pra futebol.
— É, eu sei. Você deveria vir, de qualquer forma. Vai ser legal...
— É... Quem sabe...
Ele fica em silêncio por um instante.
— Escuta cara, você já conversou com a Carey?
Penso por um momento no que dizer e prefiro não falar.
— Ainda não, não vi ela ontem. Por que?
— Não, não, nada, só queria saber mesmo.
— Hum. — Pego o caderno e copio o que está no quadro. Tento resolver alguns exercícios e coloco os fones de ouvido.
— É, então já vou indo, como o jogo é sábado, a gente precisa treinar. — Ele bate no meu ombro. — Até o intervalo.
Dou um sorriso torto.
Não demora muito até que o sinal bate. Tenho aula de história agora mas não estou com saco pra assistir a nenhum filme.
Decido ir pra arquibancada e tentar encontrar alguém lá. Sei que Carey tem educação física nesse horário e o Lance deve estar treinando.
Me sento em um dos bancos no alto e vejo uma menina parecida com a Liz lá embaixo.
Aceno e não recebo nada de volta. Decido descer até lá. Passo por onde Scart costuma ficar mas não vejo nem ela nem ninguém lá. Chego ao lado de Liz e pego em seu braço.
— Oi! — Ela diz quase assustada.
— Me diz o que é mais tediante, um filme de história ou assistir a vocês fazendo educação física?
— Não sei, não tenho ideia. — Ela responde prendendo seu cabelo.
Nos sentamos nos primeiros bancos da arquibancada.
— Você não vai fazer a aula, não? — Pergunto.
— Hoje não estou muito afim de fazer nada. — Ela responde colocando as pernas no banco.
Assistimos ao treino de futebol de longe.
— Então, você vai vir ao jogo sábado?
Ela fica em silêncio por um momento.
— Não sei. O Lance pediu que eu visse, aliás, ele tem certeza de que eu vou vir.
— Você ainda não falou com ele...
— Ainda não. Nem sei se quero falar, achei que o Judd diria alguma coisa.
— É, eu tive aula com ele hoje.
Ela se virou pra mim.
— Ele mencionou alguma coisa?
— Não... Meio que... Sei lá, ele perguntou se eu tinha conversado com você...
— E o que você falou?
— Que não... Nem sei porque eu disse não...
— São dias confusos esses...
— Olha, eu não estou nem um pouco afim de vir nesse jogo.
— Eu também não. — ela ri. — O pessoal do futebol, pelo amor, um bando de imbecil.
— Pois é, foi o que imaginei.
Ela me conta algumas histórias de jogos em que ela foi e rimos da imbecilidade alheia.
— Carey, você... É, você viu a Scart por aqui hoje?
— Scart?
— É, aquela garota da festa...
— Ah sim, não, eu acho que não... O que você tem com ela, Nick?
— Nada. Nada, a gente só é amigo, é que eu não vi ela ainda. Ela costuma aparecer...
— Bom, talvez ela apareça depois.
— É, tanto faz. — Finjo nem ligar e me levanto. — Já vai bater o sinal, vamos?
— Vamos, eu só preciso ir no vestiário trocar de roupa.
— Ok, vou lá no Lance enquanto isso.
Dou a volta no campo e sigo pro vestiário do time. Vejo alguns caras saindo do banheiro e espero durante um tempo. O sinal bate e decido entrar lá pra chamar o Lance.
O vestiário possui várias colunas de armários vermelhos, cada jogador tem seu próprio armário onde guarda a roupa do treino e o equipamento, o do Lance ficava no fim do lugar, próximo ao banheiro.
Entro no vestiário e não vejo ninguém, então continuo andado até que chego no armário do Lance, mas ele não está lá. Me viro pra ir embora quando escuto uma voz conhecida.
Volto e me viro de frente para os chuveiros. Vejo Lance e Judd conversando na porta da ducha. Começo a andar até lá até que sou interrompido pela cena. Judd puxa Lance para dentro do chuveiro e os dois se beijam. Fico paralisado.

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