11° Camada

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— Nick, Oi... Eu queria falar com você. — Meu pai diz.
— Eu não tenho nada pra falar com você, a gente conversou no hospital, achei que já tínhamos dito tudo o que havia pra dizer. — A moça do caixa agradece e aceno a cabeça positivamente. Saio da loja e caminho de volta pra casa.
— Nick, eu sei que você ainda está com raiva por tudo que aconteceu mas eu preciso que você seja mais maleável... Eu gostaria de falar com você, sério. Vamos nos encontrar em algum lugar?
— Agora?
— Sim... Pode ser...
— Agora não dá... Estou ocupado. Se você quiser podemos marcar pra outro dia.
— Eu vou olhar o meu quadro e aviso pra você, tudo bem?
— Ok, ok. Agora tenho que ir. Tchau. — Desligo antes que ele possa responder. Chego em casa e coloco o cd pra tocar, escuto enquanto jogo um viciante joguinho de celular.
Quando o disco acaba, pego a guitarra e começo a tocar uma das músicas, tento acompanhar as partituras online mas não consigo me concentrar.
Desço e pego um pedaço de pizza que está na geladeira já há alguns dias.
Ligo pro Lance e chamo ele pra fazer alguma coisa. Ele diz que já tem planos e que não vai conseguir desmarcar desta vez.
Decido terminar um livro de contos de terror que estava lendo e ficar em casa.
Já passa da meia noite quando termino. Me levanto e tomo um banho. Esquento uma comida que minha mãe fez no almoço e como. Me deito e fico assistindo televisão até pegar no sono.
Acordo no outro dia às 9:00.
Desço e vejo que minha mãe ainda não está acordada, escovo os dentes e como um cereal.
Chego na escola assim que o sinal para o quarto tempo toca. Decido não entrar na sala e vou para a arquibancada. Vejo alguns rostos embaixo da dela, mas não consigo encontrar Scart. Me sento em algum dos bancos altos e fico observando o jogo logo abaixo sem realmente entender o que está acontecendo.
— Olha quem está aqui... — Scart chega me causando certo susto.
Ela se senta ao meu lado. Está vestindo a mesma jaqueta do dia da festa mas desta vez usa uma calça jeans preta rasgada, e os cabelos soltos. Ele segura um cigarro na mão e o traga algumas vezes.
— Você... — Respondo tentando esquentar as mãos.
— Somos algum tipo de casal coreano?
— Oi?
— A calça igual, moletom, bota... Eles fazem isso.
— Usam roupas iguais?
— Quando namoram, acho...
— Você gosta de cultura coreana?
— Não exatamente... Só vi isso em algum lugar. — Ela responde se aconchegando no banco.
— Posso? — Ela coloca os pés no meu colo e traga o cigarro algumas vezes. — Quer?
— Não. Não fumo...
— Isso é irônico, você cheira a cigarro.
— É, é, tô sabendo...
— Por que?
— Por que, o quê?
— Você, o cigarro, você tá aqui? — Ela pergunta retirando os pés do meu colo.
— Foi mal, eu to viajando ainda... Esse cheiro do cigarro.
— Quer que eu apague?
— Se não for te incomodar...
Ela joga o cigarro em direção ao campo.
— Se tivéssemos sorte ele chegaria lá embaixo aceso e queimaria tudo...
— Não temos sorte.
— Não, não temos... Mas então, por que você cheira a cigarro?
— Minha mãe fuma...
— Coitada, dê um cigarro melhor pra ela, esses meio merda acabam deixando o rastro. — Ela diz.
— Acho que encorajar talvez não seja a melhor coisa a se fazer aqui...
— Você que sabe... Mas e aí, já pensou sobre a festa?
— Sim, não vou. Já tinha te dito isso.
— Você deveria ir... Vai ser legal, o pessoal é legal...
— Eu duvido. — Respondo encarando-a.
— É sério. — Ela chega seu rosto bem próximo ao meu. — Não quero ir sozinha.
— Mas você não vai ficar sozinha...
— Quero ir com você.
— Por que?
Ela se volta para o campo.
— Não sei... Você parece ser o tipo de pessoa que não se diverte em festas.
— Eu não vou em festas. É diferente.
— Mais um motivo.
— Você não me deve isso, você sabe, né? — Pego em seu rosto e sinto seu corpo quente.
— Eu sei — Ela se vira pra mim. — Mas eu quero isso. — Ela sorri e posso seu sentir seu hálito de maconha descendo pelos meu pulmões.
Me afasto por um segundo.
— Seu nariz está bem melhor... — Ela diz soltando uma risada.
— É, mas ainda está um pouco inchado...
— Já está bom.
Ela começa a dizer alguma coisa mas somos interrompidos pela presença de Lance.
— Ei cara! — Ele me dá um tapa no ombro.
— Eae Lance — Fazemos um cumprimento que criamos na 8° série e que usamos desde
então. — Oi... — Ele se vira e estende a mão.
— Scart. — Ela responde sem tirar as mãos do bolso da blusa.
Depois de alguns segundo Lance abaixa sua mão.
— Scart... — Ele sorri.
— Scart, esse é o Lance. — Digo.
— É, é, já sei...
— Você me conhece? — Ele pergunta.
— É, tá escrito na sua camisa. — Ela aponta ironicamente.
— Ah! Ah... — Ele ri. — Sim... — Ele se volta pra mim — Por que não veio na aula ontem?
— Tava cansado...
— Seu nariz tá bem melhor...
— Eu disse... — Scart concorda.
— Obrigado, obrigado, eu sei, mas ainda está inchado.
— E sua mãe foi lá no hospital?
— Foi... Foi bem ridículo, na real.
— Detesto interromper vocês mas acho que vou vazar. — Scart diz se levantando. — Preciso ir ali conversar com alguns outros idiotas e gastar um pouco mais do meu pulmão.
Sorrio.
— Depois a gente conversa Nick. — Ela coloca o capuz e se despede de Lance com um sorriso.
— Cara, eu conheço essa menina de algum lugar... — Lance pergunta enquanto eu me levanto.
— Espera, já acabou o horário?
— Já.
— Ah, ok... Bom, ela estuda aqui, então talvez vocês já tenham se visto. O grupo dela sempre fica ali embaixo da arquibancada.
— Ela fica com os maconheiros? — Ele pergunta meio surpreso.
— Você fica com os jogadores. Não está em posição de julgar alguém.
— Tanto faz, mas não, eu já vi ela em algum outro lugar. — Ele diz enquanto caminhamos para o refeitório.
— Onde?
— Não sei, não consigo me lembrar...
— Olha, eu só sei que ela é legal. E bonita. Eu gosto dela, apesar de não a conhecer muito bem...
— Nasce um romance aí?
Dou um soco em seu ombro e ignoro o que ele disse.
Desta vez todos os outros já estão sentados na mesa. Carey e Judd conversam entre si e Jaden está mostrando algo no celular para Liz. Cumprimento todos com um olá coletivo e me sento ao lado de Liz.

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