Não me lembro da última vez em que me apaixonei de verdade. Aliás, confesso que já fui feliz, por várias vezes ao lado de uma mulher, mesmo sabendo que eu não a amava, mas não posso dizer que havia me apaixonado. Jamais houve um momento único que eu pudesse dizer que minha felicidade se completou. Mesmo assim, nos últimos dias, depois que reencontrei minha ex namorada no casamento do meu pai, algo me atingiu. Talvez, fosse um erro eu me envolver com uma pessoa tão fútil, achando que eu pudesse provocar algum tipo de ciúmes em alguém. Ou mesmo, achar que posso provocar ciúmes em alguém que nunca ligou para mim.
Quando cheguei ao aeroporto, há apenas uma hora, queria ir para um lugar tranquilo, sem expectativas nenhuma, sem ambição, sem mentiras. Nem mesmo mulheres estavam em meus planos. Claro que a mulher que eu saía queria muito vir comigo, afinal, quem não gostaria de passar o Natal em Nova York com tudo pago por mim? Aliás, eu cansei de seu materialismo. Que mulher fútil, mimada e infeliz. Não sei como namorou por tanto tempo outro cara antes de mim. Fiquei com ela por cinco meses e para mim já deu. De qualquer forma, eu não queria companhia. Precisava de um tempo só para mim.
Nesses últimos meses, eu fiz muita merda na minha vida. Me envolvi com uma mulher enquanto ainda namorava outra – aliás, eu achei tentadora a ideia de conquistar uma pessoa diferente, antenada e tão segura de si. Claro que eu não esperava despertar a fúria em mais pessoas, que de certa forma, conseguiram transformar minha vida em um verdadeiro inferno.
Eu não queria ser pai. Aliás, não tinha intenção nenhuma de ter filhos. Porém, quando soube que isso poderia acontecer comigo mesmo da maneira mais simples, a mais covarde, algo mexeu comigo. Simplesmente, eu gostava da ideia de poder criar um filho meu. Sem muitos problemas, sem incomodar. Sem que ninguém tivesse que me dizer como era ser pai. Então, eu descobri da forma mais cruel que não era o momento certo ainda. É estranho pensar em uma mudança tão grande em nossa vida... talvez nem eu tenha tido tempo de entender como poderia mudar a minha vida.
Uma tempestade se formou, e eu já podia sentir as pessoas tensas e assustadas. Eu não era o único que sorria. Quando você fica mal, vê o pior acontecer. Não tem mais sonhos, e acaba achando que tudo precisa mudar... Era hora de um ponto final. Talvez eu estivesse exagerando. Mas uma coisa era certa: eu nunca iria me perguntar por que eu fiz tanta coisa errada em minha vida. O tempo passou. Cinco meses. E agora saboreava um uísque a espera do meu embarque.
– Você acha que algum dia vai chegar a fazer algo importante com a sua vida? Idiota!
– Eu acho que não.
E foi isso o que aconteceu. Sentado no saguão do aeroporto, com todos os voos atrasados, observava pessoas apavoradas com a tempestade que caia lá fora. Meu uísque já fazendo efeito, até que me deparei com uma mulher linda ao meu lado, dizendo para mim tudo o que precisava ouvir. Eu não sei dizer por quanto tempo ela estaria ali, sem eu perceber, segurando sua valise de uma maneira perfeita demais, não orgânica, mas como alguém que tinha uma relação verdadeira com viagens de avião. E ela com os cabelos negros mais brilhosos que eu já havia visto e um rosto delicado que intensificava uma perfeição fora do comum, traços tão delicados que pareciam infantis. Os olhos negros como a noite; o nariz pequeno e fino, que parecia moldado à mão; e as bochechas rosadas – o rosto de uma ninfeta que olhava para mim.
Fiquei tão enfeitiçado que esqueci de ligar o botão de desinteresse e ela me pegou a encarando, de modo que não me restava dúvida. Eu me apresentaria, já que não tinha nada a perder.
– Meu nome é Thomas – eu disse, levantando a voz para não ser suplantado pelo barulho das pessoas em volta, comentando sobre a tempestade e o som da frenética batucada no meu coração.
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Nunca esqueça de nós dois
ChickLitOlá, pessoas lindas. Completo. Sinopse : Nunca esqueça de nós dois. Você acha que uma pessoa se transforma por amor? Thomas vive um momento de sua vida que exige um pouco de solidão. Prestes a embarc...