Chego ao um bar. Assento-me a uma cadeira reservada ao lado da saída. Chamo o garçom e lhe peço alguma bebida quente, quero matar alguns neurônios problemáticos que possuo. Meus trajes dizem muito sobre mim; retrata um cara solitário cheio de perturbações e lembranças indigeríveis, que por mais que tenha convicção das suas limitações, ele ainda tem forças para acreditar no amor. O lugar está lotado de promiscuidade e vazio de essência. Avisto alegria nos olhos de alguns jovens casais sentados a minha direita. Ouço uma breve discussão vindo dos fundos do estabelecimento. Tem três moças na mesa a minha frente e elas não param de rir, uma está com o celular no ouvindo conversando com alguém -supostamente um homem. As outras estão botando pilha e dando risada sem motivos aparentes. Uma delas me olhou dos pês a cabeça, cochichou algo para a sua amiga vizinha e as duas caíram na gargalhada. São bonitas, mas não me parecem interessantes. (Dou de ombros.) Tem dois rapazes sentados na mesa a minha esquerda conversando sobre futebol. Parece que o time para o qual eles torcem ganhou mais uma e isso virou motivo de comemoração. Noto que um deles aparenta sintomas alcoólicos, os dois são fracos para bebida.
Percebo como as coisas funcionam por aqui, não é preciso ter motivos ou razões extraordinárias, as pessoas vêm até esse lugar com o intuito de fugir dos problemas. Essa é a rotina desse lugar, abrigar perturbações. Vejo que por mais que aqueles casais ali aparentem alegria, por dentro deles existe algum monstro que os assombra, e eles estão aqui tentando se esconder da realidade. Não preciso nem comentar sobre a discussão que rolou lá nos fundos, eles vieram adormecer problemas e acabaram acordando outros. As moças bonitas que mencionei, estão frustradas por verem o tempo passando e nenhuma estabilidade afetiva sendo criada. -Os homens que por elas passam, só querem os prazeres que seus corpos podem proporcionar. E os rapazes torcedores vieram se distrair, usam o futebol como desculpa esfarrapada para vir até o bar. Um deles está com o casamento por um fio e o outro rema contra a maré de um divórcio conturbado. É esse objetivo desse lugar, adormecer problemas. E eu não sou diferentes dos meus colegas de estabelecimento. Eu hoje vim até aqui em busca de esquecer a porrada de coisas que deram e dão errado na minha vida. Eu vim aqui com o objetivo de adormecer as saudades que sinto do meu amor, da mulher que um dia já pude chamar de minha. Não sou diferente deles, apenas mais aprofundado de problemas. Talvez a diferença seja que os meus monstros crescem mais e mais a cada dia, e por mais que eu tente eu não consigo fugir deles. Eu estou aqui porque minha casa virou um lugar frio e vazio. Lá só tem a presença da solidão e dos arrependimentos. A bebida desce rasgando o estreitado da minha garganta. Meu objetivo é que ela alcance o meu coração e faça o mesmo que faz com os neurônios, o faleça.
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Os quatro cantos da casa
RomanceTudo que se é vivido á dois vale a pena ser registrado. - O livro traz apenas textos, mas por trás de cada palavra existe um sentimento, existe algo bom de se tirar proveito. Fiz questão de falar de amor sem medo de errar, sem medo da reprovação d...