Os quatro cantos da casa

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Esquecer alguém é uma tarefa difícil, ainda mais quando essa pessoa significa muito pra você.

Acabei me transferindo para o quarto de hóspedes, meu quarto só cheirava a você. Aqui é bem mais frio, mas pelo menos me livrei do vazio que guarda aquele lugar.

 A casa está suja e por mais que eu tente não encontro tempo para limpa-la... a empregada foi embora e disse que só vai voltar pra receber seu salário do mês passado. - salario que já está atrasado há alguns dias. Meus amigos mal vem aqui, eles dizem que essa casa lembra sofrimento. Não discordo deles, mas é que não tenho recurso para comprar outra e meus negócios não vão bem, até mesmo os meus livros deixaram de ser vendidos. A falência é uma questão de tempo.

Minha mãe sempre que pode me liga pra saber como estou. Digo sempre que estou  bem... não quero assusta-la. - Ela já está em uma certa idade que não pode tá se preocupando. 

Em meu escritório ainda guardo fotos nossa... Elas são as únicas lembranças concretas que me restaram. Algumas vezes cogitei rasga-las, mas não encontrei coragem o suficiente para realizar essa tal façanha. Mas é que pensando bem, seria injustiça desfazer-me de tanto registro bom de ser assistido.

E quando chego em casa que a dor aumenta. Papéis jogados pelo chão, portas de moveis abertas, silêncios inquietantes, sem a presença da luz do sol... É isso que você vai encontrar se um dia decidir voltar. Desconheço e sinto falta de quem eu era. Já fui alguém. Hoje sou o que restou de um "adeus" inesperado. Me tornei a tentativa frustante de uma reciclagem com o que restou de quem eu era. 

A residencia que já abrigou felicidade hoje abriga solidão, abriga loucura. Não posso esquecer assim, ainda tem muito de você aqui nessa casa.

Metade de mim é saudade e a outra é desespero.




Os quatro cantos da casaOnde histórias criam vida. Descubra agora