Prova e aprova

38 6 2
                                    

Dormant Talents, 2013 (Dois anos antes)

Íamos fazer o fantasma da opera, eu estava empolgada com esse papel. Nunca havia assistido o filme, mas já havia visto uma ou duas peças de teatro.
Clare disse que queria inovar e para isso ela teria que montar a peça toda outra vez, ela queria algo inédito.
Durante as duas semanas que iriam se seguir foi decidido que não íamos ensaiar a peça,  pois ela e os outros professores iriam estar ocupados dando uma nova perspectiva ao espetáculo.
Nessas duas semanas ela pediu para que todos do elenco pesquisasse ao máximo sobre a peça. O grupo de Katia faria o quebra nozes, ela não tinha ganhado papel principal, mas estava muito feliz mesmo assim. A verdade é que tanto eu quanto ela nunca imaginamos estar aqui, por isso o papel principal não era uma das nossas ambições. Claro, se ganhássemos o tão sonhado papel principal e virássemos protagonistas seria perfeito, mas só fazer parte daquilo tudo já estava ótimo para ambas.
Hoje era sábado e Pedro havia me chamando para assistir o fantasma da opera em seu apartamento, no começo fiquei meio relutante, ele parecia ter algo com Kate e ela parecia não gostar nada de quando estávamos juntos, então eu preferia ficar na minha para não ter problemas, mas, ele me garantiu que não seria só nós dois e que vários membros do espetáculo estariam lá, então não vi por que recusar.
Tínhamos marcado às 15:00.
Eram 14:30 quando sai de casa, peguei um táxi e logo estava na portaria do prédio. Pedi o porteiro para anunciar minha chegada, ele perguntou meu nome e disse que não precisava anunciar pois Pedro já havia deixado claro que eu chegaria.
-A ok, mas poderia me informar o número do apartamento senhor?- Pergunto ao porteiro que tem uma cara de poucos amigos.
- Apartamento 34.-ele responde e logo volta ao seus afazeres.
- Obrigado.- Digo sem graça e sigo para o elevador.
O prédio onde Pedro mora consiste em um apartamento por andar então aperto o número trinta e quatro que era um dos últimos e espero até que o elevador pare.
Assim que ele para as portas do mesmo se abrem e dou de cara com uma sala enorme. Pedro está sentado no sofá vendo algo em uma grande tela plana.
- Psiu.- chamo a atenção dele.- Tava esquecendo de que eu vinha é?- Pergunto sorrindo sem graça.
- Claro que não Lia, entra ai.- Ele fala e abre espaço pra mim no sofá.
- Adorei seu porteiro, como ele é amigável.- falo com sarcasmo.
- O seu Davi? Aaaaaaaaa ele é uma maravilha, sabe me adora, às vezes vem aqui pra gente jogar um game e tal's.- Eu gargalho e me sento ao seu lado.
- Então cadê o povo?- Pergunto tirando meus tênis.
- Deve tá esbarrando por aí.- ele fala e se levanta.-Vem cá, que tal me ajudar a preparar pipoca?
- Eu sou visita.- falo fingindo estar abismada.- visitas só fazem bagunça comem e vão embora.
- Então a visita vai comer gelo por que eu não sei fazer pipoca, e a Kate disse que chegaria pra me ajudar e ainda não deu as caras.- Ele se joga no sofá outra vez.
- Grande anfitrião você Pedro.
- Hahaha, eu sou.- Ele diz e põe o pé encima da mesa de centro.
- Vamos logo fazer aquela pipoca.- Falo e espero ele levantar para o seguir até a cozinha que é conjugada com a sala.
Quando chegamos na cozinha ele me mostra umas 15 sacolas encima da bancada e coça a cabeça.
- Tá, eu comprei pipoca, cerveja, refrigerante, chocolate, batata, ketchup, tequila, limão, suco, bacon, leite condessado, e creme de leite.- Assim que ele acaba de falar eu abro a boca e começo a  gargalhar.- De que tá rindo?- Ele pergunta sem entender e coça a nuca.
- Sabe que vamos assistir um filme né? Não passar férias?
- Ué, vai vim muitas pessoas.- Ele fala convicto.
- Só umas 7 Pedro.- Gargalho outra vez.
- Da próxima deixo vocês com fome.- Ele faz uma cara brava, fica até fofo, mas eu não consigo me conter e gargalho ainda mais.
- Tá, vamos fazer o seguinte.- Digo assim que consigo conter o riso.- as bebidas você coloca na geladeira, menos a tequila e o limão cê sabe né?- Olho pra ele, e ele me olha como se não tivesse entendido nem uma palavra.
- Fala minha língua pelo amor de Deus eu não falo português.- Ele diz embasbacado, nem havia percebido que tinha falado português.
- Guarda as bebidas na geladeira, enquanto eu faço a pipoca frito as batatas e faço brigadeiro, guarda o ketchup também.
- Tá, mais o que é brigadeiro mesmo?- Ele pergunta confuso.
- Relaxa e goza que você vai gostar.
- Pra isso vou precisar de você.- Ele fala.
- Parou com a putaria, vamo acabar isso logo que o povo deve tá chegando.
Enquanto eu organizo as coisas Pedro fica sentado num banco escorando os braços na bancada olhando pra mim, nós conversamos de assuntos aleatórios, e eu fico embasbacada de como é fácil falar com ele, com ele o assunto flui, e eu não tenho vergonha de falar o que quer que seja, ele também parece se sentir relaxado na minha presença.
- E você é a Kate namoram?- Pergunto mexendo o brigadeiro.
- Não, às vezes a gente se pega, mas nada de namoro, não daríamos certo.- Fala ele comendo uma batata que eu acabei de fritar.
- Por que não? Ela parece gostar de você e você também parece gostar dela.- Falo com sinceridade.
- A gente se gosta, mas acho que mais como amigos, pelo menos na minha parte sim. E eu não teria sossego se chegasse a namorar sério com ela sabe? Ela quer me controlar até dormindo e olha que nem namoramos.
- Vish aí é complicado.- Respondo e logo tiro o brigadeiro do fogo e viro em uma tijela.
- Ela ficou me questionando sobre você aquele dia que a Clare escolheu a gente como protagonistas, foi um saco.
- Sobre mim? Eu não tenho nada haver com você nem com ela.- falo dando uma risada.
- Ela é meio louca sabe? Ela disse: Eu vi o modo como olhou pra ela Pê, trate de me respeitar.- ele falou gargalhando.
- Claro Pedro, você me olhou com malícia seu depravado.- Gargalhei alto.
- Não que eu não tenha te olhado com malícia, por que eu olhei sim, mas velho a gente mal se conhecia ali, e ela tirando coisas de onde não tem.- Ele falou sério.
- Prova o brigadeiro.-me adiantei antes que essa conversa tomasse outro rumo e eu me conhecia bem pra saber qual outro rumo poderia tomar.
Ele provou e logo depois provou outra e outra e outra vez.
-vEi chega é pros convidados.- Respondo tirando a tijela de perto dele.
- Me dá Lia.- Ele faz cara de cachorro pidão.
- Não Pedro já provou.- falo autoritária.
- Eu vou tomar de você então.- ele se levanta.
- Nem vem.-eu saio correndo pela sala e logo ele está atras de mim.
Eu paro e me viro para ele estamos encostados em uma parede no outro extremo da porta de entrada. Eu estou de frente de modo que dá pra ver a porta e Pedro está de costas vindo em minha direção, coloco a tijela atrás de mim e Pedro começa a avançar mais depressa. Ele sorri e encosta seu corpo ao meu tentando pegar a tijela, eu por minha vez tento ao máximo afastá-lo. Ele tenta de um lado não consegue tenta do outro não consegue então ele cola mais seu corpo em mim e é nessa hora que a porta se abre revelando Kate nos olhando abismada.

A última chance (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora