O cisne branco

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Dormant Talents, 2015 ( Dias de hoje)

-Lia você está dançando com agressividade, agora, nesse momento, eu preciso de doçura e amor, transita isso, feche seus olhos e se liberte.- Já era a terceira vez que Clare me dizia a mesma coisa e era como se entrasse em um ouvido e saísse no outro. Eu simplesmente não conseguia.
-Não dá Clare.-Falei estressada.- Já tentamos várias vezes e eu não consegui. Você mais do que ninguém sabe que o cisne branco não existe mais.- Falo me jogando na cadeira.
-Como não? A duas semanas você estava conseguindo quase com perfeição.- Ela fala e franze a testa.
-Não dá tá legal? Não consigo agora, prometo ensaiar mais em casa.
-Ensaiar em casa? Pra que ensaiar? Os passos você sabe de cor, sabe dançar até sem música pra te guiar, sabe do que você precisa? Precisa deixar o que está aí dentro sair, e resolver questões pendentes em sua vida - Ela lança um olhar para Pedro - aí sim, só aí você conseguirá fazer o cisne branco. Eu preciso dele, preciso do branco, na verdade preciso dos dois, o seu problema é que vive em extremos ou consegue o branco ou consegue e negro. Lembra-se de quando chegou? O negro não saia de modo algum. Tente fazer o seguinte - ela fala com pesar - quando for fazer o branco pense no momento mais feliz de toda sua vida, pense em algo que te fez bem, algo que deixou sua alma limpa, agora vamos lá.- Ela diz, e logo depois coloca a música.
Pedro coloca a mão em minha cintura e nós começamos a dançar fecho meus olhos e tento parecer zem e descontraída, mas por dentro estou uma pilha de nervos sentindo suas mãos por todos os lugares e lugar nenhum.
Levo minha mente pra algum tempo atrás, tempo onde eu pensava estar totalmente realizada, e aí sinto uma paz que a muito tempo não sentia, então eu me solto e deixo que a calmaria se aposse de mim, danço como se estivesse sozinha na sala e só abro os olhos quando ouço a voz de Clare atrás de mim.
-Maravilhoso.- Grita ela. -O que foi isso Lia? Seu cisne branco veio com a força total, espero ver isso mais vezes.- Ela diz e olha pra mim. Pedro já está sentado e eu estou parada no meio do galpão ainda.
-Ei está tudo bem?- Clare vem até mim, e aí eu sinto meu rosto úmido e vejo que estava chorando.
-Tá, estou bem, tenho que ir.- Pego minha bolsa apressada e saio em disparada. Troco de roupa rápido e corro para o único lugar onde me sinto calma, o único lugar que permito que a dor se aposse de mim

A última chance (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora