Sejamos francos part.2

22 4 3
                                    

Nova York, 2015

-Oi.- Falo assim que encontro Pedro parado na portaria conversando com um dos meus vizinhos.
-Oi Lia, vamos?
-Aham.- Respondo simples e dou um aceno de cabeça para o vizinho que não me recordo o nome no momento.
-O trânsito tá meio complicado hoje.- Pedro fala.- Daqui a pouco a gente chega.
-Tudo bem.- Dou de ombros.
Assim que o carro ganha as ruas de Nova York um pânico crescente se instala em mim, eu realmente estou pronta para contar tudo o que aconteceu nesse ano que se passou para Pedro? Eu estou preparada para escutar toda a verdade por trás dessa história? Eu realmente não sei, mas pretendo descobrir hoje, o pior já passou.
-Fiquei surpreso com sua ligação.- Pedro me olha quando para em um sinal vermelho.
-Eu também me surpreendi por ter ligado.- Outra vez dando de ombros, fingido que aquela conversa não está me matando aos poucos por dentro.
-Pensei que nunca me daria a chance de explicar e de me desculpar.
-Pois é, acho que esse assunto tem que morrer, eu preciso me libertar do passado, e se vc acha que deve me explicar e se desculpar por algo esse dia é hoje, por que sinceramente eu não sei se vai haver outro dia pra isso.
-O que quer dizer com isso?- Ele fala parecendo assustado.
-Deixa pra lá.- Falo e olho pela janela.
-Que fique claro que eu não vou te perder outra vez Lia.- Ele diz e logo depois presta atenção nas avenidas encerrando o assunto.
A frase de Pedro martela na minha cabeça como se estivesse provocando ecos " que fique claro que eu não vou te perder outra vez Lia."
Assim que paramos o carro no estacionamento em frente ao seu prédio eu desço e assim que ele sai do carro eu disparo sem conseguir me conter.
-Não é como se você tivesse me perdido Pedro, na verdade você me deixou.- Digo e saio andando em direção ao elevador.
-Como?- Ele pergunta me alcançando.
-Você entendeu.
Assim que chegamos ao andar de Pedro ele entra e eu estanco na porta, não tenho as melhores lembranças dessa sala e muito menos gosto da aflição que ela me trás. Os moveis estão como sempre estiveram como se nunca tivessem saído daqui e isso me incomoda bastante.
Entro depois de alguns instantes e Pedro me chama para sentar, me sento e o peço uma água, preciso de algo e faça esse nó da minha garganta descer de uma vez para que eu possa despejar toda a frustração que carrego a mais de um ano.
-Aqui.- Pedro me entrega uma garrafinha de água mineral e senta de frente para mim em uma poltrona preta.
-Obrigado.- Digo e viro um pouco do líquido na boca.
-Alex sabe que você veio aqui hoje? Pra falar comigo?- Ele pergunta e eu me surpreendo.
-Eu e o Al... Bom...
-Terminaram?- Pedro pergunta com os olhos saltando das órbitas.
-É, ele me disse que era para eu me decidir, e depois que eu deixasse meu passado pra trás procurar ele, ele disse que estaria me esperando.
-Então é por isso que veio aqui hoje? Para deixar tudo pra trás e voltar para o Alex?
-Não exatamente..
-Então é assim Liana? Você simplesmente escolhe um dia para me dizer que tudo vai ficar pra trás para que possa voltar correndo para o Alex?- Ele fala exasperado.
-Não Pedro, eu vim por que acima de qualquer coisa ou pessoa eu preciso me perdoar, por que mesmo que eu queira seguir em frente à dúvida me corrói a mais de um ano, e eu preciso ouvir da sua boca que você me deixou para ir atrás da Amanda, que me deixou para ficar com ela.-Falo quase sem fôlego.
-Como? Amanda? O que a Amanda tem haver com isso?- Ele fala arregalando os olhos.
-Não se finja de desentendido eu vi o e-mail Pedro.
-E-mail?
-O seu MacBook estava lá em casa e aí o e-mail dela te desejando boa viajem e dizendo o quanto estava ansiosa para ver você chegou e foi aí que eu vim pra cá e encontrei aquela maldita carta.
-Ela sabia da passagem por que minha irmã comprou pra mim, eu não fui pra ficar com ela Lia.- Ele fala incrédulo.
-Não?- falo sentindo um peso enorme sair das minhas costas depois de tanto tempo.
-Claro que não, eu fui por que... Eu fui por que eu te amava mais do que a mim mesmo e eu não queria deixar minha carreira como segunda opção, e bom quando eu me vi na Itália me bateu um desespero tão grande, minha vontade era voltar correndo e te dizer que eu sempre te quis, mas aí... Vocês me odiavam eu ia voltar pra que? Mas agora.. Eu não consegui ficar mais longe, e se você não me desculpar, eu realmente não sei o que eu vou fazer, vou me arrepender pelo resto da minha vida.- Ele fala e passa a mão nos cabelos.
-Você sabe o que eu passei durante esse tempo Pedro?- Perguntei com um sussurro.
-Não, mas eu espero de todo o coração que você me conte.
-Então pega lá uma dose de tequila por que essa parte não é uma das melhores partes da minha vida.
Pedro se levanta e vai até a cozinha, logo depois volta com um vidro de tequila embaixo do braço sal, limão e dois copos de doses.
-Então princesa pode começar.- Ela diz servindo nós dois.
-Bom, logo depois do ano novo eu peguei uma gripe terrível por que pegamos chuva e ainda entramos na piscina, você havia saído do meu apartamento no dia primeiro a tarde e tinha me dito que iria resolver algumas coisas para o seu pai na filial que ele tinha aqui, então eu nem me preocupei com o seu sumiço repentino. Katia tinha ido com a Pho e com o Marcos para Chicago e só voltaria no dia seis e como eu estava passando mal demais fiquei em casa me cuidando, a Clare foi lá em casa umas duas vezes me ver, mas eu estava melhorando com os analgésicos. No dia sete eu acordei de manhã me sentindo melhor, vi que você tinha deixado seu MacBook lá em casa e peguei pra levar pra você, mas eu liguei ele pra dar uma olhada no facebook e lá estava o e-mail, como era da Amanda eu fiquei com raiva e abri, e bom, foi assim que eu descobri que você tinha ido embora. Quando cheguei aqui no prédio o porteiro me deu a chave e me mandou entrar dizendo que você tinha deixado a chave pra mim. Quando eu cheguei aqui só encontrei a carta e o presente de aniversário encima da lareira, a casa estava vazia, entrei em desespero foi aí que a Katia e a Phoebe chegaram a Ka tinha lido o e-mail que eu havia deixado aberto e veio direto pra cá. Depois disso eu não tinha ânimo pra mais nada, foi aí que eu comecei a sair e me envolver com algumas companhias nada boas, então comecei a cheirar no começo pequenas quantidades mas depois ficou pior, então a
Katia encontrou Mika e me levou até ele, ele me ajudou muito mas eu comecei a tomar remédio pra tudo, dormir, comer, viver. Fiquei dependente e o Mika começou a tirar os remédios. Eu tinha crises de abstinência e ia atrás do Mika querendo receitas e ele não me dava, ele e a Rose passavam a noite em claro comigo e foi aí que eles viraram minha família. Hoje as crises não são constantes, mas às vezes eu corro pra lá. Bom, sei que eu sou fraca, falha e até idiota por ter ficado assim por um cara, mas poxa você tinha colocado uma aliança de prata com fios de ouro e brilhante no meu dedo, você me fez sua noiva e foi embora na mesma semana? E ainda deixou uma carta encima da lareira onde fizemos amor pela primeira vez? Isso foi demais pra eu aguentar, eu te amava tanto, tanto Pedro.- Assim que eu fecho minha boca percebo que estou chorando. Levanto minha cabeça e encontro Pedro com os olhos vermelhos e o rosto manchado de lágrimas, ele chega perto de mim se senta ao meu lado e me abraça.
-Me perdoa.- Ele sussurra, e eu sei que naquele momento eu o perdoei.

A última chance (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora