Carta

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Casa do Mika e da Rose, Nova York 2015

-Isso está ficando insuportável.- Eu falava pra Mika no sábado de manhã enquanto comia uma bolacha recheada que Rose havia feito pra mim.
-Lia eu estou achando que você está se dando muito bem com essa nova condição, bom, você está entendendo que mesmo sem ele você consegue viver e ser feliz, ele está presente em todos os seus dias agora e você não desmoronou, eu estou realmente orgulhoso.
-Meu medo não é desmoronar Mika.- Eu falei olhando para Rose que estava sentada ao seu lado.
-E qual o seu medo?.- Ele me perguntou sério demais.
-Meu medo é me apaixonar por ele novamente, ele está sendo tão gentil, prestativo e atencioso, às vezes chego a pensar que ele mudou realmente mas trocar o certo pelo duvidoso? Errar é humano mas repetir o erro é burrice.- Falo cabisbaixa. Esse era o tipo de coisa que eu só admitia para Mika e para Rose, eu sabia que eles me ajudariam, não iriam me julgar.
-Isso pode acontecer querida, mas se acontecer espero que você tenha certeza que ele mudou realmente, não quero que se machuque outra vez, mas como o velho ditado diz todos merecem uma segunda chance, não digo para que você tente algo com ele, pois o Alex é um amor de pessoa, mas se você quiser tentar, não fique com medo do passado.- Rose fala e pega em minha mão.
-O passado é uma lição para se aprender, não para jogar no lixo, pense bem, eu acredito em suas escolhas, sejam elas boas ou ruins, nós estamos aqui, sempre estivemos e estaremos, lembre-se disso.- Mika fala e se levanta olhando no relógio.- Clare está te esperando não é? Já são dez horas, marcaram de almoçar às onze e meia, vá logo antes que se atrase.- Eu e Rose levantamos no mesmo instante, ela me abraça e Mika me dá um beijo na testa e eu me preparo para ir embora.
Ando a passos largos pela rua, sei que vou demorar a encontrar um táxi por aqui, mas não é algo que me incomode no momento, como sempre eu sai da casa de Mika me sentindo revigorada.
Depois de uns bons 20 minutos andando encontro um táxi que está disponível, passo o endereço de Clare e logo avisto seu prédio pelas janelas do taxi.
Clare mora muito bem aqui em Nova York, sua casa é de frente para o Central Park e eu sempre gostei de olhar as pessoas de sua sacada.
Desço do taxi e jogo alguns dólares para o motorista, ele me deseja uma boa tarde e eu saio sorridente para a calçada.
Comprimento seu Dirceu, porteiro do prédio de Clare e entro sem ser anunciada.
Algum tempo depois me encontro sentada na mesa de jantar de Clare.
-Vamos Clarezinha, pode me dizer o por quê de um convite assim?- Eu pergunto já sabendo que vem bomba logo mais.
-Bom eu havia te chamado aquele dia apenas para conversarmos, mas hoje tenho um motivo em especial.
-Então desembucha mulher.- Falo zombando, ela não gosta de linguagens chulas como ela sempre diz.
-Depois do almoço minha querida, agora coma.- Ela me olha e sorri terna. Clare foi a figura materna que eu tanto precisei durante esse tempo que estive aqui em Nova York, acho que por isso ela é tão importante pra mim.
Depois que terminamos de comer Clare vai até a cozinha e trás algum tipo de sobremesa de coco.
-Clare para de enrolar e me diga, eu estou realmente curiosa.
-Me espere aqui.- Clare some em seu escritório e depois de longos minutos ela surge com um envelope nas mãos, ele parece velho, parece gasto e um pouco amassado.
-Bom, eu estava esperando a hora certa para lhe mostrar isso e agora acho que é o momento perfeito para que você possa ler essa carta.
-O que é isso?- Falo pegando o envelope de sua mão e reconhecendo a caligrafia que se encontra ali escrito "Clare".- Ele também te mandou uma carta quando se foi?- Eu pergunto a ela sem acreditar no que eu estou vendo.
-Ele mandou uns dois meses depois, eu havia ligado para a reitora da Dormant dois, disse  para o mandarem de volta, mas ele já havia trocado de turma e estava tudo nos conformes, estava tudo certo, ele tinha pensado em tudo, então não houve muita coisa da qual eu pudesse fazer. Logo quando ele soube que eu havia ligado ele mandou essa carta, e eu acho que você deveria ler, vai te fazer bem, e bom, esclarecer várias coisas, leia em casa, quando tiver tempo, pois precisará ler e reler tenho certeza.
-Ok.- Foi o que consegui dizer.
Guardei a carta na bolsa e ajudei Clare com a louça. Logo eu me vi saindo às pressas de seu prédio, queria chegar em casa logo e ler o que Pedro tinha de tão importante para falar para Clare.
Chegando em casa encontro Katia jogada no sofá junto à Phoebe, com certeza estão me esperando para que eu conte em detalhes o que Clare queria comigo.
-Então?- Katia se levanta assim que eu passo pela porta.
-Ela me entregou isso.- Mostro a carta a elas.
-O que? Ele deixou uma carta pra ela também?- Phoebe tira a carta de minhas mãos.
-Não, mandou pra ela dois meses depois.- Falo me jogando no sofá.
-E o que está escrito?- Katia pega a carta da mão de Phoebe como se fosse algo radioativo.
-Não sei, eu ainda não li. Clare me pediu para que eu lesse em casa.- Pego a carta de Katia.- Agora se as senhoritas me dão licença eu vou ir para o meu quarto ler essa carta antes que a curiosidade me mate.- Eu falo saindo e deixando as duas de bocas abertas logo atrás de mim.
Chego em meu quarto e troco de roupa, pego a carta e deito em minha cama, hora de saber nem que seja uma parte de tudo o que está oculto nessa historia.
No começo eu só queria esquecer o que havia acontecido e seguir a minha vida, mas agora que estou sendo obrigada a conviver com Pedro eu sinto que para deixar essa história para trás eu preciso disso, preciso de um ponto final.
Assim que tiro a carta de dentro do envelope vejo que ela é mais extensa do que eu pensei, ele tinha muita coisa para falar com Clare, e isso me dói, pois a carta que ele me deixou não tinha nem 500 palavras direito.
Nesse momento eu posso estar com a minha carta de alforria nas mãos, essa carta pode ser o que faltava para que eu me libertasse dessa dor e desse sofrimento que me consome a mais de um ano, essa carta pode ser a minha superação.

A última chance (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora