Surpresa

19 5 2
                                    

Nova York, Dormant Talents, dia do primeiro espetáculo, 2013

Eu me olhava no espelho de tempos em tempos para ter certeza de que tudo estava em seu devido lugar. O figurino me encantou e a maquiagem havia me dado um ar tão nobre que eu não estava me reconhecendo.
Todos estavam felizes e enérgicos, afinal era o primeiro espetáculo para ambos na Dormant.
Minha apresentação seria a terceira, pois os veteranos que estavam no segundo e terceiro ano do curso apresentariam primeiro. Eu estava uma pilha de nervos, os exercícios de concentração não ajudavam mais, Pedro não tinha falado comigo desde o ocorrido e eu tentava imaginar como seria nossa dança, e o que vinha em minha cabeça não era nada legal, eu só me via fracassando miseravelmente.
Clare veio aqui na coxia mais cedo e nos transbordou de palavras de incentivo, ela disse que voltaria para falar comigo mas até agora não tinha dado as caras.
Katia passou por aqui e ela estava tão profissional que eu custei a reconhecê-la. Phoebe estava deslumbrante e Marcos estava babando só de olhar para ela.
Eu não havia visto Pedro ainda, e um medo sem cabimento de que ele não aparecesse começou a me dominar, eu estava com vontade de chorar pra sempre, ou talvez vontade de sair correndo.
Assim que as apresentações começaram a coxia ficou silenciosa, e junto com o silêncio a minha ânsia de vomito veio. Eu já não conseguia mais segurar o líquido espesso em minha garganta, estava suando e me sentia bamba, logo corri e entrei no banheiro.
Uns bons cinco minutos depois, eu sai me sentindo melhor sem nada no estômago, assim que fui retocar a maquiagem encontrei Pedro em seu figurino impecável encostado na porta do meu camarim.
-Pode me dar licença?- Pedi e ele ergueu sua cabeça me olhando.
-Claro.- Ele deu espaço para que eu abrisse a porta.-Você está bem?.- Ele perguntou algum tempo depois.
-Sim estou.- Respondi enquanto retocava a maquiagem.
-Não é o que parece.- Ele falou debochado.
-Sério?- Falei sem lhe dar a devida atenção.
-Você estava colocando os órgão pra fora ali no banheiro.- Sua frase veio com uma gargalhada.
-Quer me dar licença?- Pedi sem paciência.
-Ok.- Ele falou e saiu andando sem dizer mais nada.
Acabei de retocar minha maquiagem no momento em que Clare chegou entrando esbaforida no camarim.
-Você está bem querida?- Ela perguntou me analisando de longe.
-Estou, tive um mal estar agora a pouco mais já passou não se preocupe.
-Sei que está nervosa, afinal é seu primeiro espetáculo, mas tudo vai sair como o planejado tenho certeza, não precisa se preocupar, vim lhe desejar boa sorte, vou procurar por Pedro vocês são os próximos, 20 minutos ok?
-Ok.- Eu falei sentindo a ânsia outra vez.
-Só respire, você nasceu para dançar, não se preocupe tudo ficará bem.- E então ela sumiu pelo corredor a procura de Pedro.
Fiz alguns exercícios de respiração e logo ouvi chamando o nosso número, os bailarinos se amontoaram no corredor e logo todos estavam prestes a entrar no palco.
Pedro segurou em minha cintura como se eu fosse um boneco e entrou comigo com passos precisos pelo palco, começamos nossa apresentação e tudo o que eu sentia era a euforia de estar no palco da Dormant. As coisas estavam estranhas entre mim e Pedro mas quando dançávamos deixávamos tudo o que tinha de errado para outro momento, a dança nos completava e isso fazia uma sincronia enorme crescer entre nós dois. Longos minutos se passaram até que as cortinas abaixaram, eu estava sem fôlego e feliz pelo meu desempenho.
Assim que as cortinas terminaram de abaixar Pedro me soltou e foi para o corredor dos camarins como se nada tivesse acontecido, talvez eu o tivesse chateado demais, mas se ele não estava pronto para me dizer o que estava havendo não seria eu a perguntar.
O meu maior medo no momento era a viajem, já estava tudo armado, e pelo jeito eu não estenderia até a Itália, eu ficaria quieta no Brasil durante as duas semanas, seria bom rever os amigos, mas eu estaria longe de Pedro e isso não me animava.
Eu não sabia o que ele pretendia fazer, mas acho que iria viajar sozinho, ou talvez ficar por aqui, ele sempre disse não suportar a Itália, ele dizia que iria por que eu o acompanharia, mas na altura do campeonato eu não sabia de mais nada, ele havia virado um enigma, e eu já estava perdendo a vontade de desvenda-lo.
As outras apresentações foram lindas e rápidas, logo depois tivemos um coquetel para os alunos mas como eu iria viajar cedo não esperei. Peguei um táxi e fui pra casa, tomei um banho e me livrei da maquiagem, minha mala já estava pronta havia dois dias e eu estava começando a ficar desanimada para a viajem.
                         **********
Cheguei no aeroporto as 6:00, meu voo sairia as 8:00. Fiz o check-in e fui para a sala de espera esperar pelo meu voo.
As horas passaram voando e logo meu voo estava sendo anunciado.
E era isso, eu estava indo para o Brasil sem Pedro, nossa viajem de férias tinha afundado igual ao titanic.
Entrei no avião e comecei a procurar minha poltrona, quando a encontrei levei tamanho susto que deixei minha bolsa de mão cair no chão.
-Então? Animada para nossa viajem?- Pedro perguntou sorridente.
-O que está fazendo aqui?- Perguntei sem acreditar.
-Ué, esse é o nosso voo
-Pensei que você não viria.
-Claro que eu viria, não perderia isso por nada, agora senta aí e vamos assistir a um filme.

A última chance (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora