Inebriante

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Dormant Talents, Nova York, 2015

Saio do vestiário com a cabeça cheia, Phoebe vem atrás de mim perguntando se estou bem, o que ela acha? Claro que não estou bem, antes ela não tivesse me contado nada disso.
Pedro e mesquinho, egocêntrico e paranóico, eu não quero nada que venha dele. E eu já deixei claro isso a ele, não quero ser nem sua amiga meu Deus.
-Pho quer me deixar em paz? Eu tenho que ensaiar.
-Tá tudo bem mesmo Lia? Eu só contei por que achei que te faria bem saber disso.
-Achou que me faria bem? Claro você pensou que a idiota da Lia que caiu numa depressão feia e que começou a se drogar gostaria de saber que seu lindo principe voltou por ela e que ele a ama, mas olha Phoebe tenho uma novidade, eu não sinto nada, absolutamente nada por ele, e quer saber? Por mim que ele morra. Velho já cansei de deixar ele se meter em minha vida a final nós não tínhamos nada quando ele se foi esqueceu? Na verdade nunca tivemos nada, o que? Alguns beijos no vestiário e algumas palavras bonitas não fazem um relacionamento. E se fosse pensar por esse lado ele não estava tão errado de ir embora eu que fui a idiota de acreditar que algum dia tivemos algo, era só um jogo sempre foi e você se lembra.
-Lia, vocês iam morar juntos, no ano novo ele pediu isso, ele...ele te deu um anel e... Casamento, ele propôs casamento. Como você pode dizer que não tinham nada? Ok vocês nunca assumiram um namoro, mas o que viveram foi bem mais do que eu e o Marcos vivemos em todo esse tempo. Olha sei que está falando isso por que foi muito magoada, mas está mudando quem você é, quem você sempre foi, você tem que enfrentar ele, enfrentar isso e decidir de uma vez por todas o que quer da vida, deixar o passado morrer.
-Pho, olha, a Lia de dois anos atrás não existe mais tá bom? Pedro mexe comigo ? Sim. Mas eu o amo? Não. E mesmo se eu o amasse, preferia morrer com esse sentimento a me entregar a ele outra vez, então por favor me ajuda tá? Não toca no nome dele se for para falar de nós dois. Eu to bem, e graças a você, Marcos, Katia, Alex, Rose e Mika, não graças a ele. Por que a única coisa que o filho da puta fez foi me enviar cartas todos os meses, sabe o que eu acho? Que ele fazia isso para que eu não me esquecesse dele nunca, para quando ele não tivesse mais opções ele correr para Nova York sabendo que teria uma trouxa aqui a sua espera, mas ele se ferrou sabe, por que eu estou com o Alex e não pretendo o deixar.
-Você o ama não é?- Phoebe pergunta de cabeça baixa.
-Amo Pho, mais do que eu gostaria, mas fazer o que? Não era pra ser, ele me deixou uma carta. Você já a leu? Tudo o que nós vivemos foi descrito em uma carta, foi digno somente de uma carta, nem homem para falar comigo ele foi, então é melhor deixar tudo como está.- Eu sorrio fraco e ela me abraça.
-Eu estou aqui, você sabe não é?- Ela sussurra.
-Eu sempre soube.- Beijo sua testa e me afasto a passos largos.

                       **********
-Lia o que aconteceu?
-Nada ué por que?
-Seus cisnes estão emanando de você, está perfeito.- Clare bate palmas.
-Que bom então. Mas, até o branco?- Falo sem acreditar.
-Sim, sim até o branco.
Graças a Deus alguma coisa dando certo, já faz 3 horas que estamos aqui ensaiando. Clare pediu para ensaiar só comigo e com Pedro hoje, o resto dos bailarinos estão em outro galpão ensaiando com Aghata.
-Vou ir tomar uma água, quer que traga pra vocês?- Pedro pergunta pegando sua garrafinha.
-Quero por favor.- Clare responde, já eu só balanço a cabeça em negativa.
Assim que ele sai Clare olha pra mim seria.
-Depois que sairmos daqui quero que passe em minha casa.- Ela fala.
-Pra que?- Falo arrumando as sapatilhas.
-Só passe lá, tenho que te mostrar algumas coisas.
-Ok
-E como você está se sentindo em relação a isso?- Ela mostra o galpão todo.
-Estou bem Clare, relaxa, viu? Meus cisnes estão emanando. Estou conseguindo, ele não está mexendo mais comigo se é isso que você acha.
-Eu não disse isso.- Ela fala com ironia.
-E nem precisava, eu te conheço.- Falo e a lanço um olhar mortal.
Depois que Pedro volta eu saio e vou em direção ao bebedouro de água para encher minha garrafinha.
-Por que não me deixou encher pra você?- Ouço a voz dele atrás de mim.
-Por que não quero beber água cuspida.- Falo e forço um sorriso amarelo.
-A, explicado.- Ele gargalha.
-Pois é né.- Passo por ele e ele segura meu braço.-Que foi?- Olho para sua mão me segurando e depois para seu rosto.
-Estamos nos saindo bem não é?- Ele fala.
-Diz a Clare que sim né.- Falo e puxo meu braço, continuo andando.
-Vai me evitar até quando?- Ele pergunta vindo atrás de mim.
-Pretendo te evitar durante os próximos 80 anos.- Falo sem me virar.
-Eu não pretendo deixar que isso aconteça.- Ele pega meu braço me vira me segurando contra a parede.
-Primeiro, você não tem que deixar nada, e segundo, me solta agora.
-Você está com o Alex?- Pergunta sem se importar quando eu me remexo tentando me livrar de suas mãos em meus pulsos.
-Estou, se era isso que queria saber, agora me solta.
-Você o ama?
-Não é da sua conta.- Mais uma tentativa inútil de me soltar.
-Isso não responde à minha pergunta.- Ele fala sério.
-To me fudendo pra sua pergunta, me solta Pedro.- Falo brava.
-Me responde, e eu solto.
-Amo.- Falo olhando para baixo.
-Quero que fale olhando pra mim.- Ele levanta meu queixo com a ponta dos dedos fazendo que eu olhe em seus olhos.
-Me solta.
-Me responde.
-Não tenho que te responder nada, me solta.- Falo sentindo as lágrimas invadirem meus olhos.
-Tá desculpa.- Ele me solta.- Não precisa chorar.- Ele fala e quando eu menos espero ele me abraça, e eu? Fico sem reação como se fosse uma boneca da qual ele gosta muito.

A última chance (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora