Chapter 4

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Matt
— O que achou disso? -perguntei.
— Realmente ótimo. -ela sorriu e me beijou de volta.
Eu não sei o nome dessa garota mas ela estava bem gata na festa de ontem e isso é o que importa. Tento não pensar muito quando estou ficando com alguém. Só acho divertido, não sinto absolutamente nada. As vezes até acho tedioso (como agora), mas continuo a beijando por falta de algo melhor pra fazer. Não quero voltar pra casa ainda. Tive uma briga feia ontem com meus pais quando tentei falar que não iria mais seguir as regras deles, mas me encheram o saco e eu fui pra essa festa que Tom disse que teria (como tinha todos as segundas, sextas e sábados). Claro que eu passei a noite inteira lá e vim para a casa dessa garota irritante, porém gata, que achava mesmo que eu sentia algo por ela. Eu sou mesmo um merda. Mas nem ligo. Minha especialidade é quebrar corações.

Kat
*ligação on*
"Mary! Você precisa vir aqui! Precisamos ver os uniformes do gesto"
"Eu vou, depois que sair do curso de inglês. É melhor chamarmos Julie e Pen também, não?"
"Já chamei."
"Ok! Chego aí em duas horas"
*ligação off*
Cheguei da escola e liguei para as meninas virem aqui em casa e decidirmos nosso uniforme do gesto que iríamos fazer no Congresso de Jovens e ensaiarmos um pouco. O dia hoje tinha sido corrido e eu decidi lavar meu cabelo para relaxar um pouco. Foi um banho bem longo e quando eu saí, quase uma hora tinha se passado. Peguei meu celular e tinha duas mensagens. Até aí tudo bem. Foi só quando vi de quem era, que me surpreendi: "JIM: oi kat, como está?/ JIM: peguei seu número com a minha mãe ok?
O que mais me deixou chocada foi ele ter sido completamente legal na mensagem, nada parecido com aquele Jim, descendo do carro no Domingo. Respondi, simpática, afinal não tinha nada contra ele. Ficamos conversando por mais ou menos uma hora e eu percebi que Jim era uma pessoa maravilhosa e divertida, que amava comida japonesa (como eu) e era viciado em séries (como eu de novo). Ele era o mais novo dos irmãos, tinha a minha idade e ano que vem pensava em cursar Medicina, quando acabasse a escola. Tive que me despedir dele porque as meninas chegaram e, não sei porque, resolvi não comentar nada com elas. Ainda.  Passamos o resto da tarde e um pedaço da noite ensaiando e decidindo o que iríamos usar. Ficou ótimo e quando elas saíram, eu estava morrendo de fome. Fiz um miojo e fiquei assistindo tv com meus pais pelo resto da noite. Eu sei o que você está pensando. Já tenho 17 anos e passo tempo demais com meus pais, além de não ir a festas, não beber ou fumar e você realmente deve achar que minha vida é entendiante. Mas eu amo essa vida, amo passar tempo com minha família e quanto a um namorado... adoraria ter um, mas devemos esperar em Deus não é?
Minha mãe é uma mulher linda, magra, cabelos loiros quase até a cintura e rosto quase sem rugas ou manchas. Seu nome é Andy e eu sei que a descrição não parece de uma típica mãe, mas ela é mesmo maravilhosa assim e sempre falaram que parecíamos duas irmãs, o que eu não concordo (bem que eu gostaria de ter herdado um pouco da beleza dela). Já meu pai é um cara alto, careca e com um sorriso de 10.000 watts que encanta todo mundo. Seu nome é Dominic (todos chamam ele de Dom). Ela tem 43 anos anos e ele, 45. Os dois se conheceram bem jovens e logo se casaram, já que naquela época, era dessa forma que as coisas funcionavam. Depois de dois anos casados eles tiveram a mim, e eu brinco falando que foi quando a vida deles melhorou. Tive o lar que todas as crianças sonham ter. Eles sempre foram presentes, carinhosos, que faziam tudo o que estava ao alcance deles para me agradar. Sabe aquele tipo de pais, que vão a todas as suas apresentações da escola e que te dão parabéns por toda coisa boa que você faz? Eles eram e ainda são assim. Me ensinaram os caminhos de Deus e me prepararam para uma boa vida material, já que eu fiz curso de inglês e francês e já sou fluente nos dois. Não posso simplesmente crescer e deixar de passar tempo com essas duas pessoas que amo tanto! Mas quando eu comecei a cochilar no sofá, meu pai me acordou e me disse pra voltar pra cama, onde eu instantaneamente caí no sono.

Julie
20:30. Saí da casa da Kat e fui de trem para a minha pequena casa perto da Cidade Comercial, onde ficava o shopping e várias outras lojas. Logo que abri a porta, senti o cheiro forte do cigarro. Tossi e fui andando até meu quarto. Encontrei meu pai no corredor, com certeza bêbado e com um cigarro nas mãos. Minha mãe tinha morrido a mais ou menos dois anos. Nós todos éramos evangélicos mas meu pai perdeu sua fé e nunca mais foi na igreja desde que isso aconteceu. Antes era só isso. Depois veio a bebida e depois o cigarro. Ele não usava drogas, até onde eu sabia, mas de uns tempos pra cá ele se tornou um pouco violento nos momentos em que não estava em si. E só de olhar nos olhos dele, já sabia que ele ia fazer de novo. Tive certeza quando senti o primeiro soco.

Mary
Estava quase chegando na minha casa, quando vi esse maravilhoso carrinho de churros que fica na esquina. Claro que eu fui comprar um e acabei de comer antes mesmo de chegar em casa. Meus pais estavam sentando na mesa para começar a comer o jantar. Acabei sentando com eles e comendo também. E depois outra sobremesa. Pedi licença quando acabei, como sempre fazia e fui ao banheiro. Sentei no chão, na frente da privada. "Nossa Mary, como você está linda com esse corpinho de modelo", "Mary, como consegue ser tão magra?", era o que sempre diziam. Minha consciência me atacou novamente. "Deus se agrada do que você está fazendo Mary?", "E o que me diz do Espírito Santo que habita em você?". Apaguei tudo da minha mente. Não me permiti pensar em mais nada. Enfiei dois dedos na garganta, e simplesmente vomitei em silêncio.

I'm a messOnde histórias criam vida. Descubra agora