Chapter 3

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Kat
Exatamente ás 5:45 da manhã meu celular despertou. E pela primeira vez em muito tempo eu desliguei no primeiro toque e me levantei. Minha mãe deve ter estranhado (já que todos os dias ela tinha que levantar uns 15 minutos depois de meu despertador ter parado de tocar e me mandar levantar para ir á escola).

-Kat, você já levantou? Quer que eu faça seu café? -ela perguntou com voz sonolenta.

- Não mãe, estou sem fome.

Coloquei meu uniforme de camiseta branca e legging laranja, escovei meus dentes e saí logo. Eu estudava na mesma escola desde a segunda série e tinha praticamente os mesmos poucos amigos. Vamos dizer que ser a pessoa que sou dentro da igreja e dentro da escola, traz consequências diferentes. Na igreja, eu podia ser conhecida por todos,mas na escola eu era quase anônima, com poucos amigos e no máximo uma fama de querer ser santa. Mas eu não me importava mais, eu entendia o preço que tinha de pagar pela pessoa que eu era e gostava de ser. Enquanto eu sentava no ônibus e colocava meus fones de ouvido, comecei a pensar nos acontecimentos do final de semana. Três pessoas, eu diria bem diferentes das que estou acostumada, "entraram" na minha vida. Aquelas figuras não demonstraram nenhuma vontade de falar realmente conosco. Parece que depois da confraternização de Sábado, quando eles viram como realmente éramos, perderam o interesse. No final do culto de ontem, os três saíram bem rápido e ficaram na rua, na frente da igreja, conversando entre eles e com cara de que não queriam ninguém ali. O pessoal da igreja parece não ter gostado nem um pouco do jeito como nos trataram também, mas não havia nada a fazer. Claro que Lucca e o irmão dele Jay mencionaram uma certa vontade de socar a cara deles, só achamos melhor não, por enquanto. Pen disse que eles já tinham perdido a "magia" e até Mary, que quase nunca falava nada disse que eles pareciam muito arrogantes. Tentei, realmente tentei concordar com elas, mas eu simplesmente não conseguia acreditar que eles eram apenas aquilo. Tinha que ser apenas uma casca que escondia pessoas maravilhosas, talvez...tímidas? Eu sei que isso soa como loucura mas eu tinha que ter esperanças e isso com certeza não tinha nada a ver com o fato de eu ter começado a ter uma quedinha por Matt, o irmão do meio. Claro que eu não disse a ninguém! Eu deveria ficar do lado dos meus amigos...eu acho.

Estudei nessa escola desde a segunda série e ela já mudou muito desde que eu tinha 7 anos. Mas o velho prédio ainda existia e era justamente onde ficava minha sala, com paredes de ladrilhos laranja, o corredor cheio de armários brancos e a calça laranja que usávamos parecendo brilhar ali no meio. O dia passou bem rápido sem nada de importante acontecendo e realmente não vou citar minhas amigas de escola nesse momento. Só sei que quando cheguei em casa, não encontrei minha mãe e meu pai, claro, já tinha saído faz tempo para trabalhar. Resolvi dormir um pouco, já que noite passada não tinha conseguido dormir quase nada e acordei quase na hora do culto. Pude ver minha mãe na cozinha, já pronta e ouvi o som do chuveiro sendo desligado.
- Mãe? Acho que não vou na igreja, nem tomei banho e dormi demais.
Ela respondeu algo que não ouvi, porque já entrei no banheiro com o chuveiro ligado e quando saí, eles não estavam mais. Fui para o meu quarto estudar um pouco.

Matt
—Cale essa maldita boca Susi!-gritei pela milésima vez para a cachorra que não parava de latir.
— Caramba Matt, o que há com você? Geralmente você nem fica aqui embaixo, quanto mais se importa com Susi. -Jim disse.
— Concordo com J! Desde que entramos na igreja nova você está estranho. -Mike respondeu.
— Isso não tem nada a ver com a droga da igreja nova tá legal? Me deixem em paz! -subi as escadas correndo mas ainda pude escutar os comentários de sempre dos meus irmãos.
"Onde será que erramos com Matt?", "Porque esse menino é tão revoltado?", "Matt ficou nervoso de novo". Era o que todos eles diziam, o tempo tempo, pensando que eu não escutava. A verdade é que eu sou a ovelha negra dessa família, totalmente diferente de todos eles. Até me orgulho disso. Eu nunca iria querer ser esses crentinhos caretas que são! Parecem um bando de merdinhas falando manso. Não me importo com nenhum deles e nem com igreja alguma, mas preciso fazer meu pequeno teatro por mais um pouco de tempo, até eu conseguir um emprego e não precisar da mesada que me dão. Sim, eu fiz um acordo. Eles continuariam a me dar minha mesada, se eu fosse na igreja pelo menos duas vezes por semana e fingisse ser algo mais do que um merda. A sorte é que eu não precisava fazer isso em casa. Então fui naquele evento idiota (realmente não poderia chamar aquilo de festa) e fingi que eu era um grande cara legal e comportado. Até falei com uma garota entediante e fingi que estava indo me divertir no kinect para me livrar dela. E no culto de Domingo pude perceber que eles todos eram ainda mais idiotas do que os jovens da igreja anterior. Eu nunca gostei de igrejas, nunca quis ir, mas parece que meus pais tinham alguma espécie de esperança de que algo me atingisse na alma e eu mudasse literalmente, meu cérebro. Isso não ia acontecer. Jim e Mike eram prodígios, mas eu (ao contrário, sempre) havia acabado a escola fazia quase um ano e nem fazia faculdade ou pensava em fazer. Quero arrumar um emprego qualquer apenas para poder me livrar da igreja e sair com meus verdadeiros amigos, os que realmente sabem se divertir. Eu tinha feito uma entrevista e acho que ia rolar. Já estava na hora de os senhores Ommar e Sonia saberem que o filhinho crente deles está prestes a desaparecer.

I'm a messOnde histórias criam vida. Descubra agora