Chapter 12

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Sábado
Penny
— Penélope venha aqui, sim?
Odeio quando me chamam de Penélope. Sou uma garota de 16 anos com o nome de alguém que só usa rosa. Mas como se trata da minha mãe, acho mais sensato ficar quieta. Desço a grande escada em espiral de minha casa descalça, e encontro minha mãe sentada no sofá.
— Sente-se. Temos que conversar.
Eu já sei o que está por vir. Estamos prestes a brigar. Dessa vez só não sei o porquê. Geralmente é por causa do meu pai. Já pedi, implorei, esperneei para que ela me contasse quem é o meu pai e onde ele está, mas ela nunca cede. Parece que tudo acaba nisso. E ela sempre diz o mesmo: "não sei onde ele está e nem quero saber. Mas ele não merece te conhecer." Sento no sofá, olhando séria para ela. Minha mãe é uma mulher forte. Ela e minha avó (que ficou viúva a uns 13 anos) me criaram sozinhas depois que meu pai foi embora quando eu tinha 1 ano. Ela parece cansada, têm olheiras. E o cabelo cor de bronze está preso num coque. O silêncio parece durar uma eternidade, mas finalmente ela fala:
— Acho que está na hora de contar sobre seu pai.
Preciso de um minuto para assimilar o que ela disse.
— Por que agora?
Ela não responde. Apenas apoia a cabeça em uma das mãos, fechando os olhos.
— Quer saber ou não?
Assinto e ela simplesmente começa. Como se estivesse me contando um filme, ou uma história de conto de fadas.
"O nome dele é Damian. Nicolas Damian. Eu tinha 17 anos quando o conheci e estava terminando o colegial assim como você. Nos conhecemos através de uma tia minha, ele vivia na casa dela desde que os pais tinham morrido em um acidente. Pense em um garoto lindo, aquele que todas as meninas gostariam de namorar. Começamos a conversar e nos tornamos mais próximos, até que ele me pediu em namoro e é claro que aceitei. Andávamos juntos para todo lado, e ele era realmente maravilhoso. Fazia todas as minhas vontades, era simpático e só tinha olhos para mim. Um dia ele estava em minha casa, aqui mesmo, e lá fora caía uma tempestade horrível, daquelas que deixam várias árvores e casas caídas por aí. Passava um filme de comédia na televisão e eu estava cochilando apoiada em seu ombro, quando o telefone tocou. Era a notícia de que a tia Vilma, que cuidara dele desde a infância, depois da morte de seus pais havia morrido, infarto. No começo foi a tristeza que o dominou. Ele não falava mais, ficava dentro do quarto e quase não visitava. Mas eu entendia, afinal, tinha sido uma perda enorme, e iria passar. Mas não passou. Quando ele começou a entrar em depressão, começou a beber. Alguns dias ele parecia ser o de antes, mas quase sempre estava bêbado ou pelo menos "alegre" por causa de alguma bebida. Passamos a discutir o tempo todo, e ele chegou a me dar um tapa uma vez. E mesmo assim eu sempre o perdoava. Fiquei grávida de você e achei que isso ia resolver, finalmente. Eu estava enganada. Quando você nasceu, ele ficou feliz e até estava lá comigo, mas voltou ás mesmas práticas, só que ainda pior, já que algumas drogas também entraram no meio. Não se tratava mais da morte de Vilma. Ele era um viciado, mas não admitia. Passou a praticamente morar aqui, e minha mãe não podia fazer nada, já que ele nos enchia de ameaças. Você tinha apenas um ano de idade, mas já estava tão acostumada com as brigas, que quando começavam você já corria para dentro do guarda roupa e ficava escondida. Ele não ligava para os possíveis traumas que isso poderia lhe causar. Um dia, uma dessas brigas feias acontecia, e ele levantou a mão para me bater novamente. Você saiu do guarda-roupa que ficava lá em cima e desceu correndo essa escada em espiral, gritando e chorando. Você era bem esperta e já sabia falar muitas palavras. Pegou na mão de Nicolas sem medo e o puxou para a cozinha. Eu continuei na sala, parada em frente a TV. Ficaram lá por no máximo dois minutos, e só o que eu pude ouvir foram alguns sussurros. Quando ele surgiu de volta da cozinha, eu vi que algo tinha mudado, só não sabia o que. Ele olhou para o meu rosto pálido e assustado e subiu as escadas. Perguntei a você o que tinha acontecido, mas não pude extrair nada dessa garotinha de 1 ano chamada Penny. Meia hora depois ele desceu, com as malas na mão, atordoado. Murmurou algumas palavras como "me desculpe", saiu por aquela porta e nunca mais voltou."
Depois de terminar a história, ela olhou para mim e pelo seu rosto, percebi que tinha se livrado de um grande fardo. Eu com certeza precisava de um tempo para digerir isso. Meu pai tinha sido bom e depois horrível. De repente ele simplesmente foi embora. E nunca mais voltou. O que eu disse a ele na cozinha? Ninguém sabia. Eu só consegui murmurar um rápido "obrigado por me contar", depois liguei a televisão. Passamos muito tempo ali, e ninguém disse nada, até vovó acordar dizendo que estava com fome.

Segunda
Kat
de.cep.ção
• Ilusão perdida
• Desapontamento
• Desilusão
O que é isso que estou sentindo? Porque parece ter uma placa de ferro apertando meu peito? Onde está minha fome, onde está meu sorriso? Não consigo pensar em nada, minha cabeça só se volta para a noite de sexta. Gostaria de saber o que eu estava pensando? Achei mesmo que tínhamos algo, mas pelo visto EU tinha algo e ele estava apenas fazendo brincadeiras comigo. Sabia que não haveria ligações mas mesmo assim dou uma olhada no celular, por curiosidade. Matt não tinha o direito. Provavelmente ele está com Molly (descobri seu nome através de Zac, na festa). Eu só...senti o que nunca havia sentido. E achei que era recíproco. Termino de arrancar todo o meu esmalte preto. O professor de Física está explicando algo sobre ligações. Por que ele não me liga? Achei que fosse se desculpar pelo menos. Ninguém nunca me tratou tão mal. Esses últimos dias parecem estar se arrastando. As pessoas falam comigo e eu escuto suas vozes abafadas, como se eu estivesse a quilômetros de distância delas. No Domingo, ele não estava no culto, é claro. Mas o que me dá mais raiva é eu ter tido uma mínima esperança de que ele apareceria, me dizendo que tudo não passou de um mal entendido. Mais uma hora e eu vou embora. Sei que quando eu chegar em casa vou me trancar no quarto e tentar dormir ou fazer uma merda qualquer para me distrair mas vai ser melhor do que a escola. Onde eu tenho que pelo menos tentar parecer bem. As pessoas estão reparando. Meus amigos, meus pais. E olha que só tem 3 dias que tudo aconteceu! Mas o vazio em mim só aumenta. Tentei orar no Sábado, mas estou tão inútil que nem isso consegui fazer. Acho que acabei dormindo -de novo- porque acordo com uma garota chacoalhando meus ombros e dizendo que a aula acabou. Junto minhas coisas, passo a mochila em um ombro só e vou andando a passos lentos. Passo pelo pátio encarando o chão quadriculado de verde e cinza. Desço as escadas até o subsolo e ando até o portão branco com grades. Quero chorar, só de ver que hoje o dia está lindo. Tenho consciência do calor aumentando pelo fato de que não tirei minha blusa de frio, mas nem ligo. Levanto a cabeça, para sentir o Sol no meu rosto antes de começar a andar de novo. O ponto de ônibus já está perto. Chuto uma pedrinha sujando o tênis branco de couro. Alguém bate com tudo em minhas costas e eu quase caio. Viro para trás:
— Mas que... -paraliso.
Logo de início, acho que ainda estou dormindo na aula de Física, sonhando. Depois tudo começa a girar e acho que vou vomitar todo o nada que comi desde sexta a noite. Por último, minha pele parece estar em chamas, meu coração dispara e eu acho que vou ter um ataque neste momento. Porque acabo de ter certeza, de que o garoto de olhos cinzentos, cabelo preto arrepiado, com sorriso cínico, atraindo todos os olhares e suspiros das meninas que saem de minha escola é o Matt.

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⏰ Última atualização: May 20, 2016 ⏰

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