Chapter 10

28 3 1
                                    

Kat
Ele passou sem ao menos olhar na minha cara e ela fez questão de me lançar um sorriso. Realmente não sei porque essa raiva. Mesmo que desse para perceber que eu sentia algo inútil por ele, qual era o medo? Ela é uma loira linda, de pernas torneadas que já namora com ele! Eu não sou uma ameaça mesmo! Não falaram com ninguém e também não falamos nada. Estávamos extremamente cansados e nenhuma notícia tinha vindo ainda. Da cadeira onde eu estava, dava para ver um bebedouro que ficava no canto, a água pingando constantemente fazendo um "clic" no silêncio da sala de espera. No corredor do lado, outras pessoas em outras salas passavam em consultas, algumas saíam chorando, outras esfregando o braço depois de uma injeção. Jim quer ser médico. E digo quer porque ele ainda está vivo, eu sei que está. E ele ainda vai ser um grande médico e ajudar muitos. Eu sei que vai. Minha mente está vagando e depois de muito tempo observando tudo, eu apago. Pareço levantar a cabeça dos joelhos segundos depois, ouvindo uma voz grossa e rouca. Me deparo com um médico de uns 40 anos, com cara de cansado e jaleco amassado. Ele coloca os óculos, lê alguns papeis que estão na prancheta em suas mãos e se vira para Ommar.
— Pai e mãe de Jim Villen?
— Sim. -Ommar disse.
— Seu filho está bem agora. Ele tem uma perna quebrada e passou por uma cirurgia mas já está no quarto.
Depois de explicar o caso com palavras clínicas que não tenho a menor idéia do significado, os dois e depois de um tempo Pen, subiram para vê-lo. Eu achei que Matt e..ela iriam depois, mas ele disse que não queria subir. Então fui sozinha. Apertei o botão 5 do elevador e cheguei rápido. O quarto era simples, cinza, com colchas e cortinas bege. Jim estava deitado, mas abriu os olhos quando entrei.
— Ual, você está péssimo. -eu disse.
O rosto dele tinha hematomas roxos nas bochechas e ele tinha grandes olheiras. Além da perna quebrada, o gesso branco estendido sob a cama, ele tinha um curativo em seu ombro esquerdo e cabelos desgrenhados.
— Olha quem fala. Já viu o tamanho das suas olheiras!
Ele tentou rir, mas acho que mudou de idéia. Pareceu doer. Eu me lembrei do moletom cinza largo que eu estava usando e do rabo de cavalo com fios soltos para fora. Mas me senti culpada por estar pensando na opinião dele para com a minha aparência, principalmente com J ali naquela situação. Sentei do lado dele, na poltrona de couro azul, dura e fria. Ele estava tomando medicamentos na veia, mas não eram sedativos, então o ajudei a se sentar só um pouco, para conversarmos melhor.
— Kat, eu não vi absolutamente nada. Uma hora eu estava olhando para Penny e de repente tudo apagou.
"Eu me vi como num sono muito profundo, tudo preto assim, mas sem sentir nada. Parecia que não tinha passado tempo nenhum e uma dor horrível no meu peito me despertou (me contaram que foi quando me ressucitaram) e eu apaguei minutos depois, acordando só mais ou menos agora."
Depois de ouvir sua história, começamos a tirar sarro um do outro, disputando sobre quem estava pior e eu ri como nunca, é claro.
— Você tem uma perna quebrada! Um enorme gesso da sua coxa ao tornozelo! Não tem como estar pior!! -respondi a sua última ofensa rindo.
— É melhor do que sair aí parecendo que não tira o pijama ou toma banho a uma semana. E é melhor do que vir ao hospital por pura maldade, para fazer o amigo rir e suas fraturas doerem.
— Meu Deus, eu esqueci disso! É só que.. -parei, rindo mais.
Minhas mãos estavam pressionando minha barriga. Eu não me sentia bem assim a algum tempo. E é por isso que esse jovem lindo de cabelos pretos e olhos acinzentados acabou se tornando meu melhor amigo. Ele é o tipo de pessoa que consegue te fazer rir mesmo nos piores momentos, alguém que faz tudo pra te ajudar. E eu o amo e espero que nossa amizade cresça a cada dia mais. Começo a apertar a minha barriga, que está doendo de tanto rir, sinto minhas bochechas quentes e água nos olhos. Viro a cabeça para segurar na cama e vejo Matt.  Ele só está parado lá nos encarando. Meu sorriso se desfaz na hora e Jim também vira a cabeça para ver o que é. Levanto, as minhas pernas já meio dormentes. Dou um meio sorriso para J enquanto passo a mão pelo gesso.
— Vou deixar vocês a sós. Tentarei vir amanhã.
Ele pegou minha mão e apertou de leve, percebendo a tensão que acabara de se apoderar do quarto. Levantei, peguei minha blusa de frio e saí. Tive que olhar para Matt, não pude me controlar. Ele olhou sério, sem se mexer, enquanto eu passava do seu lado, encostando sem querer minha bolsa em sua barriga. Eu não esperava nada. Não mais. Essa semana inteira eu apenas pensei no que aquele beijo poderia ter significado e acho que realmente não foi nada. Foi um impulso, o calor da emoção, apenas. Todos esses pensamentos giravam dentro da minha cabeça enquanto eu ia embora. Sônia tinha pedido para eu esperar, que ela me levaria em casa, mas não queria ficar ali. Eu estava cansada e agora nervosa. A garota de top amarelo não estava mais na sala de espera quando passei por lá. Ela devia ter ido pegar algo para ele comer ou algo assim. PARE DE PENSAR NELE. Quando finalmente entrei no ônibus já era 7:00 da manhã. Passei a noite inteira no hospital e agora o sono bateu. Dormi o caminho todo e quase não acordei quando chegou minha hora de descer. Minha casa estava toda fechada e escura. Todos dormindo é claro. Deitei na cama com a mesma roupa que eu estava, nem mesmo tirei o sapato. Achei que ia desmaiar e dormir até o outro dia, mas meu celular tocou uma mensagem. Achei que podia ser algo relacionado a Jim então peguei e abri a mensagem. Eu não conhecia o número, mas a pessoa se identificava.
"Katrina, aqui é Matt. O que acha de ir a uma festa comigo amanhã?"
O que? Esse menino é louco. Como..?
"Que tipo de festa? E você não tem uma namorada?"
Mandei. E a resposta já veio na hora, o mesmo jeito grosso de sempre.
"Uma festa é uma festa. Não tenho namorada. Te busco ás 23:00."
Não respondi mais nada. Só deitei minha cabeça no travesseiro de novo, e quando finalmente consegui dormir, sonhei com olhos cinza e festas animadas.

I'm a messOnde histórias criam vida. Descubra agora