Chapter 6

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Kat
Por que ele nunca tira os olhos do chão? Porque ele veio pra cá apenas pra ficar com essa cara de ódio? A mesma cara que ele fez para mim quando nos esbarramos. Eu tentei ser simpática e até pedir desculpas, mas ele me encarou como se eu fosse patética e ficou calado. Aquilo me machucou mais do que deveria. Eu queria ajudá-lo de alguma maneira, mas ele nem olha na minha cara. Onde está aquele Matt que falou comigo na festa dos jovens? Ele parece ter sido abduzido. Esse jovem lindo que está entre nós é outro ser. Voltei quase correndo para a salinha onde estava todo mundo, fizemos uma oração e entramos. A cabeça dele estava abaixada e ficou assim até que o culto acabasse. Fizemos o gesto (confesso que errei em uma parte) mas não acho que alguém tenha percebido. Cantamos, e escutamos a voz de Deus. Foi um Congresso realmente abençoado, e uma pessoa aceitou Jesus. No final do culto, todos vieram falar comigo e com outros jovens, elogiavam, davam os parabéns, abraçavam e conversavam conosco durante bastante tempo. Sônia veio me abraçar.
— Parabéns, adoramos tudo! Vocês foram ótimas no gesto...
Julie, Pen e Mary estavam perto de mim.
— Obrigado mesmo! Fico feliz que tenha gostado...
Ela falou mais algumas coisas e depois se virou para cumprimentar outra pessoa. Vi que Jim estava se aproximando e acenei para ele.
— Oii! -ele me abraçou.
Sendo bem mais baixa do que ele, percebi que ele era extremamente cheiroso e sorri pra mim mesma. Tinha que apresentá-lo para quem tinha achado ele realmente bonito. Peguei no braço dele e o conduzi para onde estavam as meninas.
— Jim, essas são Julie, Pen e Mary, minhas melhores amigas mais chatas do mundo! -dei risada.
— Oi, prazer! -ele cumprimentou cada uma delas. — Parabéns pelo Congresso, ficou realmente bom. Mike também mandou os parabéns, ele teve que sair para encontrar Dani, a namorada dele.
Elas responderam, alegres e me lançaram olhares maliciosos do tipo que perguntavam "vocês dois estão juntos???". Eu ri comigo mesma, porque realmente não sentia NADA por Jim e tinha certeza de que ele também não. Já podia considerar ele um grande, senão meu melhor amigo. Sabia que podia contar tudo para aquele charmoso de cabelos pretos e olhos acinzentados. Fomos andando de braços dados até o portão, onde ele me deu um beijo na bochecha e andou até o carro de seus pais. Matt já estava lá dentro, e parecia encarar Jim mais profundamente do que o normal. Realmente estava cansada de tentar ser legal com ele. Ele parecia um daqueles casos perdidos e eu não queria saber de um desses na minha vida. De agora em diante, não vou me esforçar para nem ao menos falar com ele. Não pensarei nele, nem me preocuparei. Não tenho raiva dele, vou cumprimentá-lo, se ele conseguir olhar na minha cara em algum momento. Chega de Matt! Desintoxicação, já!!

Matt
Depois que fiquei uns 3 minutos parado igual um idiota, resolvi voltar para dentro da igreja e me sentar. Abaixei a cabeça, porque eu não queria olhar para ela. Eu não queria olhar para ninguém. Todos eles eram uns hipócritas, que olhavam qualquer um que fosse diferente, como se fosse de outra espécie. Nem sei porque eu vim para cá! Eu não queria, mas eles me irritam tanto que acabei vindo. Isso não vai acontecer de novo. Nunca mais eu vou colocar os pés nesse maldito lugar! Nunca mais vou ver essas pessoas, todos esse patéticos, chatos e irritantes que se acham donos da minha merda de vida e querem me mudar para "algo melhor". Não sei o que aconteceu no culto, porque realmente não prestei atenção. Minha cabeça ficou abaixada o tempo todo e quando o culto acabou, me levantei no mesmo instante e fui andando para fora. Tive que dar uma pequena olhada para trás, já que alguma criança estúpida tinha mexido no meu cabelo e a vi de novo. Droga, eu não queria vê-la. Ela estava sorrindo para várias pessoas que vinham cumprimentá-la e não parecia nada com aquela garota assustada, de olhos arregalados em quem esbarrei mais cedo. Ela parecia leve, descontraída e dava pra ver que todos ficavam encantados com ela. É claro que era bonita, não dava pra negar, mas era mais a simpatia, que atraís todos para onde ela estava. Como um campo gravitacional que... Mas que droga de pensamentos são esses? Essa igreja já está me fazendo mal! Me virei para ir para o carro, mas ouvi a voz dela chamando. Chamando Jim! Virei para trás de novo, e vi quando ele a abraçou e ela sorriu mais ainda. "Eles estavam tipo, juntos???". Eles falaram com umas outras meninas, acho que eram J, P e M (realmente não me importa os nomes) e depois saíram andando e conversando de braços dados, como um maldito casal. Andei rápido para dentro do carro e Jim entrou logo depois. Assim que ele fechou a porta, já soltei a voz.
—Você está tipo, namorando aquela garota?
Ela continuava olhando para cá, o que me dava nojo.
— Quem? Kat?? Claro que não, conheço ela a duas semanas!! Porque quer saber?
— Não quero saber de nada! Só que aquela é a garota mais patética, irritante e tediosa que já conheci. Devia ficar longe dela. -minha voz saiu menos descontraída do que planejei.
—Desde quando se importa com as garotas com quem falo, ou namoro? -ele sorriu como o merda que é.
Nem respondi. Coloquei meus fones e prometi mais uma vez, que nunca mais voltaria naquele lugar.

Julie
Abri a porta. Meu pai estava sentado no sofá. Prendi a respiração e a soltei, aliviada ao ver que pela primeira vez em muito tempo, ele estava sóbrio. Olhou para mim, os olhos pareciam cansados, mesmo ele sem trabalhar.
—Julie, como está linda!
—Obrigado pai, obrigado mesmo.
Tirei os saltos e saí andando descalça, para o meu quarto.
— Não quer sentar aqui, e assistir um pouco de televisão com seu velho pai?
— Na verdade não pai, não quero. -respondi em voz baixa.
Antes de fechar a porta e trancá-la, pude ver seu rosto magoado mas eu simplesmente não podia ficar tão perto dele. Desfiz meu coque, tirei o vestido e coloquei meu pijama verde de bolinhas extremamente confortável. Deitei na cama, totalmente exausta, mas muito feliz. Parecia que Kat estava com Jim, e eu ficava feliz, já que desde o incidente quando tinha 15 anos, ela não abrira seu coração para ninguém. Fiz uma oração rápida, fechei meus olhos e dormi.

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